O Petróleo e desafios do Projeto Popular para o Brasil

A luta de classes no Brasil, na América Latina, África e tantos outros lugares do mundo passa pela defesa da soberania nacional, especialmente pelo controle dos recursos naturais e estratégicos. A principal luta, com maior radicalidade, conquista para o povo e enfrentamento com o imperialismo nos últimos anos passou por essas lutas, com vitórias como na Bolívia, na Venezuela, como na composição que levou a vitória popular no Equador, no Paraguai, no Uruguai, e assim sucessivamente. Há um sinal claro que marca um novo momento da luta pelos recursos estratégicos, que no Brasil se destacam o petróleo, a biodiversidade, a água, a terra. E são lutas que se agrupam em uma síntese: defesa do solo e subsolo, alvo da sanha do imperialismo e que na divisão internacional do trabalho define como estratégicas no nosso país e continente. Nesse caso temos um conflito aberto de interesses que poderíamos resumir em dois campos muito cristalinos: forças populares e os interesses da burguesia brasileira e internacional. E nesse meio temos um "campo" que pode jogar um papel de coesão entre setores dos dois campos principais e resultar numa saída conciliadora que na nossa história sempre foi à expressão dos interesses da burguesia com alguma dimensão popular, sempre efêmera, homeopática. Construir um campo que privilegie as forças organizadas em torno da soberania nacional e popular - como o tema do petróleo - e impedir que o bloco antipopular se consolide é estratégico e perpassa o pré sal.

A humanidade passa por uma crise econômica, social e ambiental. Não temos clareza de como sairemos - e se sairemos - dessa crise. Certo é que a saída não poderá repetir o receituário de outrora, baseada na indústria e no alto consumo, sobretudo do transporte individual, do carro, aumentando o consumo de petróleo, e resultando no aumento progressivo da poluição. A saída terá que passar pelo consumo das economias centrais, e a luta pelos recursos estratégicos e pelo petróleo não é para assegurar o ritmo de consumo crescente, mas, sobretudo para que sejam utilizados seus recursos para desenvolver pesquisas em energia limpa e renovável, que não tenha impacto ambiental e social(*). A perspectiva é que essas energias substituam o poluente óleo negro, em perspectiva de acabar com o que ficou conhecido como a era do petróleo. Porém, isso ocorrendo e de forma exitosa, poderá substituir o petróleo como fonte de energia, mas muito provavelmente sua importância como matéria prima seguirá crescendo e ganhando importância. Portanto, lutamos pelo petróleo, para acelerar a sua substituição como fonte de energia e gestar, sob controle do estado, toda sua cadeia produtiva.

As questões apresentadas estão inseridas no contexto da luta de classes e são direcionadas para o fortalecimento do papel do Estado, em uma luta estratégica que exigirá a mobilização de amplos setores do campo democrático, nacional, popular e socialista. A estatização nesse sentido se insere como um contraponto ao mercado, ao domínio do mercado de toda economia, que busca intensificar a rapina e maximizar os lucros. Isso não obscurece o entendimento de que esse mesmo Estado é um instrumento construído e utilizado em defesa dos interesses das mesmas classes dominantes na manutenção do capitalismo. Esse é o objetivo e parte da luta e construção do Projeto Popular para o Brasil, abrindo portas para uma sociedade justa, fraterna e solidária com os demais povos do mundo, o socialismo, com controle do estado pelos trabalhadores e a economia organizada a partir das prioridades e interesses do povo e integrada com a classe trabalhadora de todo o mundo.
(*) Não se tratando portanto de tornar o Brasil um produtor dos agrocombustíveis, substituindo a produção de alimentos, nem tampouco a construção de barragens, aparentemente energia limpa e renovável, que no Brasil é sinônimo de expulsão do campo, de muito sofrimento, de forte impacto social



Ronaldo Tamberlini Pagotto *

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