Ivan Valente grita “truco!” na orelha de Aldo Rebelo


Truco! Seis! Nove! Doze?
Os ruralistas, Aldo Rebelo (PC do B-SP) à frente, haviam convocado os financiadores da SOS Mata Atlântica, como Coca-Cola, Unilever e Bradesco, para deporem na Comissão de Meio Ambiente. Como a entidade havia proposto a criação de uma lista de parlamentaresexterminadores do futuro por suas ações contra o desenvolvimento sustentável, buscou-se uma forma de intimidação pública.
Através de requerimento do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), foi aprovada ontem, na Comissão Especial do Código Florestal, convocação para ouvir as multinacionais que financiam a bancada ruralista. De acordo com a assessoria de Valente, Aldo (que teve a campanha irrigada por grandes empresas como a Votorantim e a Caemi/Vale) propôs a retirada do requerimento sobre a SOS Mata Atlântica assim que viu o que estava para acontecer. Mas, pelo menos dessa vez, o Congresso ficou sem ver uma negociata, uma vez que o deputado do Psol se recusou a retirar o pedido. Os dois requerimentos foram a votação e acabaram aprovados. Tem gente que vai sentir o gosto amargo do próprio veneno.
“Os mesmos que defendem tais mudanças na legislação ambiental são aqueles que foram contra a Lei dos Crimes Ambientais. São os mesmos que, além de defenderem quem sistematicamente descumpre a lei ambiental – como recomendou a senadora Kátia Abreu –, fazem lobby pesado junto ao governo pelo adiamento constante da entrada em vigor do decreto que determina a recuperação da reserva legal, aplicando sanções a proprietários que desmataram mais do que o permitido”, afirmou Ivan Valente em nota. Para ele, é preciso deixar claro que interesses estão por trás da atuação desses parlamentares.
Como já disse aqui anteriormente, fala-se de interesses externos de olho no solo e no subsolo da Amazônia. Culpa-se as ONGs estrangeiras que atuam aqui por isso. O problema é que parte da sociedade, parlamentares incluídos, trata disso como se o monopólio da canalhice residisse no terceiro setor, ignorando o que é feito por certas empresas e representantes do Estado. Parlamentares raramente falam sobre a degradação ambiental, social, trabalhista causada por grupos estrangeiros e nacionais que têm interesse no tipo de “progresso” a qualquer custo. A Amazônia, o Cerrado e o Pantanal já estão internacionalizados. E não é de agora. A discussão travada hoje não é pelo acesso aos recursos e sim pelo espólio.
As convocações foram feitas. Quem não tem cartas na mão e está apenas blefando que se cuide. Quem sai ganhando com tudo isso? A sociedade, que vai receber um banho de transparência.

Aldo Rebelo disputa cadeira da ruralista Kátia Abreu como vice do candidato José Serra

A bancada ruralista na Câmara reagiu ontem ao lançamento da campanha “Exterminadores do Futuro”, criada pelos ambientalistas identificar os principais líderes do movimento de alteração das leis ambientais do país na tentativa de retardar a tramitação de propostas de mudança no Código Florestal Brasileiro.
A reportagem é de Mauro Zanatta e publicada pelo jornal Valor, 24-03-2010.
A Frente Parlamentar Nacionalista, composta em sua maioria por ruralistas, ameaçou iniciar um boicote a produtos de empresas patrocinadoras de ONGs ambientalistas. “Se querem nos intimidar, estamos para aqui reagir. Se não sabem dialogar, certamente o Bradesco saberá”, disse o coordenador do movimento suprapartidário, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Relator da comissão especial de reforma do Código Florestal, ele sugere que a pressão comece pelos produtores rurais. “As cooperativas podem sugerir aos seus produtores que fechem suas contas no Bradesco”, afirmou, em referência à parceria mantida pelo banco e a Fundação SOS Mata Atlântica, a ONG que lidera a campanha para identificar os “exterminadores” ruralistas.
No mesmo tom usado pelas ONGs para constranger os ruralistas, a nova Frente Nacionalista lançou o “Prêmio Joaquim Silvério dos Reis”, sugerindo uma ligação entre o delator do movimento patriótico Inconfidência Mineira e as motivações políticas de ONGs ambientalistas que atuariam em favor de interesses estrangeiros. “Vamos dar essa medalha a quem tiver interesse em prejudicar o Brasil”, disse Rebelo. “Quem patrocina essas ONGs são a Volkswagen, a Coca Cola, a Colgate-Palmolive, estimuladas pelos chiques e famosos de São Paulo”. O deputado Sarney Filho (PV-MA) foi apontado como principal articulador parlamentar do movimento. Procurado pela reportagem, ele não foi localizado ontem.
Os ruralistas acusam uma tentativa de intimidação por parte dos ambientalistas às vésperas das eleições de outubro. “É uma campanha difamatória, claramente intimidatória”, disse o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), presidente da comissão especial do Código.
Parceira do Bradesco na emissão de 200 mil cartões de crédito e 2 milhões de títulos de capitalização, a SOS Mata Atlântica afirma que os parlamentares estão “trilhando um caminho perigoso” ao tentar rotular as ONGs como inimigas do setor rural. “Estão apelando, é um caminho perigoso porque tem deputados patrocinados pelas empresas do Klabin”, afirmou o diretor de Políticas Públicas, Mario Mantovani, em alusão ao grupo produtor de papel, celulose e embalagens do presidente da organização, Roberto Klabin. “Sabíamos que era um ano eleitoral e que viria a reação. O Bradesco é um parceirão de 20 anos, mas não temos patrocínio deles. Trabalhamos com direitos difusos e eles com interesses específicos”.
Os ambientalistas afirmam que a reação dos ruralistas é “desproposital, descabida” porque a lista dos parlamentares ainda não está concluída. “Não queremos encrenca nem briga. Não tem lista, foi só uma indicação. Eles ainda serão informados antes do fim do processo. Não somos irresponsáveis”, disse Mantovani. “É uma reação muito maior do que a nossa ação, desproposital, descabida. Essa campanha pode ser um fiasco, está mais na mão deles”.
O diretor da SOS Mata Atlântica afirmou que os deputados ruralistas romperam acordos firmados antes do início da tramitação da proposta de um novo Código Florestal. ” Quem rompeu os debates foi uma parte dos ruralistas. Por isso, deixamos de ir a debates. Não vamos legitimar isso”, afirmou Mantovani. O diálogo ficou insustentável, segundo ele, porque o projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), que prevê a criação do Código Ambiental, acabaria com as principais regras e instituições ambientais do país. “O Colatto quer acabar com o Conama, o Sisnama e as unidades de conservação”, disse Mario Mantovani, em referência ao colegiado de representação paritária e o sistema nacional que decide as regras ambientais brasileiras.
(Ecodebate, 25/03/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Rio Salitre (Bacia do São Francisco)


Foto do Rio Salitre morto após um dos 35 barramentos.

O Rio Salitre que fica localizado na porção norte da Bahia e nasce na localidade conhecida como “Boca da Madeira” em plena Chapada Norte (Diamantina), no município de Morro do Chapéu-BA, e tem o seu exultório exorreico  no Velho Chico (Rio São Francisco), em Campos dos Cavalos, município de Juazeiro-BA, a jusante da Barragem de Sobradinho.
Sua história às vezes se confunde com a história do Brasil e em especial a história da Bahia. O historiador Paulo Ormindo de Azevedo faz a seguinte narração: “Em 1675, após um levante de indígenas na região do Rio Salitre, quando foram assassinados muitos feitores e vaqueiros e dizimados grande parte do rebanho, o governador Afonso Furtado de Mendonça encarrega Francisco Dias d’Ávila II de organizar uma expedição punitiva contra os 800 índios rebelados. A Campanha do Salitre foi um dos episódios mais sangrentos da nossa história. Mesmo cruzando o São Francisco em direção a Pernambuco e Piauí, os índios foram sitiados, sendo os homens executados e as mulheres e crianças escravizadas”.
O governo da Bahia em 1995, antecipando-se dois anos à criação da Lei Nº 9.433/97 cria a sua política estadual de recursos hídricos editando a Lei Nº 6.866. Um dos fundamentos da lei federal é a adoção de um modelo descentralizado e participativo da “Gestão das Águas” com a participação da sociedade nas tomadas de decisão, enquanto que a lei da Bahia não tinha este modelo proposto.
Defino a lei federal 9.433/97 como uma das leis neoliberalistas que veio criar condições de transformar a água em “comódites” e de propor uma falsa participação social nas tomadas das decisões.
Se fizermos hoje uma avaliação nos CBHs – Comitês de Bacias Hidrográficas é cada vez menor o poder da sociedade civil em suas deliberações pelos seguintes motivos:
a)      Falta de capacitação dos representantes da sociedade civil por parte dos SRHs – Secretarias de Recursos Hídricos;
b)      Renovação dos representantes em dois em dois anos, enquanto os representantes do poder público têm praticamente suas vagas garantidas;
c)      Falsa representatividade da sociedade civil organizada, que representam apenas uma parte de seus associados e do povo que vive em uma bacia.
 Assim por estas situações vividas no Sistema Hídrico Baiano o Rio Salitre que é afluente do Rio São Francisco está morto, foram construídos 35 barramentos sem nenhum critério técnico e hidrológico em seu pequeno curso de 333,24 Km, além de captação de suas águas para irrigação sem nenhum controle, mineração em seu leito e APP – Área de Preservação Permanente, impermeabilização do seu leito por resíduos de mármore e lançamentos de efluentes domésticos sem nenhum tratamento.
A maioria das nove cidades que compõem a Bacia: Morro do Chapéu, Várzea Nova, Miguel Calmon, Ourolândia, Umburanas, Jacobina, Mirangaba, Campo Formoso e Juazeiro vivem problemas sérios de falta d’água, umas são abastecidas com água “tratada” por dessalinizadores e em todas ainda neste período PRÉ-PAC e suposta revitalização do São Francisco e seus afluentes o “carro pipa” com a logomarca do Exército Brasileiro e o MI – Ministério de Integração é o maior catalisador de voto para os seus representantes.
No dia 01 de fevereiro de 2010 o Comitê de Bacia juntamente com o INGÁ – Instituto de Gestão das Águas e Clima, ex SRH – Secretaria de Recursos Hídricos e a empresa que venceu a licitação, assinaram o contrato para Consultoria de Elaboração do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Salitre no valor de R$ 1.213.996,30 (Um milhão, duzentos e treze mil, novecentos e noventa e seis reais e trinta centavos), que elencará toda a problemática da Bacia.
Este é o primeiro Plano de Bacia de um Rio baiano, mas você acha que uma região com 14.136 Km2 que vem sendo na acepção da palavra “explorada” desde 1675 com a introdução do gado no semiárido e com este modelo de governo desenvolvimentista a simples contratação de Consultoria de Elaboração do Plano de Bacia vai resolver os nossos problemas?

Almacks Luiz Silva
Gestor Ambiental, membro do MPA – BRASIL e presidente do CBHS – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, membro do CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos e membro da CTAI – Câmara Técnica de Articulação Institucional do CBHS – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre

São as Águas de Março - Dez anos da ASA.

Roberto Malvezzi (Gogó)
Enquanto as obras da transposição do São Francisco avançam, pondo em evidência suas contradições, a Articulação no Semi-árido Brasileiro (ASA), completa dez anos. De 22 a 26 acontecerá o ENCONASA (Encontro Nacional da ASA), em Juazeiro, Bahia.
A ASA trouxe para o cenário nordestino o que alguns estudiosos, inclusive Celso Furtado, já indicaram há muitos anos atrás. É possível “conviver com o clima semi-árido”. E o próprio Celso Furtado, na criação da SUDENE em 1959, já dizia que “as populações mais vulneráveis ao clima eram as dispersas pelo sertão nordestino”. Portanto, ele sabia que o industrial, fazendeiro, pessoas de posse, não sofriam os impactos do clima, porque tinham condição de enfrentá-lo adequadamente.
O que a ASA fez, numa articulação de aproximadamente setecentas entidades, foi pôr em prática - com uma série de tecnologias apropriadas à região, acompanhado por um trabalho educacional -, a lógica de convivência com a região e não de combate à seca. Promoveu dois programas básicos que vão à raiz do problema fundamental dessas populações, isto é, a fome e a sede.
O programa P1MC (Projeto um milhão de cisternas) e P1+2 (Projeto uma terra e duas águas) tem por foco exatamente abastecer essas populações com segurança hídrica e segurança alimentar. As tecnologias de captação de água de chuva, tanto para beber como para pequenos cultivos ou para dessedentar pequenos animais, tem dado um resultado fantástico, mesmo estando longe de serem concluídos. Hoje, segundo dados oficiais, foram construídas aproximadamente 340 mil cisternas para abastecimento humano e outras para cultivar pequenas hortas ou dessedentar animais. O impacto na melhoria da saúde dessas populações, no alívio do trabalho feminino de buscar água, como uma certa estabilidade hídrica – tão simples! – fez com que não ouvíssemos mais falar em “saques, migrações intensas, frentes de emergência”, realidades tão tenebrosas até poucos anos atrás. A positividade dessas tecnologias foi testada e comprovada inclusive pela FIOCRUZ.
Para uma real convivência com o semi-árido seria ainda necessário implementar as adutoras para os centros urbanos, como prevê o Atlas do Nordeste da Agência Nacional de Águas (ANA) e fazer uma reforma agrária adequada ao semi-árido. Porém, o governo Lula priorizou a Transposição de Águas do São Francisco, também retirou poder da sociedade civil – dois projetos citados – para redirecioná-los para prefeituras e governadores. Essa deveria ser a lógica, se não houvesse a indústria da seca até hoje.
Entretanto, há que se caminhar em frente. Diante de novos desafios, como a mudança climática, o “ovo de Colombo” da região semi-árida já foi posto de pé. Apesar de muitas falhas, a ASA tem feito história e tem muito a comemorar, juntamente com cerca de 1,5 milhões de pessoas da região beneficiadas por esse trabalho. 

MINISTÉRIO PÚBLICO REALIZOU AUDIÊNCIA SOBRE A MINERADORA YAMANA EM JACOBINA

O Ministério Público estadual determinou um prazo de trintas dias para que a SSMAC – Jacobina Mineração e Comércio (Yamana Gold) assine um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para compensação por danos ambientais ao município. Em audiência pública realizada na noite de quarta-feira (17), na Associação Comercial e Industrial de Jacobina (Acija), cerca de 120 moradores das comunidades de Canavieiras, Itapicuru e Jabuticaba, localizadas nos arredores da atividade de extração de ouro, discutiram com representantes da empresa mineradora e da Embasa sobre os problemas e apresentaram sugestões para minimização das questões. Durante a audiência, o representante das comunidades, Almacks Silva, apresentou propostas para garantir que as comunidades tenham atendimento médico e dentário gratuito; reforço escolar e merenda para os alunos; estabelecimento de uma cota de 5% no quadro de funcionários e trabalhadores terceirizados da empresa mineradora; e que seja assumida a responsabilidade do pagamento junto à Embasa de 80% do valor das contas de consumo de água, no limite de 30 metros cúbicos. Almacks Silva destacou também que o ar, a água e o solo são extremamente afetados pelo trabalho de extração do mineral, chamando atenção para o ponto crítico ligado ao cianeto, substância química que é rejeitada na extração do ouro e despejada pela empresa de mineração nos córregos da região, trazendo como consequências à saúde da população doenças como silicose, diarréia, além de infecções respiratórias.


Sob o olhar atento de uma platéia composta por representantes de dezenas de movimentos sociais e associações de moradores do entorno da mina, o líder comunitário Almacks Luiz discursa, amparado por uma apresentação em slide, com dados científicos que comprovam os danos que a Yamana Gold vem provocando à população de Jacobina. Estiveram presentes à Audiência Pública, representantes do Sindicato dos Mineiros, Movimento de Mulheres de Jacobina, Território do Piemonte da Diamantina, Associação de Moradores da Canavieira, uma das localidades mais atingidas pelos resíduos industriais, Associação Atabaque, Associação de Moradores do bairro do Peru, Associação do Bairro da Bananeira, vereador Carlos Mota (PT), APLB/Sindicato. O trabalho de alto nível apresentado na audiência, comprovou o grau de organização das entidades sociais e a evolução do povo jacobinense, na defesa do seu mais caro bem: A VIDA.



Cerca de 150 pessoas participaram da Audiência Pública convocada pelo Ministério Público para discutir questões ambientais e sociais que afetam três comunidades





Compuseram a mesa da Audiência Pública promovida na ACIJA, à partir da esquerda: Luiz Fregadolli, Gerente da Yamana; Gleriston Macedo, Secretário Municipal de Meio Ambiente, Arnor Fernandes, Gerente Escritório Regional da Embasa, Andrea Scaff, Promotora do Meio Ambiente, Almacks Luiz, líder comunitário, Roberto Jacobina, Presidente da ACIJA.


Publicado por: http://www.jacobinanoticia.com.br/ e http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=53728&mdl=50


O Rio São Francisco evapora*

Luciana Sgarbi 

"A água doce é um recurso vital e a tendência de queda é motivo de preocupação." Foi com essa frase que um dos mais conceituados cientistas do mundo, o chinês Aiguo Daí, coordenador do estudo que reuniu especialistas americanos do National Center for Atmospheric Research (NCAR), anunciou os resultados da mais completa e extensa pesquisa sobre a redução do volume de 925 rios do planeta. Segundo o pesquisador Daí, o rio São Francisco, o nosso "Velho Chico", é o que amargou o maior declínio nos últimos 50 anos em território brasileiro - 35% dele secou, 
o que o coloca ao lado da delicada situação de outros grandes rios, sobretudo nos EUA, África e Ásia. Saber que o São Francisco está evaporando é preocupante para o Brasil. 

Ele é, na verdade, um rio de integração nacional, traduzindo-se em uma espécie de "caminho natural" de ligação das regiões Sudeste e Centro-Oeste à região Nordeste. Desde as suas nascentes, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a sua foz, na divisa entre Sergipe e Alagoas, ele percorre 2,7 mil quilômetros. Ao longo de sua "jornada", banha cinco Estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. 

Apesar de receber água de 168 afluentes, o "Velho Chico", descoberto em 1502, está sendo derrotado por um gigantesco fenômeno climático. Trata-se do "El Niño", que aquece também as águas do Pacífico. 

Os cientistas copilaram dados dos maiores rios do mundo abrangendo o longo período que se estende de 1948 a 2004 e concluíram que diversos deles, que atravessam algumas das regiões mais populosas, estão perdendo água. De acordo com os pesquisadores, o fluxo na bacia do Amazonas caiu 3,1%, enquanto outros rios brasileiros apresentaram números completamente opostos, até com elevação de nível na vazão. 

No rio Paraná, por exemplo, houve um aumento da ordem de 60%. "Buscamos entender o caso do São Francisco, sobretudo porque a existência de resultados tão diferentes em um mesmo território não é comum", diz Daí. "A variação está relacionada principalmente a mudanças na quantidade de chuvas nas regiões das bacias. Seguindo essa linha de raciocínio, torna-se impossível não pensarmos no El Niño." Esse fenômeno meteorológico consiste em um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, afetando o clima do planeta em geral e, mais duramente, o de determinadas regiões específicas. 

No estudo americano consta que durante o período em que o São Francisco foi analisado a região de sua bacia apresentou uma leve queda nos níveis de precipitações e um grande aumento de temperatura. "Esses dois fatores contribuíram para o grande declínio e escoamento do rio. É uma lei elementar da natureza: o aumento da temperatura eleva a evaporação e assim acaba reduzindo o fluxo da água", diz o coordenador do projeto de 
análise do NCAR. 

*Na mesma situação de esvaziamento do São Francisco estão outros rios como o Amarelo, na China, o Niger, na África, e o Colorado, nos EUA* - e todos abastecem áreas populosas. *Um dos casos mais graves é justamente o do Colorado, que mesmo em anos de muita chuva já não consegue se recuperar enquanto deságua no Mar de Cortez. Ali o problema tem duas "nascentes": a evaporação causada pelo "El Niño" e a transposição. O desvio das águas do Colorado para abastecer a agricultura acabou poluindo e desperdiçando grande parte do fluxo. Para revitalizá-lo, diversos projetos foram desenvolvidos com a finalidade de despoluí-lo e nele aumentar a biodiversidade aquática, que sofreu intensa alteração ambiental devido à construção de hidrelétricas. No Brasil, a transposição do rio São Francisco sempre tem gerado polêmica. * 

*O projeto é da competência do governo federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, e está orçado em aproximadamente R$ 4,5 bilhões. Serão dois canais totalizando 700 quilômetros de extensão e que, segundo o governo, estão destinados a assegurar oferta de água em 2025 a quase 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semiárida dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. * 

*As críticas sobre o projeto recaem no fato de ele ser uma obra cara e que abrange somente 5% do território e 0,3% da população do semiárido brasileiro. Finalmente, diversos ambientalistas ressaltam também que a transposição poderá afetar intensamente o ecossistema ao redor de todo o São Francisco. Sobre um ponto, no entanto, não resta dúvida: alguma providência tem de ser tomada sobre um rio vital na união de regiões do País e que já perdeu 35% de sua água.*

EM NOME DA “GOVERNABILIDADE” MATAM-SE OS RIOS DE SALVADOR

            Se você for usar um dia para visitar as igrejas (católicas) de Salvador, precisarão exatamente um ano, 365 dias para visitar todas elas. E mais ou menos seria este mesmo ritual para conhecer os pequenos Rios que chegavam à Baia de Todos os Santos, uma das maiores do mundo.
            Pelo Plano Nacional de Recursos Hídricos, a Bahia está inserida em duas regiões hidrográficas: a do Atlântico Leste e a do Rio São Francisco. Na década de 90, para fins de gestão dos recursos hídricos, a Bahia tinha apenas 13 regiões, em 2005 foram ampliadas para 17 e agora em 2009 a ex SRH hoje INGÁ – Instituto das Águas e Climas ampliou para 26 RPGAs – Regiões de Planejamento de Gestão das Águas.
            Especificamente vamos tratar da RPGA XI, do Recôncavo Norte que é a Bacia Hidrográfica a que a nossa capital pertence. Na primeira gestão do prefeito João Henrique Barradas Carneiro (PMDB), em 2008 quando era aliado do Governador do Estado Jaques Wagner (PT), silenciosamente mataram o Rio dos Seixos que corria normalmente e era conhecido pela maioria dos soteropolitanos apenas como “Canal da Centenário”, em referência à avenida do mesmo nome.
            Com a ocupação desordenada do solo e sem a preservação das APPs – Área de Preservação Permanente este canal perdeu a qualidade de rio e passou a ser esgoto a céu aberto, exalando um cheiro fortíssimo de gás de pântano. Como fica em uma das áreas imobiliárias mais caras da Bahia (Bairro da Barra), os “in-gestores” municipal e estadual resolveram fazerem o tamponamento do canal transformando-o em uma área de laser. Jogaram o lixo (efluente) em baixo do tapete e o grande "esgotão" que corria a céu aberto na Avenida Centenário chega ao mar sem tratamento. É mais fácil matar um Rio do que tratá-lo.
            Esta obra é um dos questionamentos do Ministério Pública da Bahia na 1ª Vara Federal que pede a retirada da cobertura do Rio, e pede medidas para tratamento daquele corpo d’água.

Vista do Canal da Centenário - antes
Vista do Canal da Centenário - Hoje

            A lei federal de Recursos Hídricos 9.433/97 e a lei estadual 11.612/09, diz claramente que “outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de águanecessita de Outorga do Órgão Gestor, que na Bahia é fornecida pelo INGÁ – Instituto de Gestão das Águas e Clima (http://www.inga.ba.gov.br/modules/news/article.php?storyid=863), mas como nessa época estes “in-gestores” eram “companheiros” foi uma farra a inauguração do tamponamento do “Canal da Centenário”. Festejaram no mesmo palanque o grave crime ambiental.
            Quando é cometido um crime ambiental e não tem punição, principalmente quando une gato e rato para atacar o cozinheiro (meio ambiente), geralmente procuram cometer outro de proporção maior. Mas como digo no título deste artigo, a tal governabilidade ficou mais frágil, aconteceu o rompimento entre o Governador que é do PT e o prefeito que é do PMDB que por sua vez apoia o ministro da Integração Geddel Viera Lima. Para que cada qual ocupe o seu “quadrado”, como diz  uma das “melôs” da Bahia, resolveram fazer também o tamponamento do Canal do Imbui, que é formado pelos seguintes rios: Saboeiro, Rio das Pedras, Cascão e Baixo Pituaçu que tem o seu exultório na Praia dos Artistas, no bairro da Boca do Rio, obra que foi orçada, aprovada e atualmente em fase de conclusão no valor de R$ 57,5 milhão.
            Hoje somos testemunhas oculares dos grandes alagamentos na capital paulista, o que é resultado inequívoco deste tipo de obra em mais de 40 canais da cidade. Salvador tem uma especificidade maior quanto ao Canal do Imbui, porque com a canalização, a drenagem muda completamente a hidráulica do Rio e com certeza a cunha salina da Praia dos Artistas poderá influenciar negativamente e interromper o ciclo natural de reprodução de toda equitiofauna daquele berçário natural.
Canal do Imbui - antes


Canal do Imbui - Estágio final das obras

            Além do tamponamento dos Canais da Centenário e do Imbui, estão previstos e aprovadas pelos “in-gestores”, verbas para o mesmo procedimento em dois outros canais da cidade: Canal do Vale do Canela orçado em R$ 6,6 milhão e o Canal da Vasco da Gama no valor de R$ 57,3 milhão.
            Tecnicamente o Dr. Carlos E. M. Tucci em um de seus artigos sobre drenagem urbana diz que: “O ciclo hidrológico sofre fortes alterações nas áreas urbanas devido, principalmente, à alteração da superfície e a canalização do escoamento, aumento de poluição devido à contaminação do ar, das superfícies urbanas e do material sólido disposto pela população. Esse processo apresenta grave impacto nos países em desenvolvimento, onde a urbanização e as obras de drenagem são realizadas de forma totalmente insustentável, abandonada pelos países desenvolvidos já há trinta anos. A política existente de desenvolvimento e controle dos impactos quantitativos na drenagem se baseia no conceito de escoar a água precipitada o mais rápido possível. Este princípio foi abandonado nos países desenvolvidos no início da década de 1970. A conseqüência imediata dos projetos baseados neste conceito é o aumento das inundações a jusante devido à canalização”, que é o que vem acontecendo no “Bate Facho” (favela a jusante do Imbui), que já sofreu três grandes alagamentos após o início das obras do Canal do Imbui.   
            Parafraseando o ilustre político baiano Otávio Mangabeira que disse “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”, é que citamos o IGAM – Instituto Mineiro de Gestão das Águas que em 2003, juntamente com a organização não governamental da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (Projeto Manuelzão) elaborou um plano de revitalização para o Rio das Velhas que tem como afluente o Arrudas que corta a capital mineira, no valor de R$ 1,3 bilhão para que, em 10 anos de ação e de educação ambiental, em 2013 se possa pescar no Rio Arrudas.
            Quem bom seria que, se em 2008, quando foi alterado o nome do Órgão Gestor da Bahia de SRH – Superintendência de Recursos Hídricos para INGÁ – Instituto de Gestão das Águas e Climas tivessem também teclado um “CTRL C” e em seguida um “CTRL V” nesta idéia revitalizadora do IGAM – Instituto Mineiro de Gestão das Águas para podermos também pescar nos rios urbanos de Salvador.
            Wagner garante: Obra do Imbui não será embargada (http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2010/02/26/Bahia/Wagner_garante_obra_do_Imbui_nao_.shtml)
Almacks Luiz Silva é Gestor Ambiental, membro do MPA-BRASIL, presidente do CBH Salitre, membro titular da CTAI – Câmara Técnica de Assuntos Institucionais do CBH São Francisco, membro suplente da CTPLANO – Câmara Técnica de Planos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, representando o FONASC-CBH – Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas.

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