Primeiro canal da transposição do Rio São Francisco ainda não beneficia população


Leandro Kleber - Especial para o Correio
Publicação: 03/10/2012 09:46 Atualização:
Trecho do Rio São Francisco inaugurado pelos militares em junho: obra precisa de uma estação de bombeamento para circular. Foto: Leandro Kléber/CB/D.A. Press
Trecho do Rio São Francisco inaugurado pelos militares em junho: obra precisa de uma estação de bombeamento para circular. Foto: Leandro Kléber/CB/D.A. Press
Mais de três meses depois da inauguração do primeiro trecho das obras de transposição do Rio São Francisco, executadas pelos militares no valor de R$ 121 milhões, nenhuma gota d’água do Velho Chico chegou aos moradores da região de Cabrobó (PE). Ninguém foi beneficiado pelo canal com pouco mais de dois quilômetros porque, até hoje, uma estação de bombeamento e uma ponte não estão prontas. A ponte, aliás, ainda nem começou a ser erguida, e a estação só deve ser concluída no fim de 2014, segundo o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto de transposição.

“A ponte pertence ao Lote 1 das obras e está sob responsabilidade do Consórcio Construtor Água de São Francisco, formado pelas empresas Serveng, SA Paulista e Carioca. A perspectiva é de que as obras comecem ainda neste semestre", afirma a pasta, em nota. De acordo com o órgão, a estação de bombeamento é feita pela empresa Mendes Júnior, que, procurada pela reportagem, não se manifestou sobre o assunto. Os empreendimentos, segundo a nota, estão em obras há seis meses e contam com mais de 400 pessoas trabalhando dia e noite para cumprir os prazos firmados.

Quem olha o canal construído pelos militares, com 8 a 14 metros de profundidade e 50 metros de largura, até consegue ver água. Mas se trata do reservatório dos lençóis freáticos e, eventualmente, da quantidade acumulada das chuvas. O trecho executado pelo 2º Batalhão de Engenharia de Construção é fundamental para todo o projeto porque é o canal de aproximação do Rio São Francisco no eixo norte — há também o eixo leste. Dali, da captação da água no rio, é que tudo começa até a primeira estação de bombeamento e a barragem de Tucutu, que tem extensão de quase 1,8 mil metros e altura de 22 metros — atualmente seca devido aos atrasos da ponte e da estação de bombeamento.

Ao inaugurar o empreendimento em 20 de junho, os militares se orgulhavam de terem sidos os primeiros a entregar um trecho de uma das principais obras do governo petista. A realização da etapa foi resultado de um termo de cooperação estabelecido entre o Exército, por intermédio do Departamento de Engenharia e Construção, e o Ministério da Integração Nacional. Os trabalhos tiveram início em maio de 2007. Na sua execução foi empregada uma força de trabalho que contou com o efetivo de 190 militares, 29 equipamentos, 25 viaturas e o apoio de 14 empresas civis em serviços que foram terceirizados.

AMBIÇÃO 


O projeto de integração do São Francisco, incluído na lista de prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tem como objetivo assegurar oferta de água, em 2025 — quando ficará totalmente pronto —, a cerca de 12 milhões de pessoas residentes em 391 municípios do agreste e do sertão dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Serão mais de 600 quilômetros de canal em dois eixos: leste e norte. Apesar do projeto ambicioso, os acréscimos no valor da obra, hoje orçada em R$ 8,2 bilhões, e nos prazos de entrega geram críticas de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com a Integração Nacional, hoje trabalham na construção dos canais, barragens, aquedutos e túneis mais de 4 mil pessoas.

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