Está assustado com os 200 mil mortos do Haiti? Apavorado com os cadáveres nas ruas, sendo enterrados por empilhadeiras em valas comuns? Com a brutalidade da vida, onde o enterro é coletivo, indo para debaixo da terra, literalmente, o cuidado com o corpo humano, inclusive depois de morto?
Está indignado com a forma como os americanos chegaram ao Haiti, com 20 mil soldados, defendendo o que restou de uma burguesia restrita, controlando os portos, tomando conta do país como se fosse sua área de treinamentos?
Está pasmo com aqueles que fazem da miséria um momento de ganhar dinheiro, desviar comida, atirar num faminto que disputa um copo de água ou pedaço de pão, ou traficar crianças?
Está se perguntando para onde irão os migrantes, os que restaram, aqueles que não têm outra possibilidade a não ser vagar pelas ruas ou aventurar-se em barcos perigosos, ou pelas estradas que vão ao interior?
O Haiti é o futuro, caso se confirmem os cenários dos cientistas que estudam o aquecimento global. Olhe para o Haiti e você está vendo o que pode ser toda a face da Terra em trinta, quarenta ou cinqüenta anos. Se assim for, não estaremos falando apenas em centenas de milhares de mortos, de migrantes, de famintos, de sedentos. Estaremos contando essa realidade na casa dos bilhões.
O que os gringos fazem no Haiti é muito mais que o controle estratégico de uma ilha miserabilizada pelas opressões, injustiças e catástrofes naturais. Ali está um laboratório do que vai se repetir constantemente por toda a face do planeta.
Catastrofismo? Olhe para o Haiti.
Não tenha certeza, leitor, que você estará entre os que ficarão para contar a história.
Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate.
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