As Olimpíadas no país sem direito ao esporte, artigo de Bruno Lima Rocha




Na sexta-feira dia 02 de outubro, o país dos extremos viveu mais um contra senso. O governo de Lula, o mesmo que cortou em 85,69% o orçamento do Ministério do Esporte (ME) para 2009, comemora a realização de uma Olimpíada no Brasil. Entramos em júbilo quando o Rio de Janeiro foi eleito como cidade sede das Olimpíadas de 2016. O presidente fez-se acompanhar por um verdadeiro séquito de atletas, ex-atletas, dirigentes esportivos, personalidades, ministros e políticos no exercício do mandato. Autoridades choraram copiosamente e cantaram com desenvoltura. Tudo estaria perfeito, caso não faltasse o principal elemento. Na festa olímpica brasileira, faltou o direito ao esporte.
Logo após o anúncio acompanhei toda a mídia possível, com especial atenção aos críticos da realização dos Jogos. A preocupação majoritária, muito justa por sinal, era a de superfaturamento das obras no Rio, a julgar pela balbúrdia no Panamericano de 2007. Infelizmente, nenhuma palavra foi dita a respeito do Ministério do Esporte, seu orçamento ínfimo e da ausência do esporte olímpico como base da educação física brasileira. Trata-se de um problema de fundo estrutural e não vejo autoridade neste governo de turno ou nos anteriores com disposição para aí intervir.
O Estado brasileiro faz tudo ao contrário. A educação para o desporto não deveria ser uma atividade vinculada somente à Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED), órgão da pasta comandada pelo ex-presidente da UNE, Orlando Silva Jr, mas sim como parte do orçamento do Ministério da Educação. Subordinadas ao ME, as práticas desportivas ficam restritas a ações de tipo terceiro setor e repartindo as migalhas de um orçamento que, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), em março deste ano foi reduzido de quase nada a nada, passando de R$ 1,37 bilhão para míseros R$ 196,8 milhões. Dentro deste parco recurso está a SNEED com os programas Segundo Tempo (com extensão para o Recreio nas Férias) e Programas Esportivos Sociais (PES projetos especiais para criança e adolescente). Ambos têm como base parcerias de entidades privadas, sendo que o PES é essencialmente financiado pela isenção fiscal. Ou seja, se não há universalização, não há política pública.
Estas atividades não deveriam passar pela via crucis de editais e entidades proponentes, mas sim existirem como disciplinas de contra turno da rede pública de ensino fundamental e médio. Se a prática de modalidades olímpicas é um direito, a juventude brasileira não poderia jamais ser vista como “público alvo” de projetos terceirizados. Ou a nação assegura esse direito através da motivação pelo empreendimento olímpico, ou não resolveremos este problema jamais. É a partir de agora ou nunca.
Leia Mais: Estratégia & Análise: a política, a economia e a ideologia na ponta da adaga.
Colaboração de Bruno Lima Rocha, cientista político com doutorado e mestrado pela UFRGS, jornalista formado na UFRJ; docente de comunicação e pesquisador 1 da Unisinos; membro do Grupo Cepos e editor do portar Estratégia & Análise.
EcoDebate, 10/10/2009

Um comentário:

  1. Para tanto radicalismo, enquanto a imprensa mundial exalta a atuacao do presidente, só vejo uma saída para isso: o retorno do neoliberalismo do PSDB para ver se a coisa sai certa, mesmo porque quem critica tanto até agora nao apresenta nada de concreto.
    Pedro de Alencar

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