Todo dia, abro minha caixinha de correspondência e sou obrigada a deletar, bloquear, mandar pras alturas várias mensagens inconvenientes, desagradáveis e mentirosas… ‘aumente seu pênis’, ‘tenha orgasmos múltiplos’, ‘viagens e planos de saúde por R$1,99’… Isso é ou não é propaganda enganosa?
E, ultimamente, cresceu o número de mensagens sobre as falácias emagrecedoras. Vejam algumas das tantas pérolas:
“Chá de Folha de Oliveira ajuda a perder 6kg por mês!”
“Perca 4KG a cada 11 dias”
“Perca 20 quilos por mês comendo semente de abóbora”
“Perdi 10 quilos em uma semana comendo macarrão”
“Obesidade – EMAGREÇA SEM DIETA”
Haja paciência! Espero que o CONAR – da mesma forma que restringiu a propaganda enganosa de “empresas ‘verdes”, coibndo a banalização da sustentabilizadade, passe a cuidar desse tema tão importante.
Claro que deve haver leitor-consumidor – obeso e desesperado – caindo na estória. Mente insana em corpo insano. “O processo de engorda - segundo o médico Américo Marques Canhoto – está de forma sombria inserido no DNA cultural da maioria dos povos”*.
O excesso (ou sobrepeso, como trata a medicina) e a obesidade são epidemia no Brasil, segundo pesquisa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O sobrepeso atinge:
- mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade,
- cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos e
- 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima de 20 anos.
Não sei se o bolso influi na obesidade. Mas, entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. E aí se concentra o maior percentual de obesos: 17%.
O problema é mundial. Nos Estados Unidos e China, a obesidade é caso de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2010, nos EUA, mais de 74% das pessoas com 15 anos ou mais são classificadas como acima do peso. E, na China, 38,5% da população de 15 anos ou mais estava acima do peso. Embora os números sejam menores, a expansão da taxa de obesidade dentre a população chinesa é gritante. Logo, logo, terá tantos obesos quanto os EUA.
Estranho é que essa epidemia ocorre justamente na Era da Cultura do Corpo. Onde está o fato gerador disso? Na falta de informação? Na desinformação desenfreada?
Interessante o raciocínio de Nara Rejane Oliveira, Mestre em Educação Física pela UNICAMP e Doutoranda em Educação pela USP, em seu ensaio “Cultura do corpo na pós-modernidade: reflexões para a Educação Física”.
Ela diz que “O mais contraditório é que em nome da qualidade de vida e da saúde, tão divulgadas pela medicina atual, as pessoas parecem vivenciar uma nova patologia na modernidade tardia, se submetendo a rigorosos tratamentos e intervenções sobre o corpo, muitas vezes agredindo o próprio organismo. Não é à toa que anorexia, bulimia, dentre outras, figuram como doenças típicas da atualidade, assolando principalmente pessoas mais jovens. “Parecer” bonito, saudável, adepto a uma (pseudo) qualidade de vida é o que importa. A essência do corpo, ou o próprio ser (GIL, 1997), parece não importar tanto”**.
Acho que, em nome desse “parecer bonito e saudável”, podemos pensar em saúde, em comer comida saudável, em praticar exercícios saudáveis, em cultuar nosso corpo da forma mais correta e saudável possível…
Enfim, acho que devemos, mais do que nunca, usarmos todos os nossos conhecimentos adquiridos e adotarmos hábitos que nos garantam – de verdade – a sadia qualidade de vida.
Vamos cuidar da essência do nosso corpo. Mesmo que isso represente o sacrifício de fechar a boca para algumas guloseimas. E os ouvidos para as mentiras dos marqueteiros de plantão.
Ana Echevenguá – advogada ambientalista – OAB/SC 17.413ana@ecoeacao.com.br
Instituto Eco&Ação – www.ecoeacao.com.br
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EcoDebate, 29/08/2011
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