Rio+20: Brasil retrocedeu 20 anos com Dilma, diz Marina Silva


Marina Silva diz que o Brasil amargou importantes retrocessos na área ambiental no último ano. Foto: Renato Araújo/Agência Brasil
Marina Silva diz que o Brasil amargou importantes retrocessos na área ambiental no último ano
Foto: Renato Araújo/Agência Brasil

Enquanto o governo brasileiro demonstra otimismo em sediar o maior evento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre sustentabilidade, a Rio+20, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva denuncia a pauta "esvaziada" de temas ambientais da conferência que vai ocorrer entre 20 e 22 de junho. Em entrevista exclusiva ao Terra, a ex-senadora e líder socioambiental não poupou críticas ao governo Dilma Rousseff, que classificou como o pior dos últimos 20 anos em relação ao meio ambiente.
Segundo Marina, que disputou as eleições presidenciais em 2010, em apenas um ano de gestão da petista o Brasil amargou importantes retrocessos na política ambiental. "Estamos vivendo hoje, em um ano do governo Dilma, uma situação de claro retrocesso em relação a tudo que foi feito ao longo dos últimos 20 anos", afirmou. Ela citou como exemplos a votação do Código Florestal, que "diminui a proteção integral, amplia o desmatamento sobre áreas preservadas e beneficia o desmatador" e as restrições à atuação do Ibama. Marina ainda lamentou a "fraca" atuação do Ministério do Meio Ambiente que, segundo ela, "trabalha para fortalecer a agenda dos que lhe são contrários". Confira.
Terra - Vinte anos após a realização da Eco-92 no Rio de Janeiro, a senhora considera que houve avanço concreto em relação à preservação do ambiente?
Marina Silva - 
O maior avanço foi o aumento da consciência das pessoas. Vinte anos atrás, o nível de consciência que as pessoas tinham sobre reciclagem, proteção das florestas, mudanças climáticas e uma série de outros temas era muito menor. Isso possibilitou que fosse criada uma base de sustentação política para a formatação de várias leis importantes no Brasil que não teriam se sustentado ao longo desses 20 anos se não fosse a ampliação da consciência e do senso de responsabilidade que as pessoas passaram a ter em relação aos recursos naturais. Graças a isso, temos um dos melhores arcabouços legais sobre o meio ambiente e o País é signatário de todas as convenções importantes, como a Convenção do Clima e da Biodiversidade. Agora, precisamos estar atentos que estamos vivendo hoje, em um ano do governo Dilma, uma situação de claro retrocesso em relação a tudo que foi feito ao longo desses 20 anos.
Terra - A senhora considera o Código Florestal um retrocesso?
Marina - 
O Código Florestal é o maior de todos os retrocessos, mas o retrocesso está em toda parte. Está na flexibilização da legislação em vários aspectos, como, por exemplo, na remoção de uma série de cuidados legais em relação à proteção das cavernas. Assim que nós saímos do governo foi feito um decreto que mudou a forma de proteção das cavernas para facilitar a mineração. Já o Código Florestal é um verdadeiro show de retrocessos porque diminui a proteção integral, amplia o desmatamento sobre áreas preservadas e beneficia o desmatador.
Terra - Esse retrocesso se refere às políticas adotadas por Dilma em comparação com outros presidentes?
Marina - 
Sim, do primeiro ano de Dilma no poder em relação aos últimos governos, desde a Constituição de 1988. Nesse período, os governos, com mais ou menos dificuldade, fizeram avanços. Esse é o primeiro governo que só se tem retrocessos. É o Código Florestal que foi transformado em um código agrário, é a redução das competências do Ibama para fiscalizar o desmatamento, a flexibilização do processo de licenciamento ambiental, que passa a ser muito mais um processo político do que técnico para dizer se os projetos de infraestrutura são viáveis ou não. Além disso, temos uma ação do Congresso sem nenhuma articulação do governo como era feito em gestões anteriores. Antes a sociedade pressionava e, de certa forma, ajudava os governos no sentido de dar respaldo para não deixar os retrocessos acontecerem no Congresso. Dessa vez, a própria base do governo opera para viabilizar o retrocesso. (...) Obviamente que é o primeiro ano do governo e os erros ainda podem ser corrigidos.
Terra - O governo já demonstrou interesse em adiar a votação do Código Florestal para depois da Rio+20. O que a senhora acha disso?
Marina - 
Isso já foi dito para o governo: nós vamos chegar na Rio+20 como se fosse Rio-20. No lugar de estarmos avançando na agenda ambiental, estaremos retrocedendo. Por isso que o mais sensato é deixar essa discussão para depois, para que possamos dialogar, pensar, e não permitir que todo o esforço conquistado ao longo dos últimos anos venha a ser removido como está sendo feito. O pior é que essa desconstrução é feita em cima dos ganhos, porque o Brasil passou a ter uma imagem boa lá fora. Ao mesmo tempo em que fala dessa imagem boa, o governo mina as bases que deram sustentação a tudo isso.
Terra - Atrasar a votação para depois da Rio+20 para evitar constrangimentos não seria pior?
Marina -
 Depende, se o governo quiser chegar com uma agenda campeã de retrocessos, se for esse o objetivo do governo, não entendo por que seria constrangedor. Para mim, constrangedor ao Brasil, que tem liderado uma agenda de redução das emissões de gás carbônico e de desmatamento, que assumiu metas na Convenção das Mudanças Climáticas, que conseguiu dar uma contribuição importante na redução da perda da biodiversidade, principalmente durante o governo do presidente Lula, que criou mais de 24 milhões de hectares de conservação, é chegar lá tendo minado as bases legais que poderiam levar o País a outro modelo de desenvolvimento. Constrangimento é mudar o teste ao invés de se propor a passar no teste.
Terra - A senhora acredita que a presidente possa vetar o Código Florestal, caso ele seja aprovado pelos parlamentares da forma como está proposto?
Marina - 
Pelo menos 80% da sociedade, segundo pesquisas, não quer esse código. Na campanha ela assumiu o compromisso de vetar qualquer projeto que significasse aumento no desmatamento e anistia a desmatadores. A mobilização da sociedade ajuda a dar mais respaldo político para esse veto, mas é claro que seria melhor que todos os problemas fossem corrigidos no Congresso, para que a presidente não precisasse criar uma situação incômoda com os parlamentares. Qualquer governo precisa ter uma postura de alinhamento com sua base de sustentação, mas até esse momento se apostou no "quanto pior, melhor". O que prevalece até agora é que o compromisso da presidente não foi respeitado na tramitação do projeto no Congresso. Espero que a sociedade de respaldo político para que ela vete esse código.
Terra - Como a senhora classifica a atuação da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, frente às discussões para a Rio+20 e o debate do Código Florestal?
Marina - 
É a primeira vez que vejo um Ministério do Meio Ambiente sem operar na direção de fortalecer sua agenda, atuando muito mais no sentido de fortalecer a agenda daqueles que lhe são contrários. A sociedade busca uma interlocução direta, com o ministro Pallocci, na época dele, e agora com o secretário Gilberto Carvalho, porque não encontra mais no Ministério do Meio Ambiente um espaço de interação que promova a agenda ambiental.
Terra - O governo Dilma teria influência no que os cientistas classificam como uma pauta esvaziada de temas ambientais para a Rio+20?
Marina - 
O país que sedia tem uma influência em qualquer conferência. Por incrível que pareça, em 1992 tinha-se uma agenda de incentivo a agenda socioambiental. Em 2012 houve um tencionamento para exilar os temas ambientais e transformar a conferência que nasce sobre a égide de uma crise global sem precedentes no clima, na biodiversidade, na desertificação, em uma agenda puramente econômica e social. Como se tratar os problemas econômicos e sociais fosse incompatível com tratar os problemas ambientais. Só haverá uma solução sustentável para os problemas econômicos e sociais quando os danos ambientais forem resolvidos, porque o planeta já está colapsando. Os cientistas estão muito certos em afirmar que houve um esvaziamento proposital da conferência e isso é muito coerente com o retrocesso que está acontecendo aqui. Juntando isso com a crise econômica, os demais países e a Organização das Nações Unidas acabaram entrando nessa proposta esvaziada.

Angela Chagas

BLOCO AFRO ATABAQUE QUILOMBO ERÊ- MICARETA JACOBINA 2012

Bata do Bloco Atabaque Quilombo Erê para o micareta 2012

A Associação Atabaque Quilombo Erê apresenta a Bata que desfilará nos dias 21 e 22 (sábado e domingo) no micareta 2012. A estampa da Bata é de criação do artística plástico Cícero Matos. Se você é amante ou adepto do mundo afro adquira a sua Bata com Júnior, através do telefone 9122-9690 ou pelo e-mail chanjuniorcapoeira@gmail.com.

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Fábrica de água mineral da Coca-Cola será instalada no município de Alagoianhas


Enquanto o Secretário de Industria, Comércio e Mineração juntamente com o deputado estadual e ex-prefeito de Alagoinhas, Joseildo enxergam o LENÇOL FREÁTICO DE SÃO SEBASTIÃO como negócio, no mesmo contexto que o pessoal do "Carlismo" enxergavam quando trouxeram o Polo Petroquímico de Camaçari e todas as industrias cervejeiras para a região de Feira de Santana, Alagoinhas, Dias Dávila e etc o governo atual tem a mesma visão, exporta a melhor água mineral da Bahia através dos manufaturados pelo POLO e pelas cervejarias e o soteropolitano bebe água de outra Bacia, que é a do Paraguaçu que hoje já sofre com situação de escassez em algum ponto. Recebe a bomba do veneno do Polo de Irrigação de Mucugê, do plantio de abacaxi na região de Itaberaba e um pouquinho do veneno da agricultura fumageira na região onde se encontra a Barragem de Pedra do Cavalo que abastece as duas maiores cidades da Bahia, Feira de Santana e Salvador. Sem contar que o governo da Bahia concedeu a PCH - Pequena Central Hidrelétrica de Pedra do Cavalo a Votorantim para ter energia mais barata e acumularem mais as custas da bacia do Paraguaçu.

Inicialmente eu era contra a COBRANÇA pele uso água conforme estabelece a Lei Federal Nº 9.433/97. Por que o governo da Bahia não adere a COBRANÇA pelo uso da água? Assim procedendo abre mão para que a multinacional COCA -COLA venha literalmente explorar as águas minerais do Lençol Freático de São Sebastião. Se a Bahia já estivesse implantado a COBRANÇA pelo uso da água e você conterrâneo fizesse a pergunta, quantos M3 de água a FORD gasta para produzir um veículo? Quantos M3 de água a BRASKEM  usa em suas diversas fórmulas exportadas para o mundo todo? Quantos M3 de água vão usarem os chineses que vão instalar fábricas automotivas na Bahia?


Na Europa a DIRETIVA QUADRO têm todos estes dados a longo prazo (mínimo 20 anos). A EMABSA já vem passando por situações difíceis quanto o abastecimento de água no período de verão em Salvador e região metropolitana, a transposição de águas da bacia do Paraguassu para a bacia do Litoral Norte  entrou na fase máxima de sua capacidade. Se exportamos toda água da Lençol freático de São Sebastião teremos água na bacia do Paraguaçu para atender a demanda de Feira de Santana, Salvador e região metropolitana?
Pelo menos cobrando a quem mais usa, se tivéssemos gestão poderíamos em parte resolver a situação da escassez e conflito pelo água na Bacia do Salitre e agora agravada na bacia do Verde e Jacaré.

LEIAM A MATÉRIA NO SAMUEL CELESTINO:

Quarta, 28 de Março de 2012 - 00:00

por Fernanda Aragão

Alagoinhas: Fábrica de água mineral da Coca-Cola será instalada no município
Foto: Rogério Rocha
Uma fábrica de água mineral do grupo Coca-Cola será instalada no município de Alagoinhas, no nordeste da Bahia, segundo garantiu o secretário de Indústria, Comércio e Mineração (SICM), James Correa, ao deputado Joseildo Ramos (PT), em reunião realizada na segunda-feira (26). No dia 11 de abril, será assinado o protocolo de intenções entre o governo estadual e a fábrica “Norsa”. “ A intenção da empresa era se instalar em Camaçari, mas consideramos as ponderações de Joseildo e a empresa optou por Alagoinhas”, disse o secretário. A chegada do empreendimento consolida o município como pólo de produção de bebidas do Nordeste. Segundo o deputado, além desta fábrica da Coca-Cola, “outra grande empresa do ramo já definiu sua instalação na cidade”. Há rumores de que seja uma cervejaria. A expectativa é de que as duas empresas gerem milhares de empregos diretos e indiretos na região.

Transposição - E o bispo tinha razão...


 
Dom Luiz Cáppio 
“Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho". Com esta ideia, o bispo franciscano de Barra–BA dom Luiz Cappio justificava seus dois jejuns, em 2005 e 2007, contra o projeto de transposição, em defesa do Rio São Francisco e do semiárido brasileiro. Dizia que o projeto, além de ignorar o mal estado do rio, visava, como sempre no Nordeste, concentrar água, terra e poder, levaria dinheiro público para o ralo e votos para urnas e – vaticínio profético? – não seria concluído.

E não é que, não à parte a loucura, ele tinha razão! Quatro anos e meio depois de iniciado, o projeto capenga, confirmando as críticas do bispo, de cientistas respeitados e dos movimentos populares. O próprio sertanejo da região “beneficiada", até aqui iludido com a mítica promessa, começa a desconfiar.

Como já estamos em temporada eleitoral, ficam mais claras tanto as manobras do governo como as da oposição, a mídia a reboque. O início de 2012 é pródigo em matérias em vários veículos sobre o desandar da transposição. O governo corre a cons(c)ertar... Em meio ao jogo dos interesses – de empreiteiras, políticos, empresas da indústria e do agronegócio e da mídia a estes ligados – nem sempre se evidenciam os fatos dando razão ao bispo e aos demais críticos.

Já em outubro de 2011, por ocasião do 4 de outubro, dia do santo e do rio São Francisco, a Articulação Popular São Francisco Vivo, com mais de 300 entidades da Bacia, lançava documento chamando atenção para a confirmação de quase todas as principais críticas ao projeto:

1. A obra seria muito mais cara que o previsto: de 5 bilhões iniciais já estão reajustadas em 6,8 bilhões, um aditivo de 1,8 bilhões, 36% em média. Há lotes ainda não re-licitados, o que vai onerar ainda mais o preço final.

2. Não atenderia a população mais necessitada: efetivamente, não pôs uma gota d’água para nenhum necessitado; antes desmantelou a produção agrícola local por onde passou.

3. O custo da água seria inviável: hoje o governo reconhece que o metro cúbico valerá cerca de R$ 0,13 (poderá ser ainda bem maior), seis vezes maior que às margens do São Francisco, onde muitos irrigantes estão inadimplentes por dívidas com os sistemas de água. Para ser economicamente viável, este preço terá que ser subsidiado, e é certo que o povo pagará a conta;

4. Impactaria comunidades indígenas e quilombolas: comunidades quilombolas impactadas são 50 e povos indígenas nove. As demarcações de seus territórios foram emperradas, patrimônios destruídos. No caso dos Truká, em Cabrobó – PE, em cuja área o Exército iniciou o Eixo Norte, o território já identificado é demarcado se aceitarem as obras.  No caso dos Tumbalalá, em Curaçá e Abaré – BA, na outra margem, se aceitarem a barragem de Pedra Branca. Ainda não foi demarcado pela FUNAI o território Pipipã e concluído o processo Kambiwá, a serem cortados pelos futuros canais, ao pé da Serra Negra, em Pernambuco, monumento natural e sagrado de vários povos. Muitas destas comunidades resistem. Em Serra Negra povoado e assentamento de reforma agrária não admitem as obras em seu espaço.

5. Destruiria o meio ambiente: grandes porções da caatinga foram desmatadas. Inventário florestal levantou mais de mil espécies vegetais somente no Eixo Leste.

6. Empregos precários e temporários: como sintetizou o cacique Neguinho Truká, “os empregos foram temporários, os problemas são permanentes”. Em Cabrobó, nada restou da prometida dinamização econômica, só decepção e revolta. Nas cidades por onde a obra passou ficou um rastro de comércio desorientado, casas vazias, gente desempregada, adolescentes grávidas...

7. Arrastadas no tempo, a obra se presta a “transpor” votos e recursos: não debela, antes realimenta a “indústria política da seca”. Nova precisão de data para conclusão: 2014! Vem mais uma eleição aí, em 2012, outra em 2014...

8. Faltam duas das conseqüências graves a serem totalmente comprovadas, que só teremos certeza se a obra chegar ao fim: vai impactar ainda mais o rio São Francisco e não vai levar água para os necessitados do Nordeste Setentrional. Enfim, a Transposição é para o agro-hidronegócio e pólos industriais do Pecém (CE) e Suape (PE).”

As obras começaram apressadas sob pressão político-eleitoral. Foram aprovados e iniciados projetos sem suficiente detalhamento. Ignoraram-se solenemente as condições climáticas e geológicas da região. O resultado logo apareceu: canais rachados, túneis desabando, deslizamento de solo, infiltrações... Montanhas de dinheiro público jogado fora! O governo diz que a responsabilidade pela reconstrução é das empresas... Mas o custo total da obra já foi acrescido em 36%. E o prazo dilatado para 2015. E ainda faltam 30% do eixo leste (287 km) e 54% do eixo norte (426 km). Se tudo ficar pronto mesmo, pleno funcionamento só em 2030! Até lá quanto ainda vai custar aos cofres públicos, à paciência sertaneja e nacional e à verdade científica e ética?

Empregos frustrados, caatinga devastada, animais mortos, lavouras perdidas, difícil recomeço para quem perdeu o que tinha e foi mal indenizado... Maria Rosa, aposentada, do povoado Montevidéu, em Salgueiro-PE, disse à reportagem do Jornal do Commercio (Recife, 07/02/2012) indignada sem a água que a obra da transposição ao invés de trazer estancou: “Cadê essa água que não chega? Só quando Deus mandar. Eu vou ficar aqui esperando por Deus. Diz que quem espera por Deus não cansa e eu acho que estou cansando, mas vou levando”. Todo estardalhaço da mirabolante transposição até agora fez foi confirmou a “sina” nordestina de conformismo e resistência, do que o bispo Cappio bem entende há quase 40 anos. A luta de sempre continua!

Ruben Siqueira
CPT Bahia / Articulação Popular São Francisco Vivo

O trator ruralista entra em campo: Em todos os confrontos diretos, o governo foi derrotado


 
As derrotas do governo para o agronegócio fragilizaram a fiscalização contra o desmatamento e não devem terminar por aí
A crise enfrentada pela presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional já tem um efeito prático: a maior fragilidade das leis e do poder de fiscalização de atividades com grande potencial de degradação ambiental. O cerco da bancada ruralista ao Palácio do Planalto, protagonizado por parlamentares de um dos principais partidos aliados do governo — o PMDB —, resultou num Código Florestal mais flexível, em menor poder de punição pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e num provável esvaziamento do Executivo na demarcação de terras indígenas, unidades de conservação e comunidades quilombolas. A força dos ruralistas no Congresso deve resultar ainda no enfraquecimento da Lei da Mata Atlântica, sancionada em 2006, e na maior exploração de atividades de mineração em terras indígenas. Reportagem de Vinicius Sassine, no Correio Braziliense.
Em menos de um ano, a presidente Dilma coleciona três derrotas para a bancada ruralista que vão bem além da crise política. Em maio do ano passado, o plenário da Câmara aprovou um texto do Código Florestal indesejado pelo Planalto. A derrota foi amenizada no Senado, mas, de volta à Câmara, a proposta voltou a ser capitaneada pelos ruralistas, que cobram uma data para a votação. O texto a ser votado, na visão do governo, é pior do que o validado pelos senadores.
Será mais um revés, como a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 215/2000 pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na última quarta-feira. A matéria transfere do Executivo para o Congresso Nacional a atribuição exclusiva para demarcar terras indígenas, parques federais e espaços quilombolas. Os peemedebistas foram decisivos para a aprovação na CCJ. O esforço do governo, agora, é evitar o avanço da PEC na Câmara. Um roteiro muito semelhante à tramitação do Código Florestal.
O Ibama a serviço do governo da presidente Dilma é um órgão com menor poder de fiscalização em relação ao governo Lula. O Planalto se viu derrotado no Senado, em outubro, quando um projeto de lei oriundo da Câmara foi aprovado em plenário. A proposta recebeu uma emenda, validada pelos deputados, que retira poder de fiscalização do Ibama. Conforme esse texto, reiterado pelo Senado, prevalecem autuações dos órgãos ambientais que concederam as licenças para determinadas atividades econômicas. Como os estados são os principais responsáveis por licenças (para desmatamentos legais, por exemplo), o órgão federal perdeu poder de autuação. O projeto foi relatado pelos senadores Acir Gurgacz (PDT-RO), Romero Jucá (PMDB-RO) e Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Virou lei em dezembro do ano passado. Agora, o governo prepara uma nova proposta para corrigir essa distorção.
Revés à vista
Além dessas três derrotas, o Palácio do Planalto pode ser atropelado pela bancada ruralista em mais duas situações reais. Um projeto de lei de 2007 flexibiliza a Lei da Mata Atlântica, ao autorizar desmatamentos em pequenas propriedades no bioma e ao permitir atividades agrícolas em áreas de regeneração de mata nativa. O relator da proposta é o deputado Irajá Abreu (PSD-TO), filho da senadora Kátia Abreu. Na prática, o projeto ressuscita vetos do então presidente Lula, decididos na sanção da lei, em 2006. A bancada ruralista pressiona para que o projeto seja votado com urgência na Comissão de Meio Ambiente da Câmara. Irajá Abreu disse ao Correio que a votação ocorrerá na próxima semana.
Um projeto de 1996, de autoria do senador Romero Jucá regula a exploração de recursos minerais em terras indígenas. Uma comissão especial foi criada na Câmara para analisar a proposta. Deputados ruralistas dominam o colegiado. Na última terça-feira, a comissão aprovou um requerimento para ouvir o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O objetivo é saber o que o governo pensa sobre o assunto.
Refém de uma bancada
Em todos os confrontos diretos, o governo foi derrotado pelos ruralistas:
Novo Código Florestal
» O governo foi amplamente derrotado durante a tramitação da proposta na Câmara, recuperou alguns pontos no Senado, e, agora, volta a ser chantageado pelo agronegócio.
PEC 215
» A bancada tratorou o Planalto e conseguiu uma importante vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara: a aprovação da proposta que transfere para o Congresso a exclusividade na delimitação de terras indígenas, unidades de conservação e comunidades quilombolas.
Menos poder ao Ibama
» Um projeto de lei de 2003, por iniciativa do Partido Verde (PV), recebeu emenda em 2009 e, no Senado, teve como relatores parlamentares da bancada ruralista. O resultado foi a retirada de poder do Ibama na autuação de crimes ambientais, como desmatamentos. O projeto virou lei, sancionada pela presidente Dilma Rousseff.
Mineração em terras indígenas
» Deputados e senadores estão de olho na exploração mineral em terras indígenas. Para analisar um projeto de lei oriundo do Senado, de 1996, a Câmara constituiu uma comissão especial. Deputados ruralistas estão na linha de frente da comissão.
Alteração da Lei da Mata Atlântica
» Os ruralistas tentam na Câmara alterar a Lei da Mata Atlântica, sancionada pelo presidente Lula em 2006. O projeto é relatado pelo deputado Irajá Abreu (PSD-TO), filho da presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO).
Reportagem no Correio Braziliense, socializada pelo ClippingMP.
EcoDebate, 26/03/2012
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'VOLTOU TUDO, SÓ FALTA A ONÇA-PINTADA'


 
Parque Estadual Serra do Mar
Seu Paulo, 52 anos, conhece a parte norte do Parque Estadual da Serra do Mar talvez melhor do que ninguém. Nasceu e cresceu dentro do Núcleo Cunha do parque, que meio século atrás era uma fazenda de gado, madeira e carvão. "Nessa região aqui eu conheço tudo. Tudo mesmo", diz Paulo Rosário Araújo. E ele garante: aumentou muito o número de animais selvagens desde a criação do parque, em 1977. "Voltou muito bicho. Porco-do-mato você só via lá pra baixo, no litoral, agora tem de monte aqui pra cima. Anta também voltou muito; tem lugar que é igual vaca."
Os predadores também voltaram. E não os da espécie humana, apesar de o parque ainda sofrer com invasões de caçadores. Onças-pardas, jaguatiricas e outros carnívoros são registrados com frequência na região. Só falta uma espécie para completar a cadeia alimentar: a onça-pintada, Panthera onca, o maior felino das Américas. Justamente o predador "topo de cadeia". Com tanta comida disponível para ela, os gestores não entendem por que ela não é vista no parque, nem mesmo nessa área mais afastada ao norte, formada pelos núcleos Cunha, Santa Virgínia e Picinguaba.
"Voltou tudo, menos a onça-pintada", diz o gestor do núcleo Santa Virgínia, João Paulo Villani, há mais de 20 anos no parque. Há relatos esporádicos de moradores locais que dizem ter visto uma onça-pintada ou algum vestígio dela, mas difíceis de serem verificados.
O único vestígio "recente" confirmado de uma onça-pintada na região é uma pegada, fotografada em janeiro de 2009, numa trilha do Núcleo Picinguaba. "A pegada não deixa dúvidas, é de uma pintada", diz o especialista Peter Crawshaw, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). "É a confirmação de que a espécie existe ali."
Pesquisadores e conservacionistas, porém, estão longe de se contentar com uma pegada. Desde outubro do ano passado, Crawshaw coordena, em parceria com Sandra Cavalcanti, do Instituto Pró-Carnívoros, um projeto de pesquisa sobre as populações de felinos do parque. O trabalho envolve a colocação de armadilhas fotográficas - câmeras acopladas a sensores de movimento, que disparam um foto quando algo passa na frente delas - em pontos estratégicos da mata, para registrar os animais que circulam por ali.
Até agora, com 22 câmeras, já foram monitorados 60 quilômetros de trilhas no núcleo Santa Virgínia, de um total de 500 quilômetros de trilhas mapeadas nos três núcleos, segundo Kátia Mazzei, biogeógrafa do Instituto Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente que promove a ciência nas unidades de conservação do Estado.
Em cinco meses de monitoramento, as armadilhas já capturaram várias imagens de antas, catetos e queixadas, e também de felinos, como jaguatiricas, maracajás e onças-pardas (também chamadas pumas ou suçuaranas). Mas nenhuma onça-pintada.
"Acho que é só uma questão de tempo", avalia Crawshaw. "Sabemos que ela está lá, mas sua densidade populacional é tão baixa que ela se esconde nas áreas remotas, mais difíceis de chegar. É isso que tem mantido ela ali."
Em um levantamento semelhante realizado em outros parques de Mata Atlântica mais ao sul do Estado, como Carlos Botelho e Intervales, foram registradas mais de 30 fotos de onças-pintadas, de pelo menos 15 animais diferentes. "Isso, em um tempo bem menor do que já estamos pesquisando aqui na Serra do Mar", compara Crawshaw. "E olha que nesses lugares nem tem queixada", a presa principal das onças-pintadas.
Já na região norte da Serra do Mar, as queixadas hoje são abundantes. Provavelmente, em parte, porque faltam onças-pintadas para caçá-las, e a segurança do parque tem conseguido manter a maioria dos caçadores ilegais humanos afastada. "A mata está lá, o alimento está lá; falta melhorar as condições de proteção e reprodução", avalia Crawshaw.
Monitoramento. Com base nos dados obtidos das armadilhas fotográficas, os pesquisadores planejam, numa próxima etapa, capturar alguns felinos - com sorte, incluindo uma onça-pintada - e equipá-los com coleiras de monitoramento remoto, via rádio ou GPS, para que possam rastrear seus movimentos e entender como se movimentam pela região. Será o primeiro estudo desse tipo na Mata Atlântica costeira, onde a espécie ainda é muito pouco estudada.
Estima-se que uma onça-pintada precise de um território de 80 km² para sobreviver. "Não sabemos quantas restam, mas sabemos que é um animal muito ameaçado na Mata Atlântica, pelo tamanho de seu território e pelo nível de fragmentação do bioma", afirma Kátia.

Transposição: a caravana da verdade



CANAL DO SERTÃO - Moradores são presos por tirar uma lata de água para beber (foto Almacks Luiz)

Há pouco mais de um mês, Dilma Rousseff esteve no semiárido nordestino. Afirmou, na ocasião, que foi lá para garantir que as obras da transposição do rio São Francisco andariam. Foram palavras ao vento: a situação continua tão ruim quanto estava, com o agravante de que, neste meio tempo, o governo espetou mais R$ 2,65 bilhões na conta do empreendimento.
A transposição é um dos mais gritantes equívocos em série promovidos pela gestão petista. Seu custo não para de escalar, seus benefícios são duvidosos, sua viabilidade é questionável. É o que a caravana formada por parlamentares do PSDB, do DEM e do PPS poderá conferir in loco hoje no Ceará.
A transposição começou custando R$ 4,8 bilhões. Escalou a R$ 6,8 bilhões em julho passado e agora decolou para R$ 8,2 bilhões. Ou seja, ficou 71% mais cara - sem, contudo, fazer chegar uma gota d'água ao semiárido, conforme mostra hoje O Estado de S.Paulo.
O governo alega que a forte demanda sobre a construção civil e a construção pesada pressionou os valores dos contratos. Mas, no mesmo período em que o preço da transposição quase dobrou, os custos da construção civil só subiram cerca de 7%, tanto no Nordeste quanto na média do país.
No primeiro exercício de Dilma, nove dos 12 lotes do empreendimento chegaram a parar. Para retomar as obras, o governo apelou para o "jeitinho" - o mesmo no qual Aldo Rebelo aposta para o Brasil não fazer feio nas obras da Copa.
Como os aditivos esbarravam no teto legal de 25%, foram criados seis novos contratos, perfazendo mais R$ 2,65 bilhões a serem gastos em obras que já deveriam ter sido cobertas pelos contratos atuais, como mostrou o Jornal do Commercio há dez dias. Os "resíduos" mais caros estão no Eixo Norte, com uma soma de R$ 1,9 bilhão.
Uma das reais razões para o inchaço dos contratos é que, no afã eleitoral, as obras foram tocadas apenas com base em projetos básicos - isto é, pouco mais do que rascunhos e intuição.
Na dura realidade do semiárido, as construtoras depararam-se com situações muito diferentes do que estava no papel - levando, inclusive, a acidentes como o desmoronamento de parte do túnel de Cuncas, que com seus 15 km corta a divisa entre Ceará e Paraíba, em abril de 2011 - e tiveram de tirar o pé do acelerador.
Vedetes do PAC, hoje as obras da transposição estão mesmo é praticamente em ponto morto. 2011 marcou o pior ano de execução do empreendimento, com avanço de apenas 5%. Dos R$ 1,3 bilhão reservados no Orçamento da União do ano passado, apenas 13% foram executados.
Não há mais chance de Dilma inaugurar a transposição integralmente, segundo o próprio balanço oficial do PAC divulgado no início do mês. O eixo norte, que deveria ficar pronto neste ano, tem apenas 19% executados. Na melhor das hipóteses, só será concluído em dezembro de 2015. O leste, prometido para 2010, tem 48% de execução e previsão de término no último mês da gestão Dilma - num claro indício de que a data estimada é fajuta.
A população não foi enganada apenas por custos e cronogramas irreais: o discurso oficial de que a transposição resolverá o problema de abastecimento de água da população do semiárido também é falso.
Apenas 4% da água desviada será usada para consumo humano, mostrou Washington Novaes n'O Estado de S.Paulo: "Desde o estudo de impacto ambiental, foi afirmado que 70% da água transposta iria para irrigação em grandes projetos de exportação, 26% para uso industrial".
Enquanto isso, iniciativas bem-sucedidas de abastecimento humano, como a construção de cisternas de concreto para armazenar água de chuva, foram escanteadas pelo governo federal. A meta, definida por uma coligação de ONGs, a Articulação do Semiárido, era chegar a 1 milhão, mas só 30% foram feitas. Para piorar, a gestão petista anunciou recentemente que pretende passar a adotar cisternas de plástico, que simplesmente estorricam sob o calor nordestino e custam cinco vezes mais.
Em 2009, já no clima de vale-tudo que moveria o PT na campanha eleitoral, Dilma Rousseff aboletou-se ao lado de Lula para protagonizar a "caravana da transposição". Já naquela época, o teatro ficou evidente. Agora, caravanas bem mais verdadeiras servirão para mostrar o que, de fato, está acontecendo no país: uma realidade bem diferente do discurso oficial. E tristemente pior.

Rios brasileiros não têm boa qualidade de água, diz pesquisa da SOS Mata Atlântica


Rio Camboriú no Balneário Camboriú em Santa Catarina é um dos mais limpos rios do país, mas ainda está na classificação  regular 
Rio Camboriú no Balneário Camboriú em Santa Catarina é um dos mais limpos rios do país, mas ainda está na classificação "regular" 
Rios de 11 Estados brasileiros foram analisados pela equipe da Fundação SOS Mata Atlântica e nenhum obteve resultado satisfatório na qualidade da água. Foram realizadas 49 avaliações no Ceará, Piauí, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Nenhum dos pontos de coleta conseguiu a soma necessária para alcançar os níveis “bom” ou “ótimo” --75,5% foram classificados como “regular” e 24,5% no nível “ruim”.

Os melhores resultados foram: Rio Santa Maria da Vitória, em Vitória (ES); Rio Paraíba do Sul, em Resende (RJ); Bica da Marina, em Angra dos Reis (RJ); Arroio Jupira, em Foz do Iguaçu (PR); e do Rio Camboriú, na cidade de Balneário Camboriú (SC), todas com 33 pontos.

Os resultados mais baixos ficaram para os rios Criciúma, na cidade de Criciúma (SC), com 23 pontos, e o Itapicuru Mirim, em Jacobina (BA), com 24 pontos.

“Desde maio de 2009 o projeto tem realizado análises como estas e ainda não chegamos a um rio classificado ao menos como bom. Se compararmos os resultados atuais com os anteriores, verificamos que não há grandes mudanças, o que mostra a necessidade de ações que contribuam para a conservação e a melhoria da qualidade de nossas águas”, disse Malu Ribeiro, coordenadora do Programa Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica.

Análises
A cada semana, o projeto “A Mata Atlântica é aqui – exposição itinerante do cidadão atuante” visita uma cidade diferente e promove atrações gratuitas com a população local. Entre as atividades está a seleção de um ou mais corpos d’água locais para serem analisados. Essas avaliações têm o objetivo de checar a qualidade dos rios, córregos, lagos e outros corpos d’água das cidades e, desta forma, alertar a população sobre a real situação do local onde vive. Para realizar a análise, a equipe conta com um kit de monitoramento desenvolvido pelo Programa Rede das Águas da própria ONG.

O kit classifica a qualidade das águas em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos). Os níveis de pontuação são compostos pelo Índice de Qualidade da Água (IQA), padrão definido no Brasil por resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), obtido pela soma da pontuação de 14 parâmetros físico-químicos, biológicos e de percepção, avaliados com auxílio do kit.

Em cada análise são avaliados a temperatura, turbidez, espumas, lixo, odor, peixes, larvas e vermes brancos ou vermelhos, coliformes totais, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, potencial hidrogeniônico, níveis de nitrato e de fosfato. Cada um destes parâmetros pode acrescentar de um a três pontos, obtendo o mínimo de 14 e máximo de 42 pontos.

Principais alterações de resultados
O ano de 2011 marcou o início do terceiro ciclo anual do projeto itinerante da SOS Mata Atlântica. Neste ciclo, a exposição revisitou algumas cidades e realizou uma nova coleta de água em rios já avaliados pela equipe. Alguns destes resultados tiveram grandes alterações, como é o caso do Córrego Bom Retiro, em Londrina (PR); do Rio Tietê, em Itu (SP); e do Rio Santa Maria da Vitória, Vitória (ES), que ganharam sete pontos em suas análises e passaram da classificação “ruim” para a “regular”.

Outras avaliações com grandes alterações foram as dos rios Criciúma, em Criciúma (SC), que perdeu cinco pontos, e Paquequer, em Teresópolis (RJ), com quatro pontos a menos. Ambos caíram da classificação “regular” para “ruim”.
A iniciativa tem o patrocínio de Bradesco Cartões, Natura e Volkswagen Caminhões & Ônibus.

“A água é essencial para a vida. Não podemos tratá-la como se fosse uma lata de lixo onde jogamos nossos esgotos e o que simplesmente não queremos mais. O cuidado com os recursos hídricos deve ser feito por todos”, destaca Malu.
Uma grande preocupação é com relação à proposta de alterar o Código Florestal, que está atualmente na Câmara. O texto coloca em risco esses importantes ambientes ao propor a consolidação de ocupações irregulares em manguezais ocorridas até 2008, consolidar ocupações urbanas nessas áreas e permitir novas ocupações, sendo 35% em manguezais do Bioma Mata Atlântica e 10% na Amazônia.

Entrevista com o sociólogo e integrante da Equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Bahia, Ruben Siqueira, sobre a água

O sociólogo e integrante da Equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Bahia, Ruben Siqueira, concede entrevista exclusiva ao Jornal Santuário de Aparecida. Ele fala sobre a problemática relacionada à água e o trabalho desenvolvido pela Igreja no Brasil neste sentido.
 
Ruben Siqueira 

Jornal Santuário – Qual é o foco central do trabalho da Igreja no Brasil no que diz respeito à defesa da água?
Ruben Siqueira – Este foco central ficou bem claro com a Campanha da Fraternidade de 2004, cujo tema foi Água e Fraternidade, e o lema Água, Fonte de Vida. O objetivo principal daquela campanha era “conscientizar a sociedade de que a água é fonte de vida, uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da pessoa humana, e mobilizá-la para que esse direito da água com qualidade seja efetivado para as gerações presentes e futuras”. A água como direito e cuidada por todos, com a sociedade mobilizada para fazer isso acontecer – podemos dizer que esta é a linha mestra do trabalho da Igreja no Brasil quanto à água.
Aquela foi uma campanha de grande impacto na sociedade, pressionou as autoridades e vem rendendo resultados. A maior contribuição talvez tenha sido a mudança de concepção da água como “recurso” para a água como “patrimônio hídrico”, bem essencial, vital para a humanidade e os seres vivos – a Comunidade da Vida. Ao considerar os múltiplos e complementares valores da água – o biológico, o ecológico, o simbólico, o religioso, o paisagístico, o lúdico, o social, o político, o econômico – a Igreja questiona o eixo da política hídrica brasileira e mundial centrado no valor econômico da água e na sua mercantilização.
JS – Percebe-se que a água, muitas vezes, é considerada sob uma abordagem destacadamente mercantilista. Como transformar essa visão e ressaltá-la como bem comum mundial?
Siqueira – Não é um luta simples nem fácil. São muito poderosos os interesses privados e privatistas em torno da água. Um bem tão essencial e acessível desigualmente no planeta torna-se um negócio muito rentável. Basta lembrar que duas empresas – Vivendi e Suez – controlam 70% do mercado mundial da água, que é constituído por não mais do que 10 transnacionais. A agricultura consome 70% da água doce disponível. O Brasil, com 12,8% da água doce disponível no mundo, é o país mais privilegiado e mais cobiçado pelo negócio da água, o “hidronegócio”.
O acesso à água no mundo melhorou: segundo as Nações Unidas, em 2010, 6,1 bilhões estavam tendo acesso à água (a qualidade se questiona). Mas 900 milhões ainda não; e 2,5 bilhões continuam sem acesso ao saneamento. Muitos conflitos internacionais têm na água uma de suas motivações, quando não a principal. Quer dizer, a água, tal qual ou mais que matérias-primas como petróleo e minérios, é objeto de disputa e negócio.
A predominância da ideologia neoliberal impõe o mercado como “solução” para todos os males. No caso da água, até potencializa uma escassez mais publicitária que real, com o intuito de intensificar o hidronegócio. Combater esta visão é o que a Igreja e outros setores críticos da sociedade têm tentado. A palavra da Igreja é importante; mais decisivos, porém, são os esforços concretos da Igreja e dos movimentos sociais de resistência à ideologia e às políticas mercantilistas da água em especial, mas também dos outros bens essenciais como a terra, as florestas, o ar, a biodiversidade, etc.
JS – O Brasil está em uma fase de grande desenvolvimento e expansão. Quais as implicações disso? Trata-se de um processo virtuoso, socialmente includente e ambientalmente sustentável?
Siqueira – Na verdade, o desenvolvimento está reduzido a crescimento econômico, como se a expansão da produção e do consumo por si só garantisse acesso aos bens essenciais à vida, com dignidade e sustentabilidade. Temos visto mais sofisticação do consumo do que distribuição efetiva da renda e, menos ainda, da riqueza.
Subjaz a esta orientação política atualmente hegemônica no mundo um modelo cego, fadado ao fracasso, que, se persistir por muito tempo, arrisca destruir o planeta e dizimar a espécie. Isto porque faz que o aumento da demanda por bens (essenciais e supérfluos) e do avanço científico e tecnológico gere uma busca desenfreada de mais e mais lucro, numa produtividade e competitividade sem limites.
É certo que aumenta a população de pobres, mas se eleva também em maior proporção o padrão de vida dos países ricos e dos países emergentes. A humanidade já consome mais recursos do que a natureza é capaz de repor. Estamos aprendendo que os recursos naturais são finitos, mas continuamos a avançar sobre eles como se fossem inesgotáveis e sem considerar seu tempo de reposição. Sabe-se que o padrão de vida do povo estadunidense, o mais alto do mundo, não é possível de ser expandido para todas as nações. Para isso, seriam necessários 4,5 planetas terra!
A crise econômica global tem sido tomada por empresários e governantes do Brasil apenas como oportunidade de grandes negócios. Neste contexto, talvez o mais rico país em bens naturais (terra agricultável, água, biodiversidade, fontes de energia), o Brasil, torne-se a “menina dos olhos” do capital global. Os impactos sociais e ambientais negativos já são sensíveis em todo o território, nos projetos do agronegócio, de mineração, de energia (hidrelétrica, eólica, agrocombustível, nuclear) e nas obras de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, transposições hídricas etc.). Florestas, águas, solos, ares têm sido degradados, irreversivelmente em alguns casos. E os empregos gerados são em maioria precários e temporários.
JS – Para este desenvolvimento é preciso também a produção de muita energia. Nesse contexto, como lidar com questões emblemáticas, como Belo Monte? Especialistas chegam a afirmar que se deve escolher entre Belo Monte ou Angra 3. A situação é assim tão extrema ou há alternativas?
Siqueira – Este modelo é substancialmente “energívoro”, grande devorador de energia. Outras questões são precedentes e mais importantes: mais energia para que, para quem, a que custo, quem paga a conta? Aí vamos descobrir que, no caso da usina hidrelétrica de Belo Monte, o grande usuário da energia a ser gerada é a multinacional Alcoa, que produz alumínio, dos que mais consome energia e mais polui; o maior financiamento será público; os impactos negativos sobre o rio Xingú, as populações indígenas e a riquíssima biodiversidade da região serão irreversíveis; o custo da energia será elevado pela sazonalidade de sua produção (capacidade total em quatro meses de cheias por ano), o que encarece seu uso produtivo, viável apenas repassando custos para produtos e nas contas de todos os usuários de energia.
O privilegiado Brasil dispõe de um grande leque de fontes energéticas: fóssil (petróleo e gás), hidrelétrica, solar, eólica, biomassa. Tem como poucos a possibilidade de diversificar sua matriz energética de maneira equilibrada, econômica, democrática, sustentável. A opção pelas fontes mais onerosas e sujas – a nuclear a pior de todas – serve a interesses minoritários, em sacrifício do povo e do meio ambiente.
É falso, portanto, o dilema Belo Monte ou Angra 3!
JS – Apesar de o governo ter uma grande parcela de responsabilidade nesse cenário, através da formulação de políticas públicas mais bem estruturadas, a sociedade civil também possui sua carga de trabalho. Quais seriam as principais ações que o cidadão comum pode fazer para tentar ajudar na amenização do problema?
Siqueira – À sociedade bem informada, organizada e mobilizada, cabe a tarefa imprescindível de estreitar o campo de manobra de autoridades e empresários do setor hídrico e dos setores usuários da água. Só a presença ativa da cidadania nos espaços de decisões que implicam as águas pode bloquear os processos mercantilizantes, degradantes e excludentes.
Cuidar da água próxima, cotidiana, é bem mais possível e viável do que a preocupação com as águas em geral. Mudar de mentalidade é o primeiro passo: água concretamente é cada gota d’água disponível. Outro passo concreto muito importante é eliminar o desperdício, usar a água com parcimônia, pensando em quem não a tem ou não irá tê-la no futuro. Estas iniciativas individuais, que devem provocar outros ao mesmo comportamento, têm também a função de nos dar autoridade moral para cobrar as políticas de cuidado e preservação da água.
JS – O problema do Brasil não é tanto a disponibilidade de recursos hídricos, mas sim a desigualdade geográfica da distribuição desses. Como esse problema pode ser solucionado? Há projetos de sucesso que já existem e contam com o apoio da Igreja?
Siqueira – Cada região tem as águas que tem e são suficientes para a vida existir, desde que adaptada. O melhor exemplo é o Nordeste semiárido, em que predomina o bioma Caatinga, pleno da vida diversa que a ele soube se adaptar. As mais de mil espécies vegetais da Caatinga nunca precisaram de transposição de água para existir.
Sem precisar deslocar populações ou águas, a solução está em captar a água disponível, armazenar, usar e cuidar dela. É o que acontece no semiárido nordestino, através do programa das cisternas de água de chuva, resultado de uma parceria entre o governo federal e a Articulação do Semiárido (ASA), que congrega cerca de 800 entidades populares, entre as quais muitas pastorais católicas. A primeira iniciativa de massificar a eficiente e barata cisterna, com intenções formativas e mobilizadoras da população, foi da Diocese de Juazeiro, na Bahia, no início dos anos 1990, tendo à frente o bispo redentorista Dom José Rodrigues de Souza, com a campanha “Adote uma Cisterna”.
Essa mesma tecnologia social tem sido solução para o problema da água de consumo humano (beber e cozinhar) no Pantanal e no Rio Grande do Sul, regiões que não são o Nordeste seco! Água tem, falta vontade política para saber usá-la e sobra vontade econômica de lucrar com ela!

http://jornalsantuario.wordpress.com/2012/03/22/forumagua/

Índice FIRJAN de Gestão Fiscal (IFGF) da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre


Para contribuir com uma gestão pública eficiente e democrática, o Sistema FIRJAN desenvolveu o Índice FIRJAN de Gestão Fiscal (IFGF). Uma ferramenta de accountability que tem como objetivo estimular a cultura da responsabilidade administrativa, por meio de indicadores que possibilitem o aperfeiçoamento das decisões quanto à alocação dos recursos públicos, bem como maior controle social da gestão fiscal dos municípios. 
Composto por cinco indicadores: Receita Própria, Pessoal, Investimentos, Liquidez e Custo da Dívida, o índice tem como base de dados as estatísticas oficiais disponibilizadas anualmente pela Secretaria do Tesouro Nacional, constituídas por informações orçamentárias e patrimoniais prestadas pelos próprios municípios. 
Apesar da determinação da lei, os dados referentes ao exercício fiscal de 2010 de 297 prefeituras não estavam disponíveis ou não eram consistentes.
A leitura do IFGF é simples: a pontuação varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, melhor a gestão fiscal do município no ano em observação.
Conceito A (Gestão de Excelência): resultados superiores a 0,8 pontos.
Conceito B (Boa Gestão): resultados compreendidos entre 0,6 e 0,8 pontos. 
Conceito C (Gestão em Dificuldade): resultados compreendidos entre 0,4 e 0,6 pontos.
Conceito D (Gestão Crítica): resultados inferiores a 0,4 pontos.
Outra importante característica é sua metodologia, que permite tanto comparação relativa quanto absoluta. Ou seja, o índice não se restringe a uma fotografia anual, podendo ser comparado ao longo dos anos, o que torna possível especificar, com precisão, se uma melhoria relativa de posição em um ranking se deve a fatores específicos de um determinado município ou à piora relativa dos demais.
IFGF EDIÇÃO 2012, ANO BASE 2010
Classificação
Cidade
Índice
Várzea Nova
0.5793
Jacobina
0.5057
Moro do Chapéu
0.4925
Campo Formoso
0.4715
Miguel Calmon
0.4487
Juazeiro
0.3671
Mirangaba
0.3348
Ourolândia
Município não forneceu dados
Umburanas
Município não forneceu dados
Para consultar outros municípios acesse a fonte em: http://www.firjan.org.br/IFGF/

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