Roberto Malvezzi (Gogó)
Quando visitei grupos da solidariedade internacional na Alemanha, pela Misereor, levei um monte de material sobre o São Francisco. Como eu sabia que haveria também trabalhos em escolas, inclusive com crianças, levei também fotografias.
Um dia me coube falar com crianças do primário, acho que do primeiro ano. Fiquei imaginando o que fazer durante uma hora com os alemãezinhos. Então levei uma seqüência de fotos.
Funcionou. Quando mostrei a cachoeira da Casca D’Antas, o cânion do São Francisco, a foz, a reação foi unânime: ôoooooo.......
Então, entre as fotos de peixes, estava também uma piranha. Quando falei que aquele peixe era uma piranha, a reunião acabou.
Uma pergunta sobre a outra, eu não sabia que o peixe era tão famoso e, pelo jeito, eu estava diante da platéia mais informada do mundo sobre as piranhas. Depois de mais de meia hora de perguntas – sem exagero -, um menino perguntou: “é verdade que elas comem até os sapatos da gente?”
Depois consegui falar um pouco do peixe, de seus costumes, que só ataca quando está encurralado, que em águas abertas não ataca pessoas, que seu hábito alimentar é comer outros peixes, que faz ninho para se reproduzir, que no São Francisco uma piranha pode chegar a cinco quilos, que eu também era um pescador de piranha, que eu já vira pessoas comidas de piranhas, que tem muitos jeitos de pescar piranhas, que a moqueca de piranha é muito saborosa, enfim, consegui sossegar um pouco a curiosidade da garotada. Foi a palestra mais animada que fiz em todos aqueles dias.
Hoje o São Francisco está com o volume de água mais baixo medido em 70 anos. Na cidade de Barra, nesse dia de São Francisco, quatro de Outubro, um dia após as eleições, pela primeira vez não haverá a procissão fluvial, simplesmente porque não há água para os barcos navegarem. Todos os grandes projetos de extração de mais água do Velho Chico continuam em andamento.
As piranhas perigosas do São Francisco são outras e, por favor, não confundam com as prostitutas.
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