Justiça e Bom Senso - Por Cledson Sady


Muito se falou esta semana em Jacobina sobre o episódio do embargo da festa do Abrigo dos Velhos, que deveria ter ocorrido no sábado, 17, na AABB. Seria seu 24º Forró em favor da manutenção daquela que é a única instituição da região a oferecer cuidados em tempo integral à pessoa idosa. Além de prestar outros importantes serviços, há décadas, a comunidade carente, complementando o papel que o Estado deveria cumprir e não o faz.
   O Abrigo dos Velhos Cruzada do Bem, é um braço do Grupo Espírita Cruzada do Bem, instituição filantrópica, privada, fundado em Jacobina em 1928, que desde então cuida de pessoas carentes, de todos os credos, raças e classes sociais, sem qualquer colaboração do Estado.
   Não vamos aqui analisar questões de direito individual ou coletivo, nem de justiça, pois isso não nos compete.  Nós, comunidade, pagamos ao Estado para este fim. O que queremos analisar é a aplicação da justiça apartada do bom senso, de visão histórica, ampliada.
   A justiça, lenta, morosa, na maioria esmagadora dos casos, foi ultra-rápida, imediata, neste caso em particular. Se haviam irregularidades no evento, não deveriam ser tão graves quanto à venda de drogas, que deveria estar ocorrendo naquele momento, em algum lugar da cidade. Se haviam excessos, não deveria ser irremediável, como a corrupção, alardeada e apontada em tantos meios de comunicação da cidade. Se existia desrespeito, não deveria ser tão grande como o que ocorre com os idosos, diariamente, nas filas de bancos, aqui mesmo, em Jacobina
   Infelizmente a justiça só apareceu rápida, imediata, neste episódio da histórica festa beneficente do Abrigo dos Velhos, onde a comunidade faz um esforço enorme para suprir o descaso do Estado para com os idosos, que pagaram impostos toda a vida, para terem amparo e justiça na velhice, mas receberam em troca, a frieza, o calote.
   Os cidadãos que tomam a frente de organizações como o Abrigo dos Velhos Cruzada do Bem, são pais e mães de família, jovens, profissionais, cumprem as obrigações cotidianas iguais a todos os outros mortais, tais como os representantes do Estado, e, além disso, buscam auxiliar o outro, especialmente aqueles que o Estado não enxerga, como os idosos, pois não lhes dão mais dinheiro.
Além de suprirem a falta do Estado, estes cidadãos, não são remunerados para isto, muito pelo contrário, gastam tempo de convivência familiar e recursos financeiros nesta atividade. Com que sobrecarga recomporão o prejuízo ocorrido em função deste embargo? Será que o Estado será solidário desta vez? O Estado que solicita parceria da comunidade no apoio a infância desamparada, no combate a violência, na preservação do meio ambiente, e até mesmo no apoio a velhice desassistida, será que vai ajudar nesta hora? Sinceramente, acho pouco provável.
O que resta a comunidade é se unir e cobrir o prejuízo. Seguir em frente, cuidando daqueles que o Estado desampara, embora cobre rigorosa e friamente o seu quinhão para pouco fazer, quando não atrapalha. Aos amigos do Abrigo dos Velhos Cruzada do Bem, nossa solidariedade. E a lembrança de um trecho da canção “Mais uma vez”:
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
 
Cledson Sady
Escritor e Membro da Academia Jacobinense de Letras.
                                  

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