Quando o globo aquece, não dá para ficar de “cabeça fria”!


Quase todo o dia acompanhamos notícias sobre vendavais, enchentes, secas, mudanças climáticas bruscas, tufões, tsunamis, tornados, furacões, ciclones e outras catástrofes naturais. Tais fenômenos sempre existiram, mas agora se intensificam e agravam em função do aquecimento global. Uma pesquisa da Universidade de East Anglia (Inglaterra), publicada na Revista Nature Geoscience (2008) demonstrou, pela primeira vez, que o ser humano contribuiu de forma significativa com o aumento da temperatura na terra nas últimas décadas. E o faz através da emissão de gases poluentes, sobretudo, o dióxido de carbono (gás carbônico) proveniente da queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel e outros), do desmatamento, das queimadas etc.
Pesquisadores do National Institute for Space Research afirmam também que 52 mil grandes represas existentes no mundo participam com cerca de 4% do aquecimento global, emitindo por volta de 104 milhões de toneladas de gás metano (CH4) a cada ano. Uma tonelada de metano provoca 25 vezes mais impacto sobre o efeito estufa que uma tonelada de gás carbônico (CO2). Na somatória das emissões, o Brasil se encontra entre os 17 países maiores poluidores do planeta. Nota-se que o modelo de desenvolvimento econômico adotado e a temperatura da terra estão intrinsecamente relacionados.
Em face do aquecimento e da alteração dos ecossistemas, milhares de pessoas morrem todos os anos, além de provocar efeitos nocivos à saúde humana e ao conjunto do meio ambiente. Entre outras conseqüências, estão: ampliação das regiões desérticas, derretimento das calotas polares, morte de várias espécies animais e vegetais, aumento das catástrofes naturais provocando destruições generalizadas e proliferação de vetores transmissores de doenças. Convém ressaltar que são sempre os mais pobres e vulneráveis que mais sofrem com a degradação ambiental. 
Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC/2007), se não forem tomadas medidas urgentes, a estimativa é de que a temperatura média na terra até o final desse século oscile entre 1,1 e 6,5ºC. Estudos científicos apontam ainda que, mantendo-se o ritmo atual do aquecimento, até o ano 2050, milhões de pessoas terão de ser removidas das áreas litorâneas em função do avanço dos oceanos. De acordo com diferentes hipóteses, a continuar nesse processo, até 58% das espécies na terra e no mar serão extintas nas próximas décadas.
Os alertas mobilizam a humanidade. Por conta disso, em fevereiro de 2005 passou a vigorar o Protocolo de Kyoto que previa a redução de 5,2% dos gases poluentes até o ano 2012 como forma de minimizar o aquecimento global. O Protocolo foi assinado por 125 países. Os Estados Unidos, responsáveis pela emissão de 33% de todos os gases de efeito estufa do mundo recusaram-se a assinar, alegando que isso prejudicaria o desenvolvimento industrial do país.
Entre 7 e 18 de dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca, acontecerá a Cúpula sobre o Clima com o objetivo de definir um novo pacto mundial na luta contra o aquecimento global. Alguns líderes resistem a participar do acordo, obcecados pelos princípios do crescimento econômico. Outros admitem que se não houver um compromisso eficaz será uma catástrofe planetária, podendo ocorrer, num futuro próximo, impactos sociais, ecológicos e econômicos superiores aos das duas guerras mundiais.
Diante desse quadro, é necessário diminuir a poluição, mudar o modo de produção, o modelo industrial e o padrão de consumo. São imprescindíveis iniciativas efetivas de todos os países, governos, empresas, indústrias, produtores e sociedade em geral. Urge utilizar energias mais limpas, cobrar dos poluidores ações concretas para reparar os danos causados, fortalecer a consciência e a cidadania ecológica, estabelecer políticas ambientais amplas etc. Quando o globo aquece, não dá para ficar de “cabeça fria”!
Dirceu Benincá
Doutorando em Ciências Sociais - PUC/SP

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