Desperdício de água “comestível” ameaça o planeta


por Thalif Deen, da IPS

Torgny Desperdício de água “comestível” ameaça o planeta
Torgny Holgren abre o encontro em Estocolmo. Foto: Thomas Henrikson, World Water Week/CC by 2.0
Estocolmo, Suécia, 28/8/2012 – Não é a água que se bebe, mas a “comestível” a que provavelmente constitua um dos principais problemas para milhões de pessoas no futuro em todo o mundo. “Mais de um quarto de toda água que usamos no planeta se destina ao cultivo de mais de um bilhão de toneladas de alimentos que ninguém consome”, afirmou o diretor-executivo do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (Siwi), Torgny Holmgren.
“Essa água e os milhares de milhões de dólares investidos no cultivo, embarque, embalagem e compra do alimento são jogados fora”, acrescentou Holmgren ao abrir ontem, na capital da Suécia, a conferência internacional da Semana Mundial da Água. “Reduzir o desperdício de comida é o caminho mais inteligente e direto para aliviar a pressão sobre os recursos hídricos da Terra. É uma oportunidade que não podemos nos dar o luxo de não aproveitar”, acrescentou.
A conferência, um dos maiores encontros internacionais de especialistas em água e saneamento, atrai mais de dois mil delegados, incluindo funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), cientistas, acadêmicos, ativistas pela água e representantes do setor privado, da sociedade civil e dos meios de comunicação de mais de cem países.
Todos os alimentos consumidos pelo homem exigem água para sua produção. Por exemplo, segundo uma exposição durante a conferência, produzir um hambúrguer médio, com duas fatias de pão, carne, tomate, alface, cebola e queixo exige cerca de 2.389 litros de água, contra 140 litros para produzir uma xícara de café e 135 litros para um ovo. Para elaborar um prato médio de arroz, carne e verduras são necessários 4.230 litros de água, enquanto um grosso e suculento bife pode consumir até sete mil litros.
Ao falar ontem aos delegados, Colin Chartres, diretor-geral do Instituto Internacional para o Manejo da Água (IWMI), opinou que será possível fornecer alimento aos nove bilhões de habitantes que o planeta terá em 2050. “Contudo, devemos refletir sobre o custo ambiental em termos de extração de água e de recursos terrestres”, afirmou. Além disso, isso exercerá uma enorme pressão sobre os serviços dos ecossistemas dos quais depende a sociedade.
“Economizar água reduzindo o desperdício de comida, aumentar a produtividade, melhorar geneticamente as plantas e reciclar a água são passos fundamentais para todos”, ressaltou Chartres, ganhador do Prêmio da Água de Estocolmo 2012. Por sua vez, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, destacou que as estatísticas demonstram que o setor agrícola é um dos mais importantes consumidores de água.
“Também significa que a agricultura tem a chave para o uso sustentável da água”, afirmou Graziano. Investir nos pequenos agricultores “é fundamental para alcançar a segurança alimentar e da água para todos”, ressaltou. O estudo Alimentando um Mundo Sedento: Desafios e Oportunidades para um Futuro com Segurança Alimentar e de Água, de 50 páginas, apresentado pelo Siwi em Estocolmo, indica que quase um bilhão de pessoas ainda sofrem fome e desnutrição, apesar de a produção de alimentos por habitante ter crescido de forma sustentada.
Segundo o informe, conseguir a segurança alimentar é um desafio complexo, que implica considerar vários fatores. Dois dos mais importantes são a água e a energia, essenciais para a produção de comida. Seu editor principal, Anders Jagerskog, disse que alimentar a população mundial é o maior desafio para este século. “A sobrealimentação, a desnutrição e o desperdício (de comida) estão crescendo, e o aumento da produção poderá sofrer no futuro limitações pela falta de água. Precisamos uma nova receita para alimentar o mundo no futuro”, alertou Jagerskog. Envolverde/IPS

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