“Não é de onde você vem, mas onde você está.”
(Eric B. e Rakim, I Know You Got Soul, 1987)
“De nada serve partir das coisas boas de sempre
mas sim das coisas novas e ruins.”
(Bertolt Brecht)
Desde 2002, estamos pensando, escrevendo. Desde aquele ano, nosso lema sempre foi: “Desde sempre e em toda parte. Aonde quer que estejamos, levamos o nosso pensamento junto.”
Queremos ajudar a construir, com os nossos escritos, uma nova visão de mundo, mais elaborada, racional e consciente. Com isto, temos certeza que nos colocamos contra esse status quo, esse establishment, em que o capitalismo se torna ainda mais destrutivo em sua ânsia de auto-conservar-se. Queremos acordar a multidão. Onde se escondem, há décadas as pessoas? Até quando aceitaremos que muito pouco seja feito, concretamente, para dignificar a profissão docente? Até quando vamos continuar aceitando o paradoxo de viver num país que está entre as dez maiores economias do mundo, mas que ocupa a vergonhosa 85ª posição em qualidade educacional? Até quando veremos estudantes concluindo o Ensino Médio sem a condição de produzir um texto com coerência, ou mesmo de interpretar um texto básico, como esse que ora fazemos?
Depende de nós mesmos a possibilidade de desenvolver nas pessoas a consciência de que somente com a união de forças/esforços seremos livres e protagonistas nesse século 21. chega de políticos! Chega de burocratas! Os estudantes da UNE (União Nacional dos Estudantes), por exemplo, estão empenhados numa luta para que o Estado invista 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em Educação. Isso representa o quê? Segundo o panfleto que distribuíram em todas as universidades do Brasil, elaborado pelo “MOVIMENTO TRANSFORMAR O SONHO EM REALIDADE – Movimento ao 52º Congresso da UNE”, isso representa: “Dobrar o número de vagas nas Universidades Públicas; elevar de 13,9% de jovens na universidade para 40%; investir em assistência estudantil para que os estudantes consigam concluir seus estudos; que todos os estudantes tenham acesso ao passe estudantil; aumentar o número de bolsas de mestrandos e doutorandos; alcançar 2 milhões de PROUNISTAS; e massificar o FIES”. Além dessa luta, os estudantes estão empenhados em outra: 50% do Fundo do Pré-Sal para a educação. Nesse mesmo panfleto, há um texto explicando a importância dessa luta:
“Em outubro de 2009, foi lançada a campanha pelos 50% do Fundo do Pré-Sal para a educação, que seria o centro de mobilização do movimento estudantil no período posterior. Já na Jornada de Lutas de março de 2010, a reivindicação caiu no gosto popular: a mobilização levou milhares para as ruas em 11 capitais, ganhou as capas de jornais e espaço nos principais noticiários da TV brasileira.
A partir daí, a luta só cresceu. Foram blitz no Congresso Nacional, atos em universidades e escolas, manifestos com adesões de lideranças políticas e intelectuais de diversos lugares do país. A participação destacada dos universitários na Conferência Nacional de Educação (CONAE) possibilitou que esta fosse uma das resoluções da Conferência. A recompensa para tanta movimentação veio com a aprovação da emenda da UNE pelo Congresso Nacional, no dia 1º de dezembro de 2010, em meio aos projetos que regulamentavam a exploração do pré-sal.
Para espanto dos estudantes, a emenda foi vetada nos últimos dias do ano. Mas o ânimo em defendê-la e para derrubar o veto está mais vivo do que nunca. Continuamos na luta e vamos vencer: 50% do Fundo do Pré-Sal para a educação.”
Lendo isso, muitos dirão: é sonho, é utopia!! Certo, certo. Mas voar também era um sonho, uma utopia. Até alguém acreditar, arregaçar as mangas e transformar aquele sonho em realidade. Uma realidade que hoje beneficia a humanidade!! Como disse o poeta libanês Khalil Gibran: “Eis o drama do homem, que se repete no palco do destino, geração após geração. Os espectadores são numerosos. A maioria aplaude. Poucos meditam e refletem.” Precisamos criar, inventar uma nova realidade! Precisamos nos questionar sempre, como seres que pensam, em um cenário político em constante deterioração, como esse que temos no Brasil. Quais os valores que podem, ainda, orientar a nossa vida prática? Lembremos agora do que afirmou o genial poeta mexicano Octavio Paz: “O revolucionário nega o presente em nome de um futuro a ser conquistado. Ele confia em que o progresso conduz a um termo final, e todas as suas iniciativas devem contribuir para isso.”
Utopia. É sobre isso que falam os estudantes da UNE. E também os poetas que citamos: Bertolt Brecht, Khalil Gibran e Octavio Paz. E o que seria dessa vida sem sonhos? Sem utopias? A vida acontecendo e a gente sonhando... Mas precisamos também lutar. Ou então, continuaremos vendo governos que deveriam defender a classe trabalhadora, paradoxalmente, defendendo os interesses dos capitalistas!! Lembremos daquele trágico acontecimento na Tunísia, quando um jovem de 26 anos, graduado em universidade, que não encontrou emprego e se viu obrigado a vender frutas na rua. Acontece que não o permitiram, por ele não ter os documentos necessários. Ele foi espancado pela polícia e alguns dias depois se suicidou, ao atear fogo em si...
E no Brasil? Quantos mais morrerão?
Encerro com esse ótimo texto, do Teixeira Coelho, que explica muito bem a força da utopia, da imaginação utópica:
“Mas o que quer a imaginação utópica? A manifestação mais popular da imaginação utópica tem sido a utopia política. Isto é: o que se pretende, antes de mais nada, é uma outra vida baseada num novo arranjo político da sociedade, firmada em novas estruturas sociais. [...] Por exemplo, e por mais em contrário que se manifestem os hipócritas, aspirar a que se acabe com o trabalho – pelo menos com esse trabalho que embrutece, consumindo o indivíduo e colocando-o numa situação de sujeição tal que melhor seria a prisão. Ou a morte. Ou então, pelo menos, pretender que todos trabalhem para que todos possam trabalhar menos, ao invés de se matarem uns enquanto outros ficam assistindo de camarote. A imaginação utópica quer ainda – e é penoso constatar que a imaginação tem de intervir aqui também – que todos sejam tratados do mesmo modo, homens, mulheres e crianças. Que ninguém passe necessidades. Que ninguém seja considerado superior aos outros por ter mais coisas do que eles. Que os mais competentes e honestos dirijam os negócios públicos. Que ninguém seja obrigado a fazer o que não quer, o que não pode e não deve. Ou então, que desapareça o dinheiro. E a propriedade privada. E que exista a liberdade de expressão, e a religiosa. E que a educação seja acessível a todos. A esta lista cada um poderia acrescentar ainda uma série de exigências básicas: todas caberiam. E mais algumas e outras ainda não imaginadas.”
E vamos ao sonho, à utopia e à transformação da realidade, pois, como diz o Milton Nascimento: “SE MUITO VALE O JÁ FEITO, MAIS VALE O QUE SERÁ”!
REFERÊNCIAS
COELHO, Teixeira. O que é utopia. Coleção Primeiros Passos, nº 12, 8.ed. Ed. Brasiliense, 1989.
GIBRAN, Khalil, Bertolt Brecht e Octavio Paz. Vários livros.
UNE. Panfleto do Movimento Transformar o Sonho em Realidade. Sem data.
(Márcio Melo. Professor de História, Sociologia e Filosofia da rede pública do estado da Bahia. Professor de História do Brasil na Faculdade Cenecista de Senhor do Bonfim (FACESB). Especialista em Ensino de História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira (IBPEX). Estudante de Direito na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), 5º semestre).
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