Quem quer ganhar dinheiro? Anúncio do Jornal o LIDADOR de 06/12/1936

Publicou uma nota intitulada “Quem quer ganhar dinheiro?”. Com indignação o jornal sugeria que quem quisesse ganhar dinheiro e ao mesmo tempo prestar um benefício à saúde do povo, explorasse o serviço de abastecimento de água.
A água do rio do Ouro, que, até pouco tempo era excelente pela sua pureza, de alguns dias para cá está com péssimo sabor [...] Entretanto como não temos esperança de que, enquanto houver garimpos e banhos no citado rio, a sua água recobre o estado de pureza primitivo, fazemos um apelo a quem interessar no sentido de explorar, nesta cidade, o serviço de abastecimento d’água, que
poderá ser conduzida da CAIXA D’AGUA, ou de perto da BARRAGEM em costas de JEGUE, como se faz em outras localidades. Um bom negócio, não há dúvida [...]46
Em treze de agosto de 1939, o sargento Geremias deu uma batida na barragem do rio do Ouro e flagrou doze garimpeiros lavando cascalho. 
O Lidador noticiou a prisão efetuada e reforçou a acusação ao trabalho de garimpagem como agente poluidor do rio. As
esperanças de que essa situação fosse controlada foi depositada em Geremias: aludido militar tome a sério liquidar com os garimpos do rio do Ouro cuja água contaminada e doentia, está minando a saúde do povo”.47 Pelo visto Geremias não foi capaz de dar fim ao problema, pois, no ano de 1940 ainda eram recorrentes as reclamações em virtude das ações dos garimpeiros no rio do
Ouro. A prefeitura Municipal de Jacobina, juntamente com o diretor de higiene e o delegado de polícia, por várias vezes chamaram a atenção das pessoas para a impertinência dos
costumes de tomar banho, lavar roupas e garimpar no rio, no entanto, as proibições não eram suficientes para que as pessoas mudassem de comportamento. Os apelos para que
tomassem consciência de que o rio abastecia a cidade de água potável não coibiam essas práticas, principalmente a da garimpagem. O costume de “lavar ouro” nas imediações da
barragem do rio do Ouro poluía as águas com o mercúrio usado para separar o ouro do cascalho e conforme o jornal aumentava os riscos em torno da saúde da população. 
matéria intitulada “Água de cascalho” demonstra a falta de fiscalização, embora, ao longo dos anos, os poderes públicos tenham tido trabalho para impedir a poluição do rio.
Apesar das medidas tomadas pela polícia e da prisão de alguns garimpeiros, a população continuava bebendo água de cascalho, sinal de que muitos garimpeiros burlavam a polícia e continuavam a depositar no rio água proveniente da lavagem dos cascalhos
impregnada de mercúrio e lama. Tudo isso somado aos hábitos da população fizeram com que o jornal solicitasse um “zelador” para o rio do Ouro. Tal funcionário deveria impedir que a população usasse o rio para tomar banho, escovar os dentes, lavar roupas, banhar animais, dentre outras práticas pouco recomendáveis.48
Considerando todos os perigos que foram apontados até aqui, não seria exagero sugerir que o garimpeiro, apesar de apontado como alguém que polui indiscriminadamente o ambiente, é também mais uma vítima das ações inconseqüentes do homem para com a
natureza. Seja por cobiça ou por necessidade, as formas de exploração aurífera nas serras de Jacobina conduziram a um processo de poluição e alteração do meio ambiente que muitas
vezes demonstrou não só irresponsabilidade, mas, também, falta de conhecimento e consciência dos trabalhadores do garimpo em relação ao alcance das suas ações. 
Talvez, muitos deles, tenham se atentado apenas para a construção imaginária que estereotipa o 47 O Lidador nº 291 de 13/08/1939. (Prezos doze malandros que lavavam cascalho no Rio do Ouro)p. 4.
48 O Lidador nº 317 de 18/02/1940. (Comentários. Água potável) p. 1. Revista Mundos do Trabalho, vol.1, n. 1, janeiro-junho de 2009.
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garimpeiro exagerando em determinadas características como sua coragem, sua força, etc. A afirmação de que o garimpo é, em si mesmo, um trabalho perigoso alimenta o estereótipo do garimpeiro como sinônimo de homem de coragem, desafiador da natureza, destacando o perigo que, em geral, ele se preza de ver associado à sua profissão.49 É provável que com base nesse raciocínio, muitos deles tenham se portado com indiferença aos riscos que expunham a sua vida e principalmente a dos outros. Contudo, é preciso lembrar que as questões de saúde estão em íntima relação com o trabalho e com os locais onde esse é realizado. Nos garimpos de Jacobina a pobreza e a miséria se fizeram presentes e contrastavam com a propaganda veiculada na imprensa que insistia em apontar
a riqueza enganadora dessas áreas.
Assim, não só a imprevidência dos garimpeiros pode ser apontada como a causa para os muitos males que decorrem da ação do garimpo, mas, principalmente a omissão, e/ou a insuficiência de recursos por parte dos poderes públicos para dotarem esses locais de infra-estrutura como: saneamento, limpeza pública, água, luz, escolas, médicos, etc. de forma a dar não só aos garimpeiros, mas a toda a população de forma irrestrita, melhores condições de vida e trabalho.

TRABALHO E POBREZA NAS SERRAS AURÍFERAS DO
SERTÃO BAIANO.(1930-1940) Zeneide Rios de Jesus
Publicado na Revista Mundos do Trabalho, vol.1, n. 1, janeiro-junho de 2009.

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