Seca revela limites da transposição do rio São Francisco



 
DANIEL CARVALHO
DE SÃO PAULO

A transposição de parte das águas do rio São Francisco, por si só, não será capaz de levar água para 12 milhões de nordestinos, como se divulga desde 2007, quando as obras foram iniciadas.
A pior seca dos últimos 50 anos no semiárido da região Nordeste indica que estar ao lado do rio não significa necessariamente a certeza de abastecimento de água.
Levantamento da Folha a partir de dados do governo federal revela que metade dos 60 municípios nordestinos localizados às margens do rio São Francisco está em "situação de emergência" por causa da estiagem.
O paradoxo se explica de forma simples: não adianta ter água em abundância no município se não há adutoras e sistema de abastecimento para levá-la à população.
Lalo de Almeida 12.dez.2012/Folhapress
Obra da transposição do rio São Francisco no município de Floresta, em Pernambuco
Obra da transposição do rio São Francisco no município de Floresta, em Pernambuco
"Há uma carência histórica de acesso à água nos municípios. Mesmo às margens do São Francisco ainda temos cidades que não têm abastecimento universal", afirmou Eugênio Spengler, secretário de Meio Ambiente da Bahia.
Dos 24 municípios banhados pelo "Velho Chico" na Bahia, 23 têm a "situação de emergência" reconhecida pela Defesa Civil nacional.
Em "situação de emergência", o município pode, entre outros benefícios, fazer contratos sem licitação e solicitar recursos extras ao governo federal.
No interior da Bahia, somente metade da população rural tem acesso à água tratada, segundo Spengler.
Até o ano que vem esse percentual deve chegar aos 60%, graças a obras de duas adutoras e de sistemas simplificados de abastecimento.
Em Alagoas, onde 7 dos 12 municípios banhados pelo São Francisco estão em "situação de emergência", o cenário é parecido, com acesso reduzido à água no campo.
"[Os municípios] têm um território muito grande. Apenas alguns povoados e distritos da zona rural têm água canalizada. Ou seja, mesmo em época de chuvas eles recebem água por carro-pipa", informou a Companhia de Saneamento de Alagoas.
Das cidades da calha do São Francisco, não há municípios em emergência apenas em Pernambuco e Sergipe. O governo pernambucano afirma ter priorizado obras para atender os núcleos populacionais situados nas proximidades do rio.
"Quando a fonte de água é inconstante ou distante, temos mais dificuldade de implementar obras. Mas, para municípios perto do rio, não há esse problema", afirma Almir Cirilo, secretário estadual de Recursos Hídricos em Pernambuco.
Mas a situação é diferente na prática. Em Jatobá (425 km do Recife), a falta de chuva entra no terceiro ano, embora não haja emergência.
A persistência da seca ao lado do rio deu origem a um ditado na cidade: "Água tem, mas dentro do rio. Quando você sai dele, acabou-se".
Apesar de não ter sido reconhecida a situação de emergência, a prefeitura calcula que a cidade tenha perdido metade de seu rebanho e toda a lavoura, que nem sequer chegou a ser plantada.
Por lá, a única produção que não sofre com a seca é a modesta criação de tilápias.

Um comentário:

  1. A culpa pela situação calamitosa de 270 municípios baianos encravados no Polígono das Secas é da má gestão do governo baiano, o ais inepto de todos os tempos que deixou os municípios nesta situação, por falta de ação estratégica nesses 7 anos de desgraças hidroambientais espalhadas por todo o território. A BaHIA VAI DE MAL A PIOR.... ESPERAMOS QUE SAIA LOGO ESTE GOVERNO NEFASTO DE WAGNER, SPENGLER E CIA LTDA

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