Gás Natural na Bacia do Rio São Francisco

As pesquisas para confirmação de jazidas de gás natural na Bacia do Rio São Francisco em Minas Gerais, estimadas em um trilhão de metros cúbicos, está sendo coroada por mais um importante avanço. Prevista ainda para a primeira quizena do mês de setembro a conclusão da perfuração do primeiro poço em Morada Nova de Minas, distante 280 quilômetros de Belo Horizonte, poderá confirmar a ocorrência do combustível em condições de exploração economicamente viáveis. O consórcio responsável pelo empreendimento, é formado pelas Companhias Orteng, Codemig, Delp Engenharia e Imetame Energia. 

O Gás poderá ser a redenção econômica do município e fonte de energia para o País, mas Morada Nova de Minas vive também a expectativa de se tornar o grande Polo Turístico da região. Circundada pelo Rio São Francisco e agraciada por belezas naturais, A TERRA DO GÁS NATURAL NÃO TEM LIGAÇÃO ASFÁLTICA À BR0-40, o que se torna um obstáculo para a implantação e exploração do turismo ecológico. Para superar esse obstáculo, está sendo realizada por moradores e conterrâneos do município a CAMPANHA ASFALTO JÁ, que tem como objetivo o asfaltamento da MG-415, no trecho que liga a cidade à BR-040. São apenas 38 Km de estrada. 

Todos podem participar da Campanha MG-415 Asfalto Já, através do endereço: www.moradanovamg.com

Água do rio São Francisco será a mais cara do país

Matéria retirada do site UOL de 22/11/2010:

Da torneira do nordestino atendido pela transposição do rio São Francisco vai pingar a água mais cara do país. O Conselho Gestor do Projeto de Integração do São Francisco avalia cobrar dos Estados atendidos pela obra R$ 0,13 por mil litros de água. O dinheiro será recolhido pela Agnes, estatal em gestação na Casa Civil. A empresa vai gerenciar as operações da transposição do rio e a distribuição da água para as previstas 12 milhões de pessoas beneficiadas. O preço médio cobrado em outras bacias hidrográficas pelo uso da água é de R$ 0,01 a R$ 0,02 por mil litros. A Sabesp, por exemplo, paga R$ 0,015 ao comitê gestor da bacia do rio Piracicaba, fonte de metade da água consumida na cidade de São Paulo. 
COMPLEXIDADE 
O valor mais elevado, afirma o governo, se deve à complexidade do projeto de transposição e ainda porque a Agnes será a responsável pela captação e pelo bombeamento da água. No entanto, os quatro Estados envolvidos (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará) terão de investir em obras internas para dar capilaridade à rede de água e ainda precisarão pagar uma taxa fixa à Agnes, provavelmente mensal. Em construção, os canais para a transposição do rio São Francisco têm 25 metros de largura, 5 metros de profundidade e 622 quilômetros de extensão, somando os dois eixos. O porte das obras e os obstáculos naturais, como a Serra da Borborema, que vai de Alagoas ao Rio Grande do Norte, explicaria o alto custo de transportar a água no semiárido nordestino. Para isso, serão necessários potentes mecanismos de bombeamento. 
SUBSÍDIO 
O governo não diz se haverá mecanismo para amortizar o custo do consumidor final nos quatros Estados. Em teoria, as obras do São Francisco têm um foco prioritário, que são os pequenos agricultores das terras secas do sertão e do agreste nordestinos. O Ministério da Integração, responsável pelo empreendimento, afirma que o assunto está em fase de análise e de debates com os Estados receptores. Para que o projeto seja viável, é possível que os Estados promovam subsídios cruzados, aumentando as tarifas de grandes centros urbanos que não receberão as águas da transposição do Velho Chico, como Recife. A Agnes terá de apresentar um relatório de custos, explicando os motivos para o elevado preço da água. Essa tarifa deverá cobrir os gastos do sistema de transposição em funcionamento, nem mais nem menos. "Temos de avaliar a planilha de custos da agência para saber se o preço está certo. A tarifa deve cobrir os custos de manutenção e operação do sistema", diz Patrick Thomás, gerente de cobrança pelo uso da água da Ana (Agência Nacional de Águas). Um dos maiores críticos do projeto, o pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, acha difícil que o agricultor das áreas atendidas pela transposição consiga pagar essa conta. "Os colonos do Vale do São Francisco hoje já estão com dificuldades para pagar por uma água a R$ 0,02. Imagine com esse preço", afirma o Suassuna. Mas o pesquisador vê outro problema. O porte das obras e o volume de água deixam patente que o propósito da transposição não é matar a sede e a fome de quem vive na seca. A mira, afirma, está no agronegócio para exportação, a criação de camarão e o abastecimento de indústrias. 

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - Sou negro

O cinema já imortalizou esta cena. Zumbi dos Palmares, resistindo até o último momento, no alto da Serra da Barriga, comandando mais de 50 mil almas, preferindo a morte digna que a rendição. Não sem razão que esta passou a ser a principal figura do panteão de heróis do povo negro. E haveria de ter muitos e tantos, sem nome ou rosto, que enfrentaram a escravidão nestas terras tropicais, trazidos, como bichos, nos navios negreiros ingleses, sustentando a economia daquele país que viria a ser um império.


Pois foi com os braços de homens e mulheres negros que os lordes garantiram a revolução industrial e a consolidação do sistema capitalista. Só o braço escravo, já bem contou Eric Williams, daria conta da colonização baseada na monocultura extensiva. Mas essa gente valente, que foi sequestrada de suas terras, nunca se rendeu. A liberdade era seu horizonte e tão logo escapavam das correntes criavam quilombos, comunidades livres, solidárias, autogestionadas. A maior delas: Palmares. E é em honra a esse povo, com Zumbi à frente, que no dia 20 de novembro, se celebra o Dia da Consciência Negra.

A data não é uma lembrança ritual de um tempo que já passou. Ela é a ferida aberta de uma sociedade que segue vivenciando os pressupostos do tempo da escravidão, mergulhada no racismo e na discriminação. Basta ver o que aconteceu agora, no período eleitoral, com as manifestações raivosas contra os nordestinos. Por isso que é preciso lembrar, e lembrar, e lembrar o que resultou de todo o processo escravista nestas terras brasilis.


Desde quando os portugueses decidiram apostar na mão-de-obra escrava aqui, nas novas terras, foi necessário consolidar uma ideologia que respaldasse o absurdo. Era mais do que óbvio que a elite colonial não haveria de espalhar aos quatro cantos que esta era uma medida "econômica" necessária para garantir seus lucros. O melhor foi então criar a idéia de que os negros eram de uma raça inferior, tal qual os índios, gente de segunda classe aos quais não faria diferença ser escravizado. Ou melhor. Era natural que o fossem. E então foi só repetir, e repetir, e repetir. A coisa pegou. E tanto, que passados 300 anos de escravidão, até mesmo os escravos - pessoas das gerações que se seguiram e que nunca haviam conhecido a liberdade - acreditaram nisso.

Depois, com o fim do regime escravista, uma vez que já estava garantida acumulação do capital das famílias coloniais, a ideologia seguiu fazendo seus estragos. Os negros libertos ficaram ao léu. Não havia política para inclusão de toda uma multidão de gente que, de repente, se via livre. Muitos, já velhos, não tinham como vender a sua força de trabalho e perambulavam pelas ruas, a mendigar. Ao que o sistema acrescentou novos adjetivos: preguiçosos, vagabundos, marginais. Nas grandes cidades eles foram se encravando nos morros, buscando um canto para morar, já que o Estado lhes abandonava.

E então, como não havia como eliminar a presença do negro na vida nacional, uma vez que aqui eram milhões, a elite decidiu que era preciso "embranquecer" o país, já que, conforme sustentavam os ideólogos de plantão, a raça negra haveria de constituir sempre um dos fatores da inferioridade do país. Ou seja, depois de terem usado do braço negro para forjar suas riquezas, a elite os considera causa da desgraça nacional. Cínismo pouco é bobagem.

Desde então, sociólogos, antropólogos e cientistas sociais se debruçam sobre aquilo que chamaram e ainda chamam de "problema do negro", buscando refletir os elementos do racismo e do preconceito.
 Diante desta diferenciada forma de capitulação ideológica, o sociólogo Guerreiro Ramos vai apontar sua metralhadora verbal. "Por que o negro é um problema? O que o faz ser um problema? Uma condição humana só é elevada a condição de problema quando não se coaduna com um ideal, um valor, uma norma. Se se rotula ‘problema’ ao negro é porque ele é anormal. O que torna problemática a situação do negro é que ele tem a pele escura. Essa parece ser a anormalidade a sanar". 


Ramos lembra que foi a superioridade européia no processo de colonização que criou estas manifestações - as quais chama de "patológicas" - de que o padrão estético dito normal e bonito só pode ser o branco. " É uma tremenda alienação que não leva em conta a realidade local. Nossa país é um país de negros".

Guerreiro Ramos argumenta que enquanto os estudiosos brasileiros não se libertarem da visão eurocêntrica da qual são cativos, muito pouco se poderá dizer sobre o racismo e a discriminação do negro no país. Os autores mais incensados, como Gilberto Freire e Nina Rodrigues, por exemplo, viam o negro como o exótico, o problemático, o não-Brasil. Euclides da Cunha acreditava que a fusão das raças era prejudicial e que o mestiço era um decaído, embora pudesse transcender e ser salvo pela civilização. 

Era uma espécie de tese de "embranquecimento" pela inclusão na vida nacional. Oliveira Viana chegou a dizer que a inferioridade seria passageira porque a tendência seria, pela mestiçagem, embranquecer.
Na tese defendida por Guerreiro Ramos a saída é a afirmação cotidiana da condição de negro, "niger sum", pelo seu significado dialético numa sociedade em que todos parecem querer ser brancos por força da ideologia. "Sou negro, identifico como meu o corpo em que está o meu eu e considero minha condição ética como um dos suportes do meu orgulho pessoal". Ele também defendeu, durante toda a vida, de que era necessário tirar do próprio negro a idéia de que havia um "problema do negro". "O negro no Brasil é povo, o negro não é um componente estranho da nossa demografia".

Hoje, o movimento negro atuante no Brasil tem trabalhado bastante essa tese, de afirmação cotidiana, mas não é fácil desfazer séculos de ideologia. Além do que é também possível encontrar entre algumas ONGs a idéia de que para o negro valem as políticas pobres como aquelas que, com dinheiro de fundações estrangeiras - como Ford, a Kellogs e outras que são inclusive responsáveis pela condição econômica de periferia de nossa gente - promovem cursos de cabeleireira para mulheres negras e de garção para homens negros, como se a eles só pudessem ser garantidas estas profissões.

As cotas nas universidades avançaram em muito a dialetização da questão racial no Brasil, tanto que o racismo vivo e fulgurante se manifestou de várias maneiras, inclusive com estudantes brancos entrando na Justiça contra elas, como se as cotas já não fossem uma realidade nas universidades. Só que as cotas que existiam até então eram para os estudantes com cursinho particular, os nascido em berço esplêndido e estes não admitiam "repartir" a vida universitária com estes que muitos ainda consideram "inferiores", justificando a cristalização da ideologia implantada nos tempos coloniais.

Também o sistema capitalista é pródigo em cooptar as idéias e bandeiras do movimento negro, transformando em produto a idéia de afirmação racial, como se pode notar nas revistas especializadas que acabam dando destaque ao negro, mas sempre dentro dos padrões capitalistas, de consumo e de estética.
Por isso a lembrança de Zumbi é tão desconfortável, e não foi sem razão que, em Florianópolis, tenha sido recusada pela Câmara de Vereadores a proposta de um feriado no Dia da Consciência Negra.


Porque quando se fala de Zumbi dos Palmares, se fala de outro modo de organizar a vida, autogestionada, cooperativa, solidária, comunitária, outros padrões de beleza e de relação com as coisas. Quando se fala em Zumbia se fala de luta aguerrida, armada, rebelde. Porque na sua história de líder de Palmares, Zumbi recusou a rendição, a composição de classe, a capitulação. Ele foi até o fim na proposição niger sum (sou negro), e para a elite branca e racista isso pode se configurar num "mau exemplo". Melhor encobrir ou ainda, tornar um produto.

De qualquer forma aí está o Dia da Consciência Negra nos interpelando, fazendo pensar que ainda há muito caminho a percorrer na destruição da ideologia racista inoculada desde os tempos coloniais.
Que viva Zumbi e que viva a ideia poderosa da afirmação de Guerreiro Ramos: Sou negro, sou povo brasileiro!

Elaine Tavares - Jornalista

Racionalidade no uso de água

Racionalidade no uso de água
O uso racional e responsável da água é fundamental para o futuro da humanidade. O acelerado crescimento demográfico, a mudança de intensidade de consumo e a evolução do desenvolvimento das atividades antrópicas criam conflitos e pressão sobre os recursos hídricos existentes.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no século 20, o uso da água cresceu duas vezes mais rapidamente do que a população. A água torna-se cada vez mais escassa, ate mesmo no Brasil, que detém de 12% a 16% do total de água doce do planeta.
A questão muitas vezes não se resume à existência de recursos hídricos, mas sim às condições de acesso à água. O Nordeste, com 29% da população, conta com apenas 3% dos recursos hídricos do país, enquanto que o Norte com 7% dos habitantes, tem 68%. Até na Amazônia, pela precária infra-estrutura, há pessoas não atendidas pela rede de distribuição
As condições de saneamento básico também continuam muito precárias. Saneamento básico é captar, tratar e distribuir a água para o consumo das populações; recolher e tratar o esgoto doméstico antes de permitir seu retorno aos mananciais hídricos superficiais e subterrâneos e tratar da questão dos resíduos sólidos (lixo doméstico). Não adianta a pessoa receber água tratada e ter péssimas condições higiênicas em função dos resíduos sólidos mal acondicionados, mal coletados ou mal destinados.
Mais da metade do esgoto produzido no país não recebe tratamento e é despejado diretamente nos rios, mares, lagos e mananciais. Além disso, o desperdício de água tratada é muito grande. Só na distribuição, as perdas podem chegar a 65% do que é captado nos mananciais. A média de consumo do brasileiro é de 50 litros por dia, quase o dobro do que a Organização Mundial da Saúde considera suficiente para uma pessoa. Na verdade nem se sabe o que é consumo e o que é perda do sistema, com um nível de eficiência muito baixo.
Podem ser implementadas sugestões para evitar o desperdício, e a contribuição de todos é fundamental.
Banho:
Não tome banhos demorados e feche a torneira enquanto se ensaboa. A cada minuto, mais de 20 litros de água vão embora pelo ralo.
Coloque um balde embaixo do chuveiro para armazenar a água enquanto ela não esquenta. Essa água pode ser utilizada para outras atividades como colocar a roupa de molho.
Caso seja viável, instale redutores de vazão. Eles diminuem a quantidade de água liberada pelo chuveiro.
Pia do banheiro:
Não escove os dentes ou faça a barba com a torneira aberta.
Instale aerador ou arejador (dispositivos que liberam ar ao mesmo tempo que água) nas torneiras da cozinha e do banheiro. Se possível, prefira o arejador de vazão constante (que faz com que a água saia da torneira em fluxo contínuo).
Cozinha:
Ao lavar a louça use a bacia ou a própria cuba da pia para deixar os pratos e talheres de molho por alguns minutos, antes da lavagem. Isso ajuda a soltar a sujeira.
Não deixe a torneira aberta enquanto os ensaboa. Você estará economizando dezenas de litros de água. Gotejando, uma torneira chega a um desperdício entre 40 e 50 litros por dia, variando conforme a intensidade.
Sempre verifique se a torneira está bem fechada e se não há vazamentos. Se puder, use também o redutor de vazão e torneiras com aeradores.
Se usar maquina de lavar louça, ligue-a somente quando estiver com toda sua capacidade preenchida.
Bacia sanitária:
Não use a privada como lixeira e nunca acione a descarga sem necessidade.
Mantenha a válvula sempre regulada e conserte os vazamentos assim que eles forem notados.
Quando construir ou reformar dê preferência às caixas de descargas no lugar de válvulas. Uma bacia sanitária acoplada com caixa d’água libera apenas 6 litros de água por descarga, reduzindo o consumo em 50%.
Lavanderia e área de serviço:
Deixe as roupas de molho por algum tempo antes de lavar.
Use a maquina de lavar roupas com carga máxima.
Evite o excesso de sabão, que aumenta o numero de enxágües necessários.
Quintal, jardim e vasos:
Não regue as plantas nas horas quentes do dia. Muita água evapora antes mesmo de atingir as raízes.
Molhe apenas a base, e não as folhas.
Aproveite a água da chuva quando puder. Você pode armazená-la em recipientes colocados nas saídas das calhas para depois usá-la para regar as plantas.
Para lavar a calçada e o pátio, não use mangueira. Use vassoura e balde, reutilizando a água do molho das roupas.
Construção ou reforma:
Mantenha jardins ou áreas vazadas para que o solo possa absorver a água da chuva. Você estará contribuindo para a reposição da água do lençol freático.
Lavagem de carro:
Use balde em vez de mangueira. Com a mangueira gasta-se mais de 500 litros de água para lavar um carro. Com balde, o gasto é de apenas 40 litros.
Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS.
EcoDebate, 16/11/2010

‘Esgoto’ Nuclear na Costa Verde – O mito da energia limpa



Usina Nuclear de Angra 
Já quase todas as praias da Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro estão esgotadas por condomínios fechados e turist resorts. Mas já alguns anos conhecemos uma pequena praia no Saco de Piraquara de Fora entre Angra e as usinas nucleares, que ainda está linda e pouco conhecida. Nesta praia com pedras maravilhosas e águas cristalinas, ainda vive uma família quilombola. Nós já comemos várias vezes um peixe pescado fresquinho da pequena baía em frente à praia.
O que nós só fomos conhecer recentemente é que esta baía, ou melhor, o Saco de Piraquara de Fora, está “esgotada” com substâncias radioativas pelas usinas nucleares Angra 1 e 2, localizada no outro lado do morro, na vizinha baía de Itaorna. Um túnel foi construído exclusivamente para jogar no Saco de Piraquara de Fora estas substâncias radioativas com a água da baia Itaorna, utilizada na refrigeração dos reatores nucleares.
Desde a construção da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), os responsáveis da Eletronuclear e o lobby da energia nuclear criaram o mito que as usinas são sistemas fechados, que não produzem emissões ou resíduos. Foi criado o mito da energia limpa, que o governo Lula não pára de repetir. Mas a realidade é que estas usinas estão produzindo todo dia nem só emissões gasosas radioativas, mas também um “esgoto” líquido radioativo. Por isso, as usinas nucleares tem uma chaminé alta e um sistema de descarga.
O que são estes rejeitos gasosos radioativos e o rejeitos líquidos ou “esgotos” radioativos concretamente? Pelas suas chaminés os reatores liberam no ar os gases nobres e radioativos Criptônio 85, Argônio 41, Xenônio 133 e também Iodo 131 e Tritio (H3). Tritio também está dentro do coquetel dos resíduos líquidos radioativos que são jogados no mar, além de Carbono 14, Estrôncio 90, Césio 137, Chumbo 210 e Bismuto 207 entre vários outros.
No ambiente, o Tritio se conecta com oxigênio e vira água radiotiva, que todos os seres vivos podem incorporar com facilidade no corpo e nas células.
“Como todas as substâncias radioativas, o trítio é um agente cancerígeno, mutagênico e teratogênico”, explica o Matemático e Físico Gordon Edwards, Presidente da Coalizão Canadense de Responsabilidade Nuclear (www.ccnr.org). “No caso do câncer, leucemia e danos genéticos, o consenso científico é que toda a exposição à radiação aumenta o risco total e, portanto, a incidência dessas doenças em populações expostas.” O risco de Tritio é especialmente alto para os fetos expostos no útero, porque os fetos precisam de muita água. Além de H3, as outras substâncias radioativas podem se concentrar em uma parte do corpo (iodo-131 na tireóide, o estrôncio-90 nos ossos e dentes, o césio-137 em tecido muscular) onde eles criam riscos especiais. O estrôncio-90 especialmente é perigoso para crianças porque pode causar leucemia.
Educado em Química Técnica na Alemanha, visitas às usinas nucleares fizeram parte de meus estudos, por isso eu sempre soube sobre estas emissões gasosas e líquidas das usinas nucleares. Mas eu pensei que as usinas Angra 1 e Angra 3, que usam água do mar para resfriar os reatores, jogassem este “esgoto” radioativo no mar diretamente em frente das usinas – onde ninguém toma banho – ou, um pouco melhor, utilizassem um emissário submarino longe da Baía da Ilha Grande, no alto mar, para ter uma diluição maior. Graças ao “Estudo da Dispersão de Radionuclídeos na Baia da Ilha Grande, Rio de Janeiro”, da pesquisadora Franciane Martins de Carvalho Gomes, da UFRJ, publicado este ano, eu sei agora que estas substâncias radioativas são jogadas com a água de refrigeração aquecida no Saco de Piraquara de Fora, em frente de uma das últimas praias lindas de acesso público e em frente também de uma resistência quilombola. Neste local, são despejadas todos os dias do ano, a cada segundo, 30 metros cúbicos de água usadas e poluídas pelas usinas nucleares. Podemos chamar esta contaminação radioativa de “Racismo Ambiental”?
Para os responsáveis das usinas nucleares claramente não existe nenhum risco, porque a descarga e liberação dos radionuclídeos é controlada por eles mesmos. A argumentação oficial é: “Os efluentes resultantes do tratamento dos rejeitos líquidos radioativos são liberados controladamente para a água do mar proveniente dos condensadores principais, somente se a sua concentração de atividade estiver abaixo dos limites legais.” No momento o saco recebe só o “esgoto” das usinas Angra 1 e 2. Mas daqui há pouco também os rejeitos líquidos radioativos de Angra 3 vão ser liberados com a água de refrigeração no mesmo lugar. O Relatório de Impacto Ambiental – RIMA da Unidade 3 da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto fala pouco sobre os rejeitos líquidos radioativos como tritio e Césio que podem aumentar com a operação de Angra 3. O relatório só fala concretamente sobre o problema de aquecimento da água no Saco Piraquara de Fora: “Com o início da operação de Angra 3, espera-se um acréscimo de vazão e temperatura no saco Piraquara de Fora, considerando os efeitos combinados de Angra 1 e 2. Os estudos indicam que o ecossistema marinho poderá ser afetado nas proximidades do lançamento de água, visto que a temperatura da água do mar mais elevada ocasionaria um estresse térmico, e o fluxo elevado, impediria a fixação dos organismos sésseis (por exemplo, cracas, corais, crinóides, ostras e algas).”
É uma ironia que esta pequena baia ou saco, onde as usinas nucleares jogam o seu “esgoto” líquido, sempre foi um lugar de alta biodiversidade. Os arqueólogos – com financiamento da Eletronuclear – descobriram que as populações antigas do saco Piraquara de Fora realizaram uma prática intensa da pesca e caça de mamíferos marinhos, fundamentada em uma grande diversidade de recursos alimentares, incluindo significativa presença de pinças de caranguejos e ossos de mamíferos terrestres. “Tais características indicam Piraquara de Fora, uma pequena enseada abrigada dos ventos que, pela diversidade de espécies de peixes e moluscos, constituiu um local preferencial para populações humanas pré-coloniais que ocupavam e exploravam os recursos na baía da Ribeira”, escreve Nanci Vieira de Oliveira, Professora do Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro– UERJ.
Energia nuclear não é uma energia limpa!
Norbert Suchanek, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, é colaborador do EcoDebate
Primeiros filmes inscritos no festival sobre energia nuclear
Os organizadores do Festival de Filmes Urânio em Movi(e)mento já receberam os primeiros filmes – enviados por diretores do Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Índia. O primeiro filme recebido foi “The Return of Navajo Boy, do diretor Jeff Spitz dos Estados Unidos. Este filme é sobre os povo Navajo que sofre com a mineração de Urânio nos seus territórios.
O festival de filmes sobre energia nuclear “Urânio em Movi(e)mento” quer promover informação indepentente sobre todo ciclo nuclear e sobre os riscos nucleares que somente poucas pessoas conhecem. Estão convidados filmmakers do Brasil, América Latina e de todo o mundo para fazer e mandar filmes.
Norbert Suchanek
EcoDebate, 12/11/2010

O Semiárido e as eleições, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

A convivência com o semiárido não esteve pautada nessas eleições. Incrível, exatamente aquelas pequenas medidas que agora evitam as migrações em massa, as frentes de emergência, tanta fome e sede, não estiveram na ordem do dia.
A região só esteve no debate quando Serra e Dilma disputaram ferozmente a paternidade da Transposição e Transnordestina. Serra chegou falar na criação de uma “Secretaria para o Semiárido”. Vai saber o que havia por detrás dessas palavras! Nem mesmo Marina, no primeiro turno, pautou essa temática. Só Plínio, com seu sarcasmo demolidor, foi crítico da Transposição.
A reeleição de vários governadores da região tende a dar continuidade no trabalho de convivência que a ASA já vem fazendo: Wagner, Cid Gomes, Deda, Eduardo Campo, Wilson Martins, não deverão romper com a lógica de tratamento do Semiárido dado até agora.
Quanto ao governo federal, agora temos uma incógnita. Lula é um paulista que nasceu no Nordeste, mas sua sensibilidade social, além de sua história pessoal, faz com que ele tenha devotado uma atenção especial à região, ainda que a seu modo. Dilma é uma mineira, criada politicamente no Rio Grande do Sul, que não revelou nenhuma afinidade com essa região. A visão que ela tem de desenvolvimento daqui está vinculada à Transposição e à Transnordestina, além da irrigação. Mas, é provável também que não rompa com o apoio a esse trabalho. Afinal, mesmo não acreditando que a convivência seja o novo conceito de desenvolvimento para a região, pode continuar apoiando ao menos como uma compensação social.
Assim como já acontece há mais de trinta anos, o comando do Ministério da Integração Nacional deve estar sob controle de um nome político do Ceará, nesse caso, Ciro. Se fosse Serra estaria com Tasso Gereissati. É por esse Ministério que tem passado a proposta de fazer de Fortaleza um pólo de exportação para o mundo inteiro. É com essa lógica que se constrói a Transnordestina e necessita-se de água para garantir a produção, caso da Transposição.
Portanto, para os lutadores do semiárido, temos algumas certezas pela frente e algumas interrogações. Seja como for, temos o dever de continuar.
* Artigo originalmente publicado na ASA, Articulação no Semi-Árido Brasileiro
Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é Assessor da Comissão Pastoral da Terra.
EcoDebate, 11/11/2010

Jacobina sedia Seminário dos Comitês Afluentes nos dias 18 e 19 de novembro

A implementação dos instrumentos de gestão na Bacia do Rio São Francisco e seus afluentes que cortam o Estado, e a cobrança do uso de suas águas serão os principais temas discutidos no Seminário dos Comitês Afluentes, que acontece nos dias 18 e 19 deste mês de novembro, no Hotel Serra do Ouro, em Jacobina – a 330 km de Salvador, na região do Piemonte de Diamantina. O seminário tem como objetivo estimular o consumo racional, disciplinado e sustentável dos recursos hídricos na Bahia e o fortalecimento dos colegiados estaduais e nacional para a troca de experiências, entre outros. As palestras e explanações inseridas na programação são: Perspectivas de implementação dos instrumentos de gestão na Bacia do Rio São Francisco; O processo de execução da cobrança no CBH do Rio São Francisco; A experiência do comitê mineiro e da Agência Peixe Vivo – responsável pela cobrança no Rio São Francisco; O estado da arte dos comitês baianos; A integração entre os CBHs afluentes do Velho Chico; Plano de ação entre os CBHs afluentes e as Câmaras Consultivas Regionais para o planejamento integrado.

AGECOM(INGÁ)

Nova presidente terá desafios importantes à frente do Brasil


A mineira radicada no Rio Grande do Sul Dilma Rousseff foi eleita no domingo, 31 de outubro, a primeira mulher presidente da história do Brasil. Do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-ministra-chefe da Casa Civil herdará um país estabilizado economicamente, em franca ascenção no que diz respeito a geração de postos de trabalho e renda, e protagonista de uma série de negociações internacionais, desde reuniões do G20 até as conferências das Nações Unidas sobre temas ambientais.
No entanto, o Brasil segue com uma série de problemas sociais em áreas como educação, saúde, infraestrutura e mobilidade urbana, apenas para citar alguns exemplos, o que significa que a nova presidente terá muitos obstáculos para superar nos próximos quatro anos, uma vez que governará para mais de 190 milhões de pessoas.
Na área da educação, por exemplo, 90% da população escolar enfrenta uma má educação fundamental, embora seja considerável o fato de que 90% das crianças do país tenham frequentado a escola no governo Lula. Dilma Rousseff defendeu na campanha eleitoral que o tema seria prioridade caso ela fosse eleita. "O meu governo vai criar escolas técnicas com dinheiro federal", prometeu a então candidata, ao citar a criação de um fundo especial com recursos da exploração de petróleo.
Erradicar a pobreza extrema é outra promessa de Dilma Rousseff. São considerados pobres extremos aqueles que recebem até 25% de um salário mínimo por mês, enquanto os pobres absolutos dispõem mensalmente de até 50% de um salário mínimo. Durante o governo Lula, 23 milhões de pessoas deixaram a situação de pobreza absoluta. Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a tendência é de que a erradicação da pobreza extrema seja possível em 2016, levando-se em conta os níveis atuais.
A saúde da população é outro ponto crítico a ser melhorado. As filas extensas nos hospitais em razão da falta de leitos e a demora quanto ao atendimento dos pacientes são entraves que ainda separam o país das nações mais desenvolvidas. A falta de saneamento básico também é alarmante. Só para se ter ideia, 57% da população brasileira ainda não têm acesso a esgoto tratado e 19% não contam com abastecimento de água, de acordo com um estudo da Fundação Getúlio Vargas.
Brasil pretende ser a grande 'potência ambiental' do século 21
Principal bandeira da terceira candidata mais votada das eleições presidenciais deste ano, a senadora Marina Silva (PV-AC), o desenvolvimento sustentável do país também é um dos principais desafios da gestão Dilma Rousseff. Atualmente, o governo ostenta o fato de que metade da matriz energética brasileira seja proveniente de fontes renováveis (principalmente água - hidrelétricas). No entanto, a participação de outras alternativas aos combustíveis fósseis, a exemplo das energias solar e eólica, além da biomassa, ainda está distante da ideal.
A taxa de desmatamento da Amazônia diminuiu em nível recorde nos últimos anos, em razão de fatores como as políticas de fiscalização implantadas, criação de áreas de conservação, crise econômica mundial e pressão de organizações da sociedade civil. Dilma Rousseff prometeu reduzir o desmate em 80% até 2020 em relação à média da década 1996/2005, de 19.500 km², mas grupos ambientalistas como Greenpeace e WWF-Brasil defendem que o desmatamento zero é possível, basta vontade política.
O governo brasileiro deverá se comprometer com metas sustentáveis na COP16, que será realizada entre 29 de novembro e 10 de dezembro deste ano, em Cancún (México), mas um acordo dos países signatários da ONU com peso de lei internacional (de cumprimento obrigatório) só deverá sair ao final de 2011, durante a COP17, na África do Sul, segundo especialistas - justamente no ano em que Dilma assume a Presidência.
Em Cancún, Dilma defenderá a transferência de recursos dos países desenvolvidos para que o Brasil e as demais nações em desenvolvimento possam promover, por meio de tecnologias de baixo carbono, a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas, sob o argumento da responsabilidade histórica das economias mais industrializadas, que também são as maiores poluidoras do planeta. A delegação brasileira também cobrará mais ação das nações ricas.
Como ministra da Casa Civil, Dilma chefiou a delegação brasileira durante a 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em dezembro de 2009, na Dinamarca, quando o país se comprometeu em reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020, levando-se em conta os níveis emitidos em 2005.
A mobilidade urbana também é um fator que merece atenção, pois o aumento no número de carros nas principais metrópoles e a carência de infraestrutura adequada para transportes alternativos, como as bicicletas, são problemas que prejudicam a locomoção das pessoas nas cidades, além de contribuir com a poluição do ar e os consequentes males à saúde. Contudo, a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil, em 2014, tende a representar uma virada nesta realidade, graças a projetos que incluem a duplicação de avenidas e investimentos em sistema de ônibus de trânsito rápido (BRT, na sigla em inglês), entre outros.
Dilma Rousseff será diplomada presidente em 17 de dezembro deste ano, e assumirá o cargo no dia 1º de janeiro de 2011. Durante a juventude, ela lutou contra a ditadura militar (1964-1985), chegando a ser presa e torturada. Economista, Dilma foi a primeira secretária de Finanças de Porto Alegre e primeira secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, além de ministra-chefe da Casa Civil. Esta é a 40ª vez que o cargo maior da República é ocupado.

* Projeto do Instituto Ecodesenvolvimento

Solução para os acampados

1 de novembro de 2010

Da TV UOL

A agenda que o MST (Movimento Sem Terra) vai levar para a presidente eleita Dilma Rousseff inclui a solução para a situação de 100 mil famílias que vivem em acampamentos e o comprometimento em aprovar a lei que desapropria as fazendas com trabalho escravo.
Segundo um dos coordenadores nacionais do movimento, João Pedro Stédile, existe também uma plataforma de longo prazo sobre "como deve ser a agricultura brasileira" na visão do MST.
Para assistir aos vídeos, clique aqui
Leia também:
Vitória! E Agora?
(Editorial do Jornal Brasil de Fato- 2 nov-8 nov)
O que os movimentos sociais podem esperar do governo de Dilma Rousseff, que inicia em janeiro de 2011? Nada além daquilo que foi o próprio mote da sua campanha eleitoral: a continuidade do governo Lula. Não há motivos para duvidar que a mulher que derrotou o tucano José Serra, nessas eleições, não meça esforços para dar continuidade à política econômica do atual governo, tentando promover crescimento econômico com distribuição de renda. Até onde isso será possível, sem atingir os interesses das grandes fortunas, que também foram beneficiadas por essa política econômica, e sem promover as reformas estruturais na economia e na política, essenciais para impulsionar a distribuição da riqueza em e consolidar uma democracia em nosso país? Ir além das políticas assistenciais, um imperativo nesse momento, significará confrontar os interesses dos que monopolizam a renda e a riqueza brasileira.
A presidenta eleita assegurou, durante a campanha eleitoral, que a reserva petrolífera do pré-sal pertence ao povo brasileiro e a riqueza gerada será utilizada para erradicar a miséria e em investimentos na área sociais da saúde, educação e saneamento básico. Enganam-se os que pensam que as transnacionais do petróleo e o capital internacional irão respeitar os 56 milhões de brasileiras e brasileiros que votaram a favor dessa proposta política. A rapinagem internacional encontrará em setores da elite brasileira, tão bem explicitada em torno da candidatura do tucano derrotado, o apoio necessário para tentar apoderar-se de mais essa riqueza natural brasileira. Não faltarão experts em economia, jornalistas, comentaristas políticos, parlamentares e lideranças partidárias defendendo, sempre com a empáfia do conhecimento das elites, que o pais não tem condições e nem capacidade para gerencias essa riqueza petrolífera. Melhor será, de acordo com o aprendizado de 500 anos dessa elite nacional entreguista, deixar que os grandes grupos econômicos internacionais explorem essa riqueza brasileira. A presidenta Dilma Rousseff, cumprindo sua promessa eleitoral, terá uma oportunidade histórica para derrotar esses setores entreguistas das nossas riquezas e assegurar ao povo brasileiro o pagamento de uma dívida social que perdura à cinco séculos.
Dificilmente a candidatura de José Serra teria o êxito de disputar o segundo turno eleitoral se não fosse o desavergonhado e imoral suporte que recebeu dos grandes grupos de comunicação. Estes tornaram-se o grande partido político de oposição ao governo Lula. Aproveitaram-se do período eleitoral para fazer uma verdadeira luta de classes, em defesa de suas bandeiras políticas mais conservadoras e direitistas. Não hesitaram em adotar candidaturas que se dispunham a fazer coro aos ataques ao governo e à sua candidata, em troca de alguns minutos de exposição nos noticiários.
Já não é mais possível pensar no fortalecimento da democracia sem mexer no oligopólio das comunicações em nosso país. É bem vindo o Plano Nacional de Banda Larga, um serviço publico que irá democratizar a informação através da internet e. E, felizmente, alguns estados já estão discutindo uma legislação própria que assegure um controle social sobre os meios de comunicação, como estabelece a Constituição Federal de 1988. Mas é preciso enfrentar os grupos empresariais da comunicação, seis ou sete famílias, que monopolizam a produção e a divulgação das informações. Não se trata de censurar a imprensa. Mas, sim de assegurar o direito á informação ao povo brasileiro. Direito que está acima dos interesses particulares dos proprietários dos meios de comunicação. Este poderio, não enfrentado pelo governo Lula, precisa ser confrontado com as vozes vindas da conferencia nacional de comunicação e com uma legislação apropriada e atualizada, que atenda os interesses da sociedade brasileira.
As atrapalhadas do poder judiciário, durante o processo eleitoral, apenas atestam a necessidade de promover mudanças nessa esfera do poder político. O Brasil deve ser um dos únicos países do mundo aonde o título de eleitor não é documento suficiente para o cidadão votar. Por indefinição do Supremo Tribunal Federal (STF), milhares de eleitores votaram em candidatos que não sabiam se estavam aptos ou não a receber esses votos, por estarem incluídos no projeto de lei "ficha suja". Votaram e tiveram seus votos anulados por decisão do poder judiciário. Ver um dos ministros do STF, Gilmar Mendes, receber um telefonema de um dos candidatos, José Serra, durante a votação da Corte, para interferir nessa decisão, foi o ápice dessas atrapalhadas. Reformular a estrutura do poder judiciário, limitar os mandatos nas cortes judiciais, democratizar o mecanismo de escolha de seus membros, criar e fortalecer instrumentos de controle da sociedade sobre o poder judiciário são algumas bandeiras que fazem parte da agenda política do país nesse momento.
São estes alguns desafios que o novo governo, liderado por uma mulher pela primeira vez na nossa história republicana, terá que enfrentar. Os interesses contrários serão fortíssimos. As forças reacionárias e de extrema direita, que hibernavam desde o fim da ditadura militar, reapareceram com vigor na disputa eleitoral deste ano. Mostraram que não há limites nem éticos e nem legais para se fazer ouvir. As baixarias da campanha, onde o tucano José Serra foi um desmiolado porta-voz, mostrou a força desse segmento social e do que são capazes.
Enfrentar esses desafios exigirá da presidenta clareza política e muita força de vontade. O respaldo vindo das urnas, infelizmente, será insuficiente para se contrapor aos interesses do capital, à elite entreguista e às forças direitistas. A base parlamentar, na sua maioria, é mais suscetível aos interesses particulares do que ao programa vitorioso nas eleições. Alguns membros do próprio partido político da candidata eleita, e próximos a ela, dão a impressão que estariam mais a vontade nas fileiras tucanas do que defendendo suas propostas governamentais, em defesa dos mais pobres.
Assim, como foi determinante no segundo turno das eleições, os movimentos sociais, sindicais e estudantis, as pastorais sociais, os comunicadores progressistas que ocuparam um importante espaço na internet, precisam ir às ruas durante esses próximos quatro anos. Somente a mobilização popular, preservando sua autonomia frente ao governo, será capaz de assegurar novas conquistas e frear as forças direitistas que afloraram nessa campanha eleitoral.

* Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Brasil

Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil

Dilma Rousseff, quanto votava. Foto da ABr

Dilma Vana Rousseff, foi eleita ontem. (31) presidente da República para o período de 2010 a 2014. Sem nunca ter disputado uma eleição, ela é a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do país. Economista, ex-ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma teve a eleição definida quando atingiu 55,43% dos votos válidos no segundo turno das eleições, ante 44,57% do candidato do PSDB, José Serra
Na campanha, Dilma destacou as conquistas dos dois mandatos do governo do presidente Lula, que a indicou para concorrer à Presidência. O seu mote de campanha foi a necessidade de o Brasil continuar crescendo na economia com inclusão social. A presidente eleita ressaltou que 28 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria ao longo desses quase oito anos e prometeu trabalhar para erradicar definitivamente a pobreza no país.
No comando da Casa Civil, a presidente eleita conhecida por seu estilo durona, coordenou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais marcas do governo Lula, com ações em praticamente todas as áreas, desde infraestrutura até segurança pública. Dilma também foi responsável pelo lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, de forte apelo social.
Mineira de nascimento, Dilma começou na política no movimento estudantil, em Belo Horizonte. Combateu a ditadura militar (1964-1985), o que a levou à prisão, onde foi torturada. Em liberdade, recomeçou a vida em Porto Alegre, ao lado do ex-deputado Carlos Araújo, com quem era casada à época. Na capital gaúcha, participou da fundação do PDT de Leonel Brizola. Em 2000, deixou a sigla, junto com alguns trabalhistas históricos, como o ex-prefeito de Porto Alegre Sereno Chaise, e se filiou ao PT.
Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte, em uma família de classe média alta. Filha da professora Dilma Jane Rousseff e do advogado Pedro Rousseff, um búlgaro naturalizado brasileiro com quem adquiriu o gosto pela leitura. De acordo com pessoas próximas, Dilma era uma devoradora de livros, tendo construído uma sólida formação intelectual. Até os 15 anos, estudou no tradicional Colégio Sion, atual Colégio Santa Doroteia, escola onde eram educadas as filhas da elite da capital mineira. Ao ingressar no ensino médio, passou para o Colégio Estadual, escola pública mista, mais liberal, onde surgiram muitos dos líderes da resistência à ditadura em Minas.
Reportagem de Luciana Lima, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 01/11/2010

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