Almacks Jr., Catiuscia, Almacks e Maria Aparecida
Em julho do ano passado (2014), uma grande fração dos 200
milhões de brasileiros passou a conhecer melhor os alemães, pois 7 X 1 não dá
para esquecer tão facilmente, principalmente para os jovens. Mas, enquanto os jovens
conheciam melhor os alemães na Copa de 2014, nós, sexagenários, lutamos contra
os alemães há algum tempo. Desta data em diante começa a preocupação com os
alemães Alzheimer e Parkinson.
Isso acontece porque estas são doenças responsáveis pela falta de memória nos
idosos. Além destas, há também a doença
de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), Encefalopatia Espongiforme Transmissível, que
acomete normalmente pessoas com
idade entre 60 e 80 anos, com uma idade média de morte de 67 anos.
Chego aos 60 anos bem mais amparado do que os meus avôs
Francisco e Cipriano, e até mesmo que meu pai Nicanor Carneiro. Aposentado há 5
anos por tempo de serviço (35 anos e 6 meses de contribuição paga ao INSS),
atualmente busco o instrumento jurídico da desaposentação (direito a uma revisão no valor do benefício,
reconhecido através do Recurso Especial nº 1.334.488/SC), por enquadrar-me na
nova Lei, 95/90 (60 anos de idade e 35 de serviço). E ainda tem um medi-cú que
me chama de “vagabundo”, o que me leva a deduzir que deve ser ainda pela
ascendência que o FHC exerce sobre a vida do dito cujo.
Aos 60 anos faço o que quero, com quem quero e aonde quero. Ah
se na minha mocidade pudesse ter exercido essas prerrogativas. E por falar em prerrogativas,
posso também relembrar que apesar de estar completando 60 anos hoje, já passei
por situações difíceis junto com meus familiares.
Comecei a trabalhar com 6 anos de idade fazendo e vendendo Moreninha aos que não podia tomar um guaraná Fratellevita ou um guaraná Caçula. Em 1964, com apenas 9 anos de idade, fui
processado a primeira vez pela 6ª Região Militar (golpe militar de 1964,
documentos recuperado pelo Grupo de Estudos da UNEB, do Campus Jacobina, com a
coordenação do prof. Fábio). É importante deixar claro que o que alguns
insistem em chamar de revolução tratou-se de um golpe, porque revolução é a que
muda o modo de viver de uma sociedade e não tivemos a verdadeira revolução, os
militares não revolucionaram a educação, a saúde e as condições de vida de
nosso povo.
Neste período citado eu tinha um primo que pertencia a um
dos “Grupos dos 11, ou GR11”, células que se estabeleciam em determinados
setores para discutir socialismo e ouvir a PRA-9, Rádio Mayrink Veiga, que
tinha como carro chefe e líder de audiência o programa de Leonel Brizola, líder
das esquerdas unificadas na Frente de Mobilização Popular. Fui processado
porque o meu primo usava o meu nome para se corresponder com militantes da URSS
e com o pessoal do Brizola, além de pedir para que fôssemos comprar em Nelson
Dourado e em Benedito Gomes (os contemporâneos lembram-se de quais casas
comerciais me refiro) “roxo-terra”, produto que pisávamos com uma pedra e
diluíamos em água para a turma de maior idade pichar as esquinas da cidade com
os temas e frases coordenadas pelo líder local, Dr. Ivanilton Costa. Na época,
o Dr. Ivanilton Costa já questionava o funcionamento da mineração de ouro em
Jacobina, os direitos trabalhistas e o monopólio da política da cidade. Ele se
lançou candidato a prefeito e foi derrotado na “apuração dos votos”, daí veio o
ditado tão popular para os que têm 60 anos: a “Prata é falsa”. Nesta época eu
era um adolescente e nós não tínhamos nenhuma proteção, não tínhamos o Estatuto
da Criança e Adolescente – ECA, ou seja, não tínhamos prerrogativas nenhumas.
Chego hoje aos 60 anos cheio de prerrogativas, amparado por várias Leis:
10.448/2000, 10.741/2013 e recentemente pela 13.146/2015. Será que os meus
amigos que não conseguiram entender porque troquei o “ter pelo ser”, mesmo
tendo um medi-cú que não entende isso e me trata de vagabundo e até ameaça de
morte por ter optado por defender os interesses difusos e coletivos, têm conhecimento
do que estas leis podem fazer por nós idosos, nos dando alguns direitos, muito
mais do que prioridade nas filas deste país?