A cobrança pelo uso da água
no Brasil foi estabelecida pela Lei Federal nº 9.433/97, em seu Capítulo IV,
Art. 5º, IV – “Cobrança pelo uso dos
recursos hídricos”. Na Bacia do Rio São Francisco a Cobrança foi
implantada a partir do ano de 2010 e tem a seguinte tabela:
Captação
de água bruta
|
0,01
por m3
|
Consumo
de água bruta
|
0,02
por m3
|
Lançamento
de Carga orgânica
|
0,07
KgDBO (demanda bioquímica de oxigênio
|
A mineração e agricultura
pagam pelo uso da água, baseadas em uma tabela de coeficiente (k), pagando uma
taxa mínima, alegando que toda água consumida retorna ao meio ambiente através
do lençol freático.
Na França, onde foi derivada
a nossa lei de Recursos Hídricos, a agricultura não é agraciada com este
presente. No trabalho, “Comparação da
Cobrança pelos usos da Água no Brasil e na França”, escrito pelos
Engenheiros civis e consultores na área de recursos hídricos, Antonio Eduardo Lanna e Patrick Laigneau, apontam os seguintes
resultados:
Valores
unitários cobrados no Brasil e na França
Comparando os mecanismos de
cobrança adotados no Brasil e na França algumas considerações sobre a
possibilidade de incrementos nos valores unitários no Brasil podem ser
apresentadas. O Quadro 1 mostra os valores máximos e mínimos aplicáveis a cada
país, dependendo do setor usuário de água, baseado no que é apresento no Anexo
1. Cabe enfatizar que os valores cobrados na França são sempre superiores aos
brasileiros, a não ser na mineração, em que se igualam no máximo, podendo
ultrapassar 30 vezes, como no limite superior da irrigação. Nesse setor, mesmo
havendo forte subsídio na França, os valores do Brasil são sempre inferiores. É
expressiva, igualmente, a incidência no setor saneamento na França,
ultrapassando 10 vezes o valor brasileiro, no limite superior.
Quadro
20 – Valores cobrados a cada setor usuário para captação de água no Brasil e
França (R$ por 1000 m3)
Quadro
1
Setores
Usuários
|
Brasil
Mínimo
|
Brasil
Máximo
|
França
Mínimo
|
França
Máximo
|
Saneamento
|
R$ 7,00
|
R$ 11,50
|
R$ 60,00
|
R$ 160,00
|
Indústria
|
R$ 7,00
|
R$ 11,50
|
R$ 10,00
|
R$ 29,00
|
Irrigação
|
R$ 0,20
|
R$ 0,50
|
R$ 1,04
|
R$ 19,50
|
Mineração
|
R$ 5,75
|
R$ 11,50
|
R$ 11,00
|
R$ 33,00
|
Sendo assim, fizemos o
levantamento dos 10 maiores pagadores pelo Uso da Água na Bacia Hidrográfica do
São Francisco no ano de 2013, conforme publicação no site http://www.agbpeixevivo.org.br pela
Agência de Bacia do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Nº
|
NOME
|
SETOR
|
M3/A CAPTADOS
|
R$ PAGO
|
01
|
Ministério
da Integração Nacional – Floresta-PE
|
Transposição
|
832.550.400,00
|
12.488.256,00
|
02
|
Bahia
Mineração S/A – BAMIM – Caetité-BA
|
Mineração
|
14.191.200,00
|
425.735,94
|
03
|
Cia.
Pernambucana de Saneamento – Petrolina - PE
|
Saneamento
|
23.466.288,00
|
390.093,91
|
04
|
Empresa
Baiana de Água e Saneamento – Mirorós-BA
|
Saneamento
|
14.454.000,00
|
363.540,00
|
05
|
Secretaria
Saneamento de Alagoas – São Brás – AL
|
Saneamento
|
26.407.633,20
|
359.880,94
|
06
|
Secretaria
do Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – Delmiro Gouveia – AL
|
Saneamento
|
84.201.120,00
|
318.860,51
|
07
|
SAAE
– Juazeiro – BA
|
Saneamento
|
18.017.480,40
|
306.792,98
|
08
|
CODEVASF
– Juazeiro
|
Irrigação
|
406.866.240,00
|
264.463,05
|
09
|
Secretaria
Saneamento de Alagoas – Pão de Açúcar – AL
|
Saneamento
|
17.152.080,00
|
234.027,32
|
10
|
CODEVASF
- Casa Nova – BA
|
Irrigação
|
350.543.462,00
|
227.853,24
|
Só para ilustrarmos de
quanto a Cobrança pelo Uso da Água é injusta no Brasil, vamos tomar como
referência a cidade de Juazeiro na Bahia. Os valores pagos pelo SAAE de
Juazeiro que abastece a cidade com 214.748 habitantes
(www.google.com.br/#q=ibge+cidades), e a maior empresa de plantio de cana no
Vale do São Francisco, a AGROVALE.
NOME
|
M3/A CAPTADOS
|
R$ PAGO
|
AGROVALE
– Juazeiro-BA
|
16.844.796,00
|
10.859,08
|
SAAE
– Juazeiro-BA
|
18.017.480,40
|
306.792,98
|
O agronegócio e a mineração
falam muito em globalização, por que não pagam pelos recursos hídricos valores
similares aos cobrados na França? Ou o Comitê se rendeu a estas organizações?
E por falar em agronegócio e
mineração, por que a CHESF não paga pelo uso da água na Bacia? Vamos ficar
atentos para a grave questão da Redução de Vazão e analisem se a CHESF não
deveria também pagar pelo uso da água.
Ou o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Salitre rediscute os valores de cobrança ou vamos continuar
com a injustiça na Cobrança pelo Uso das Águas na Bacia.
Almacks
Luiz Silva é Consultor Ambiental com Curso Superior de Tecnologia
em Gestão Ambiental pela UNOPAR, Extensão em Gestão Participativa de Bacias
Hidrográficas pela UFAL/UFS, Extensão em Ações de Gestão para Controle da
Poluição em Bacias Hidrográficas pela UFBA, Pós-Graduando em Auditoria e
Perícia Ambiental, CRA-BA N° 2-00819 e atualmente é presidente do Comitê da
Bacia Hidrográfica do rio Salitre e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do
rio São Francisco.
Esta discussão deve se constituir no ponto pricnipal das discussões por ocasião da revisão dos valores de Cobrança e deve ser aportada com grande ênfase para que se faça justiça pelas águas. Não se pode tolerar de empresas como a AGROVALE PAGAMENTOS irrisórios, sabendo que quem está pagando mais caro é, por tabela, a população ribeirinha que utiliza a água de SAAE, COMPESA, DESO, A CIA DE MINAS GERAIS, ALAGOAS. A conta é cobrada à população. Pelo mesmo quantum a AGROVALE. O caso da Bahia Mineração S/A – BAMIM – Caetité-BA é outra questão relacionada com a exorbitância da reservação, não sendo um uso prioritário. Aliás o que fica claro neste contexto comparativo é que se paga mais por água para uso prioritário, essencial e humano.
ResponderExcluirVamos ter que corrigir esta inaceitável disparidade que chega a ser um acinte!
Luiz Dourado