HOJE 21/07/2015 FICO SEXY, SEXAGENÁRIO!

Almacks Jr., Catiuscia, Almacks e Maria Aparecida


Em julho do ano passado (2014), uma grande fração dos 200 milhões de brasileiros passou a conhecer melhor os alemães, pois 7 X 1 não dá para esquecer tão facilmente, principalmente para os jovens. Mas, enquanto os jovens conheciam melhor os alemães na Copa de 2014, nós, sexagenários, lutamos contra os alemães há algum tempo. Desta data em diante começa a preocupação com os alemães Alzheimer e Parkinson. Isso acontece porque estas são doenças responsáveis pela falta de memória nos idosos. Além destas, há também a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), Encefalopatia Espongiforme Transmissível, que acomete normalmente pessoas com idade entre 60 e 80 anos, com uma idade média de morte de 67 anos.

Chego aos 60 anos bem mais amparado do que os meus avôs Francisco e Cipriano, e até mesmo que meu pai Nicanor Carneiro. Aposentado há 5 anos por tempo de serviço (35 anos e 6 meses de contribuição paga ao INSS), atualmente busco o instrumento jurídico da desaposentação  (direito a uma revisão no valor do benefício, reconhecido através do Recurso Especial nº 1.334.488/SC), por enquadrar-me na nova Lei, 95/90 (60 anos de idade e 35 de serviço). E ainda tem um medi-cú que me chama de “vagabundo”, o que me leva a deduzir que deve ser ainda pela ascendência que o FHC exerce sobre a vida do dito cujo.

Aos 60 anos faço o que quero, com quem quero e aonde quero. Ah se na minha mocidade pudesse ter exercido essas prerrogativas. E por falar em prerrogativas, posso também relembrar que apesar de estar completando 60 anos hoje, já passei por situações difíceis junto com meus familiares.

Comecei a trabalhar com 6 anos de idade fazendo e vendendo Moreninha aos que não podia tomar um guaraná Fratellevita ou um guaraná Caçula. Em 1964, com apenas 9 anos de idade, fui processado a primeira vez pela 6ª Região Militar (golpe militar de 1964, documentos recuperado pelo Grupo de Estudos da UNEB, do Campus Jacobina, com a coordenação do prof. Fábio). É importante deixar claro que o que alguns insistem em chamar de revolução tratou-se de um golpe, porque revolução é a que muda o modo de viver de uma sociedade e não tivemos a verdadeira revolução, os militares não revolucionaram a educação, a saúde e as condições de vida de nosso povo.

Neste período citado eu tinha um primo que pertencia a um dos “Grupos dos 11, ou GR11”, células que se estabeleciam em determinados setores para discutir socialismo e ouvir a PRA-9, Rádio Mayrink Veiga, que tinha como carro chefe e líder de audiência o programa de Leonel Brizola, líder das esquerdas unificadas na Frente de Mobilização Popular. Fui processado porque o meu primo usava o meu nome para se corresponder com militantes da URSS e com o pessoal do Brizola, além de pedir para que fôssemos comprar em Nelson Dourado e em Benedito Gomes (os contemporâneos lembram-se de quais casas comerciais me refiro) “roxo-terra”, produto que pisávamos com uma pedra e diluíamos em água para a turma de maior idade pichar as esquinas da cidade com os temas e frases coordenadas pelo líder local, Dr. Ivanilton Costa. Na época, o Dr. Ivanilton Costa já questionava o funcionamento da mineração de ouro em Jacobina, os direitos trabalhistas e o monopólio da política da cidade. Ele se lançou candidato a prefeito e foi derrotado na “apuração dos votos”, daí veio o ditado tão popular para os que têm 60 anos: a “Prata é falsa”. Nesta época eu era um adolescente e nós não tínhamos nenhuma proteção, não tínhamos o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA, ou seja, não tínhamos prerrogativas nenhumas.

Chego hoje aos 60 anos cheio de prerrogativas, amparado por várias Leis: 10.448/2000, 10.741/2013 e recentemente pela 13.146/2015. Será que os meus amigos que não conseguiram entender porque troquei o “ter pelo ser”, mesmo tendo um medi-cú que não entende isso e me trata de vagabundo e até ameaça de morte por ter optado por defender os interesses difusos e coletivos, têm conhecimento do que estas leis podem fazer por nós idosos, nos dando alguns direitos, muito mais do que prioridade nas filas deste país?

Celebrar 30, 40, 50 e 60 anos acontece uma vez, os anos passam e são sempre motivos para celebrar a vida, noite de gala, uma comemoração mais clássica, boa gastronomia, boa música, a ocasião merece porque ao completar 60 anos a vida continua. Continuam os sonhos, antes filhos, agora netos, viagens, e quem sabe, depois de ter conquistado uma graduação aos 50, eu possa pensar no mestrado aos 60 e doutorado aos 65 não é o melhor remédio para combater os alemães?

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