Gestores ambientais são cúmplices do avanço das hidros


Usina Hidrelétrica de Itaipú. Foto: Divulgação

Hidroelétricas no país já causaram a extinção de dois Parques Nacionais: Sete Quedas e Paulo Afonso, já foram responsáveis por mudanças de categoria de unidades de conservação mais restritas para menos restritas, e uma longa lista de Parques Nacionais tiveram suas áreas ou parte delas desafetadas para dar lugar a usinas hidroelétricas ou fins semelhantes. Mais recentemente a Medida Provisória nº 558, publicada no dia 6 de janeiro de 2012 no Diário Oficial da União, redefine os limites de sete unidades de conservação da Amazônia brasileira para dar lugar à construção de usinas hidroelétricas. Entre as UCs atingidas estão o Parque Nacional dos Campos Amazônicos e o Parque Nacional da Amazônia. O jargão das explicações é sempre o mesmo: o país precisa crescer e, portanto precisa de energia, a mais barata e “limpa” possível.

Quem pode afiançar que a energia gerada pelas hidroelétricas planejadas será melhor para o crescimento no longo prazo do Brasil que a conservação da biodiversidade local? Garanto que não há estudos científicos sérios e suficientes para uma resposta honesta. Nestes dias li, aqui mesmo em ((o))eco, artigo do professor José Luiz de Andrade Franco, afirmando que um leão no Quênia rende ao longo de sua vida 575 mil dólares; que uma arara gera por ano no Peru, nosso vizinho, 4.700 dólares. Isto só através do turismo ecológico. Na edição da revista VEJA da semana passada, um artigo sobre os gorilas do Parque Nacional do Virunga, na República Democrática do Congo, conta que cada turista paga 500 dólares para observá-los.

Tudo isso sem se falar o quanto as atividades produtivas e mensuráveis dependem da nossa biodiversidade, como a agricultura, a pecuária, a medicina, a farmacologia, a indústria em geral e o próprio turismo, como já mencionado. Mas essas informações e parâmetros jamais são usados pelos que fazem os estudos das centrais hidroelétricas. Pior ainda, todas elas estão absolutamente aprovadas muito antes de se fazer os estudos de impacto ambiental e social. Ou seja, esses estudos de pouco servem ou são utilizados apenas para justificar os cortes e recortes das áreas.

"O dinheiro de uma usina hidroelétrica seria mais que suficiente para implantar os 64 Parques Nacionais do Brasil, mas o setor energético sequer pensa nisso (...)"
Seguramente o setor energético tem todos os dados do planejamento, construção, operação, distribuição, custos e venda da energia a ser gerada estragando parques nacionais e outras áreas protegidas. Parece que a grande maioria da população apoia as usinas hidroelétricas, pois elas são promovidas pela propaganda oficial como energia limpa e barata. Porém não há real evidência de que seja barata e, menos ainda, limpa. Hoje é bem conhecido que as hidroelétricas geram CO2, metano e outros gases de efeito estufa em quantidades consideráveis. O custo deveria ser somado ao valor da energia produzida para ver se, além de suja, é realmente mais barata.

O lado ambiental do setor público luta contra, debilmente, mais por forma que por convicção, e sempre acaba vencido. Até os órgãos governamentais diretamente responsáveis pela administração dos Parques Nacionais, como o ICMBio, argumentam em favor das mudanças de limites.

É uma lástima, pois Parques Nacionais ou Estaduais são refúgios invioláveis da biodiversidade do país e, assim, deveriam ser defendidos a ferro e fogo, com bravura e não covardia pelos responsáveis legais de sua guarda. Os Parques Nacionais não foram, em sua grande maioria, implantados para valer, por falta de recursos humanos e financeiros. Por isso mesmo são tão frágeis. O dinheiro de uma usina hidroelétrica seria mais que suficiente para implantar os 64 Parques Nacionais do Brasil. Mas o setor energético sequer pensa nisso, pois, para seus membros, a energia é o grande trunfo e não entendem, e nem querem entender ou discutir com propriedade, sobre conservação da biodiversidade.

Omissão do ICMBio

"Esses gestores deveriam ter lutado de igual para igual, contra as hidroelétricas e em defesa dos Parques Nacionais, pois é uma obrigação constitucional e, acima de tudo, moral do funcionário público"
Seguindo essa linha, para o presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, o processo é “um exemplo da conciliação de diferentes interesses, como os de geração de energia para o país, os de criação de novos assentamentos agrícolas sustentáveis e de melhoria na gestão efetiva dessas Unidades de Conservação”. E continua, “O novo desenho do Parque Nacional dos Campos Amazônicos incorpora a área da Estrada do Estanho, considerada a maior mancha de savanas amazônicas. O Instituto avaliou ainda que a redefinição deste parque atenderia às necessidades de geração de energia do país, a exemplo da construção da UHE Tabajara”.

Esqueceu o senhor presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade que, há muito tempo, o próprio ICMBio poderia ter proposto a assinatura de um decreto pela Presidente da República ampliando o Parque Nacional dos Campos Amazônicos? Em vez disso usa a adição de uma área importante em troca da perda de outra, tão ou mais importante por ser amostra das várzeas, cedida com tanta gentileza para a hidroelétrica. A mudança não passa de uma barganha em que o Parque é o perdedor.

No caso do Parque Nacional da Amazônia aparece outra escusa frequentemente usada para recortar as unidades de conservação: atender as necessidades de assentamentos humanos. As autoridades sempre boazinhas com essas populações - que, na realidade, são invasores - esquecem que essa politica estimula mais invasões e, o que é pior, as torna culpáveis do fato, por ter descuidado durante décadas da implantação das áreas protegidas. Esse processo continuará até que essas autoridades cumpram o seu dever de evitar invasores e seus gestores sejam responsabilizados pessoalmente pelo fato e severamente castigados.

Todo mundo esquece, também, que a energia hidroelétrica deve ser transportada até os locais de consumo. E para isso se constroem estradas por onde passam os cabos de alta tensão, cortando as unidades de conservação e provocando ainda mais invasões e destruição. O ICMBio concedeu, sem brigar, mais essa faculdade ao setor elétrico.

É tristíssimo ter de se conformar com os argumentos típicos usados a favor das hidros, as custas dos parques, e talvez até dizer “Obrigada... enfim algo vai ser feito para benefício dos Parques Nacionais”. Mas a minha posição é bem outra. Esses gestores deveriam ter lutado de igual para igual contra as hidroelétricas e em defesa dos Parques Nacionais, pois esta é uma obrigação constitucional e, acima de tudo, moral do funcionário público. Ele está lá para defender os bens públicos e não para facilitar construção de usinas.


Razões do ICMBio

Vale a pena ler os argumentos do ICMBio para a redefinição dos limites dos três Parques Nacionais afetados e, dentre eles, o da Amazônia, o primeiro estabelecido na região em 1.974 e até hoje sem sofrer sua implantação definitiva. Seguem abaixo em itálico:

Parque Nacional Campos Amazônicos
Os limites do Parque Nacional dos Campos Amazônicos foram acrescidos em mais de 150 mil hectares, equivalente a 18,5% da área original decretada em 2006, passando a ter área total de 961.320 ha. O processo de criação do Parque Nacional dos Campos Amazônicos teve início em 2001, mas seus limites inicialmente concebidos excluíram algumas áreas, especialmente aquelas compostas por formações savânicas, o que resultou tanto em diminuição da proteção desse ecossistema quanto na fragmentação do Parque em três porções isoladas, comprometendo a sua conservação e gestão.

A redefinição dos limites do Parque Nacional dos Campos Amazônicos consiste em seis áreas de ampliação, a saber: Estrada do Estanho, margem esquerda do rio Guariba, conexão com o Mosaico Apuí, enclave de cerrado na região do Pito Aceso, campinarana no Ramal dos Baianos e área do Igarapé do Gavião.

Em seu conjunto, somam cerca de 184.615 hectares e buscam atender às necessidades ecológicas para manutenção dos enclaves de cerrado, objeto de criação da unidade, que passam a ser integralmente protegidos. Tais áreas possibilitam a ampliação da proteção e facilita a fiscalização ambiental no Parque e no Mosaico Apuí, constituído de unidades de conservação estaduais. Outras duas áreas de desafetação dos atuais limites da unidade atendem a demanda social de regularização fundiária dos ocupantes do Ramal do Pito Aceso e, eventualmente, dos ocupantes da Estrada do Estanho.

Outra área, de menor proporção, relaciona-se à demanda de construção da AHE Tabajara, que atende às necessidades de produção de energia do país e cujo reservatório teve sua cota definida de modo a privilegiar a melhor relação possível entre viabilidade técnica e ambiental para o empreendimento. Juntas, essas áreas abrangem um total de 34.149 ha.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Programa Terra Legal, com o apoio do ICMBio, alienará diretamente, por meio de dispensa de licitação, áreas públicas federais remanescentes antropizadas e não ocupadas não superiores a um mil e quinhentos hectares aos ocupantes de áreas públicas abrangidas pelos novos limites do Parque Nacional dos Campos Amazônicos - medida é essencial para resolver o relevante conflito social verificado na região.

Parque Nacional Mapinguari

Já dos limites do Parque Nacional Mapinguari, nos municípios de Canutama e Lábrea, no Amazonas, criado pelo Decreto de 5 de junho de 2008 e ampliado pela Lei no 12.249, de 11 de junho de 2010, a MP 558/12 excluiu-se de sua área total 0,26% referentes ao empreendimento de AHE Jirau e 0,16% referentes ao empreendimento AHE Santo Antônio, totalizando 8.470 hectares, conciliando a necessidade de produção de energia com a restrição ambiental desta unidade de conservação.

Parque Nacional da Amazônia
O Parque Nacional da Amazônia, localizado nos municípios de Itaituba e Aveiro, no Pará, e em Maués, no Amazonas, criado no ano de 1974, pelo Decreto nº 73.683, de 19 de fevereiro do mesmo ano, teve 6,7% de sua área total excluída, sendo 2,5% decorrentes da sobreposição com o Aproveitamento Hidrelétrico de São Luiz do Tapajós e 4,2% para a redefinição dos limites leste do Parque relacionados aos conflitos sociais.

A imprecisão da descrição dos limites leste definidos no decreto que criou a Unidade impediu o Poder Público de realizar adequadamente sua demarcação em campo, o que permitiu a consolidação de conflitos relativos à ocupação naquela região. Em 2006 a unidade foi ampliada em 106.418 ha com o compromisso de se estudar a redefinição de limites em sua vertente leste.

Para resolver estes conflitos na porção leste da unidade, o ICMBio, em conjunto com o Incra e Ibama, realizou levantamento da situação fundiária e socioeconômica das famílias residentes nas comunidades do entorno e interior do Parque Nacional da Amazônia com o objetivo de conhecer, sistematicamente, o perfil dos moradores da região, evidenciando-se a necessidade de readequação dos limites leste do Parque Nacional da Amazônia.

A redefinição dos limites deste parque possibilita a regularização da situação fundiária de 288 famílias de pequenos agricultores que serão beneficiados pela criação de projetos de assentamentos sustentáveis a serem criados pelo Incra, com o acompanhamento técnico-ambiental do ICMBio. Essas modalidades de assentamento visam atender ao anseio dos governos, dos movimentos sociais e das populações sem terras, no sentido de conciliar o assentamento humano de populações não-tradicionais em áreas de interesse ambiental, por meio da promoção do desenvolvimento em bases sustentáveis.”


Engenheira agrônoma e fundadora da Funatura, membro do Conselho da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e da comissão mundial de Parques Nacionais da UICN.

Presidente acena com vetos ao Código Florestal



Ao aproximar-se de movimentos sociais durante o Fórum Social Mundial Temático, que terminou ontem (29), a presidente Dilma Rousseff garantiu que o novo Código Florestal, em tramitação na Câmara, “não será o texto dos sonhos dos ruralistas”.
Em reunião com 80 entidades da sociedade civil, na semana passada, a presidente sinalizou que vai barrar propostas que aumentem o desmatamento, caso sejam aprovadas pelo Congresso.
O aceno de Dilma foi bem recebido por ativistas. “Dilma disse claramente que o texto não será o código [florestal] dos sonhos dos ruralistas. Ela assumiu esse compromisso”, comentou Mauri Cruz, um dos organizadores do fórum social. “Isso não significa que o código vai ser perfeito, mas sinaliza que ela não vai sancionar do jeito que está”, disse Cruz. A promessa foi feita em reunião que contou com a presença do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro (PMDB). “Esse compromisso é muito importante para nós. [O ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] tinha um vínculo natural com os movimentos sociais, mas ainda não tínhamos a mesma liberdade com a presidente. Dilma se aproximou. Temíamos que não acontecesse.”
Para representantes dos movimentos sociais, no entanto, o gesto da presidente não foi só uma forma de aproximação, mas também de pedir apoio à Rio +20 que, a exemplo do Fórum Social Mundial Temático, deve ser esvaziada. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, nome oficial da Rio +20, vai acontecer em junho no Rio de Janeiro.
Na reunião com Dilma, ativistas disseram que o Brasil não pode sediar a Rio +20 com uma legislação ambiental “retrógrada”. “O Brasil tem o dever de se apresentar bem e levar uma proposta concreta”, disse Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial.
O clima de pessimismo sobre o futuro da Rio +20 e de possível fracasso da conferência dominou o fórum social, que foi um encontro preparatório dos movimentos sociais para o evento da ONU no Rio de Janeiro. Como o fórum social foi esvaziado, ativistas temem que o mesmo aconteça tanto na Rio +20 quanto na Cúpula dos Povos, evento que a sociedade civil organiza para acontecer durante a conferência das Nações Unidas.
Chamada de temática, esta edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo Mauri Cruz, um dos organizadores do evento. Em outras edições, o fórum teve mais de 150 mil participantes. As atividades foram pulverizadas na capital e em cidades da região metropolitana, dificultando o deslocamento e a participação nos eventos. Problemas na organização e na divulgação dos debates também fizeram com que muitos eventos fossem esvaziados.
Para Maria Cecília Wey, secretária geral da WWF, o formato do fórum social “não tem favorecido” que os debates se transformem em idéias concretas. “Está tudo muito disperso”, comentou. Do debate que a representante da WWF participou com Marina Silva, João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), e integrantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), SOS Mata Atlântica e Greenpeace, nenhuma proposta foi registrada para ser levada à Rio +20, por exemplo. “Não sei como vão transformar essas ideias em ação. Acaba sendo mais uma troca de informações do que outra coisa”, comentou.
Maria Cecília demonstrou receio em relação à Cúpula dos Povos, evento que será organizado pela sociedade civil durante a Rio +20. “Serão pelo menos três espaços diferentes para os movimentos sociais se reunirem. Com essa dispersão, não sei como vamos conseguir influenciar a conferência”, analisou.
Um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, Chico Whitaker, defendeu uma “mudança de estratégia” para as próximas edições do encontro de movimentos sociais. “Corremos o risco de a esquerda falar só para si mesma. O fórum precisa ir para a sociedade. Precisamos parar de falar para nós mesmos”, afirmou.
A expectativa de que a Rio +20 seja um fiasco ganhou mais força durante os debates sobre a crise do capitalismo. Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese e responsável por organizar propostas do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para a Rio +20, analisou que a crise econômica enfrentada por países desenvolvidos impedirá o debate ambiental. “O problema imediato é a crise econômica e não a ambiental”, disse Clemente. “O enfrentamento da crise exige a retomada da atividade econômica, cuja referência é produzir do jeito que fizemos até hoje. A crise exige uma solução que agrava o problema ambiental”, afirmou.
Clemente lembrou que até mesmo o Brasil, que sediará a Rio +20, incentivou a produção e venda de automóveis no enfrentamento da crise econômica de 2008. “Saímos bem economicamente, o que não significa que ambientalmente tivemos sucesso. Agravamos a emissão de gases de efeito estufa com a venda de automóveis”, comentou. “A Rio +20 pode fracassar do ponto de vista político, com a ausência de um compromisso político vigoroso em relação a uma agenda de mudança no padrão de produção.”

Matéria do Valor Econômico, socializada pelo Jornal de Ciência/SBPC, JC e-mail 4426.
EcoDebate, 31/01/2012
Publicado em janeiro 31, 2012

Boaventura de Sousa Santos: Acesso à água desencadeará as grandes guerras do século


Vista aérea de Manaus
Se as guerras do século XX foram motivadas pela exploração do petróleo, os conflitos do século XXI estarão centrados no controle dos hídricos, previu o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. “Quem controla a água controla a vida”, disse.
A reportagem é de Micael Vier B. e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 27-01-2012.
Boaventura apresentou palestra em São Leopoldo, hoje, no Fórum Social Temático 2012, evento preparatório para a Cúpula dos Povos da Rio + 20. Ele fez um apelo para que o tema da água motive a agregação dos movimentos sociais, reunindo em torno dele povoados rurais e urbanos, movimentos de mulheres e indígenas.
Ao sinalizar dois grandes paradigmas em torno da temática, o sociólogo disse que enquanto comunidades consideram a água um bem comum vinculado à sua história, identidade e espiritualidade, a tese defendida pelo Banco Mundial submeteu a exploração da água às leis do mercado.
As dimensões do problema revelam que 17% da população mundial não possuem acesso à água potável, enquanto 40% dos moradores do planeta não têm saneamento básico. Mesmo Manaus, cidade cercada com a maior quantidade de água doce no mundo, apresenta problemas de coleta e tratamento de esgoto.
Em países do continente africano, afirmou Boaventura, o problema aflige diretamente a população feminina, na medida em que muitas mulheres chegam a consumir seis horas diárias na busca por alguns litros de água. “Essas pessoas realizam um esforço extraordinário para garantir a sustentabilidade de suas famílias”, enfatizou.
Dados oferecidos na palestra indicam que entre 40 a 90 milhões de pessoas foram deslocadas de suas propriedades no último século em decorrência de grandes projetos de mineração e barragem, a exemplo do que ocorre atualmente no Estado do Pará com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Como alternativa, Boaventura enalteceu o surgimento de um novo conceito de segurança humana, pautado pela democratização da água, pelo respeito ao valor atribuído a ela pelas diferentes culturas e por um processo de implementação do que denominou de uma “cultura da água”, a começar nas escolas.
Segundo o sociólogo, daqui a dez anos a humanidade estará travando esse mesmo diálogo em torno do ar, que já começa a ser explorado enquanto mercadoria, embora seja, assim como a água, uma falsa mercadoria na medida em que não é produzido pelo homem, mas a ele concedido de forma gratuita.
(Ecodebate, 30/01/2012) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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DENOCS X Convivência com o Semiárido


Cisternas da ASA

Cisternas de plástico do ministro Fernando Bezerra

Roberto Malvezzi (Gogó)

O DENOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) foi criado em 1909, ainda como IOCS (Inspetoria de Obras Contra a Seca), depois como IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca). Durante décadas foi considerado como a maior empreiteira da América Latina.
A concepção do Departamento era equivocada em si mesma, isto é, combater a seca. Claro, nenhum país do mundo criou algum departamento para combater a neve, ou combater a chuva, ou combater o deserto. Entretanto, em sua longa existência, o Departamento construiu a maior açudagem do mundo, cerca de 70 mil, com capacidade para armazenar 36 bilhões de metros cúbicos de água de chuva. O Prof. João Abner, hidrólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, costuma dizer que, antes desses açudes, o semiárido era mesmo um deserto. Afinal, o que sempre faltou não foi chuva, mas a capacidade de armazenar a água que a chuva oferece.
Acontece que o Departamento criou ilhas de água, mas nunca fez sua distribuição horizontal. Essa lacuna fundamental é hoje admitida até por quem já esteja na chefia do órgão por quase uma década, como Manoel Bonfim Ribeiro. Essa é a proposta fundamental do Atlas do Nordeste, diagnóstico feito pela Agência Nacional de Águas para o meio urbano da região.
Mas, foi ali também que a chamada “indústria da seca” grassou como praga. Sempre exigindo novas verbas para novas obras, foi o ralo do enriquecimento pessoal de multidões de coronéis nordestinos, que fizeram a maior parte dos açudes e poços em suas propriedades particulares, além de construírem seu poder econômico e político manipulando a sede do povo. O que aconteceu esses dias com o apadrinhado do deputado Henrique Alves é apenas uma amostra grátis de décadas de drenagem do dinheiro público para cofres particulares.
Em 1959, intelectuais como Celso Furtado, setores da Igreja como D. Hélder Câmara, propuseram a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Em seu discurso inaugural, Celso Furtado pronuncia a expressão “convivência com o semiárido” - retirando do centro o enfoque no combate a seca e focando a industrialização - que já tinha lastro em outros intelectuais da academia Nordestina. Mas, na lógica do capital e do patrimonialismo, a SUDENE repetiu a indústria da seca do DENOCS. Com a criação da SUDENE, o Departamento perdeu poder. 
Esses dias a presidente Dilma Roussef disse que não iria mais fazer a parceria com a Articulação no Semiárido Brasileiro, que tirou do papel a lógica da convivência com o Semiárido e a fez realidade. Com um fiapo de dinheiro e tecnologias simples, tem um impacto social maior na população mais pobre que cem anos de DENOCS. Agora o governo voltou atrás e disse que vai prosseguir na parceria, mas vai continuar com sua distribuição de 300 mil cisternas de plástico pela CODEVASF, pelas mãos do Ministro Fernando Bezerra Coelho. Portanto, uma no cravo e outra no calo do povo.
Operar no Semiárido sem conhecer sua história é voltar a cometer os erros crassos do passado.  Um pouco de humildade do governo evitaria tamanho descalabro, como as cisternas de plástico e a nova cara dessa nefasta indústria da seca, agora como hidronegócio materializado na Transposição. 
Dilma tem feito um esforço retado para ressuscitar a indústria da seca.

SINTOMAS QUE REVELAM O QUE ESTÁ FALTANDO EM NÓS!!!!!



Veja que interessante... A partir de certa idade, temos quase todos esses sintomas, provocados pela falta dos alimentos aqui mencionados:
 
1. DIFICULDADE DE PERDER PESO
O QUE ESTÁ FALTANDO: ácidos graxos essenciais e vitamina.
ONDE OBTER: semente de linhaça, cenoura e salmão - além de suplementos específicos.

2. RETENÇÃO DE LÍQUIDOS

O QUE ESTÁ FALTANDO: na verdade um desequilíbrio entre o potássio, fósforo e sódio.
ONDE OBTER: água de coco, azeitona, pêssego, ameixa, figo, amêndoa, nozes, acelga, coentro, semente de linhaça e os suplementos.


3. COMPULSÃO A DOCES
O QUE ESTÁ FALTANDO: cromo.
ONDE OBTER: cereais integrais, nozes, centeio, banana, espinafre, cenoura + suplementos...

4. CÂIMBRA, DOR DE CABEÇA
O QUE ESTÁ FALTANDO: potássio e magnésio
ONDE OBTER: banana, cevada, milho, manga, pêssego, acerola, laranja e água.

5. DESCONFORTO INTESTINAL, GASES, INCHAÇO ABDOMINAL
O QUE ESTÁ FALTANDO: lactobacilos vivos
ONDE OBTER: coalhada, iogurte, missô, Yakult e similares..

6. MEMÓRIA RUIM
O QUE ESTÁ FALTANDO: acetil colina, inositol.
ONDE OBTER: lecitina de soja, gema de ovo + suplementos.

7. HIPOTIREOIDISMO (PROVOCA GANHO DE PESO SEM CAUSA APARENTE)
O QUE ESTÁ FALTANDO: iodo.
ONDE OBTER: algas marinhas, cenoura, óleo, pêra, abacaxi, peixes de água salgada e sal marinho.

8.. CABELOS QUEBRADIÇOS E UNHAS FRACAS
O QUE ESTÁ FALTANDO: colágeno.
ONDE OBTER: peixes, ovos, carnes magras, gelatina + suplementos.

9. FRAQUEZA, INDISPOSIÇÃO, MAL ESTAR
O QUE ESTÁ FALTANDO: vitaminas A, C, E e ferro.
ONDE OBTER: verduras, frutas= carnes magras e suplementos.

10. COLESTEROL E TRIGLICERÍDEOS ALTOS
O QUE ESTÁ FALTANDO: Ômega 3 e 6.
ONDE OBTER: sardinha, salmão, abacate, azeite

11. DESÂNIMO, APATIA, TRISTEZA, RAIVA, INSATISFAÇÃODEPRESSÃO, VONTADE DE MORRER
O QUE ESTÁ FALTANDO:
 Dinheiro, meu filho, dinheiro!!!
ONDE OBTER: Se eu soubesse não teria todos esses sintomas....
 

A serviço da treva A serviço da treva



(Foto: Frederico Rozário/TV Globo)
Âncora do Jornal Nacional, da Globo, William Bonner espera ser assistido por um cidadão o mais possível parecido com Homer Simpson, aquele beócio americano. Arrisco-me a crer que Pedro Bial, âncora doBig Brother, espere a audiência da classe média nativa. Ou por outra, ele apostaria desabridamente no Brasil, ao contrário do colega do JN . Se assim for, receio que não se engane.
É que a Globo procura. Achou Daniel, que tem o mérito de ser contra as cotas. Houve nos últimos tempos progressos em termos de inclusão social de sorte a sugerir aos sedentos por frases feitas o surgimento de uma "nova classe média”. Não ouso aconselhar-me com meus carentes botões a respeito da validade dos critérios pelos quais alguém saído da pobreza se torna pequeno burguês. Tanto eles quanto eu sabemos que para atingir certos níveis no Brasil de hoje basta alcançar uma renda familiar de cerca de 3 mil reais, ou possuir celular e microcomputador.
Tampouco pergunto aos botões o que há de "médio” neste gênero de situações econômicas entre quem ganha salário mínimo, e até menos, e, digamos, os donos de apartamentos de mil metros quadrados de construção, e mais ainda. Poupo-os e poupo-me. Que venha a inclusão, e que se aprofunde, mas est modus in rebus. Se, de um lado, o desequilíbrio social ainda é espantoso, do outro cabe discutir o que significa exatamente figurar nesta ou naquela classe. Quer dizer, que implicações acarreta, ou deveria acarretar.
Aí está uma daspeculiaridades do País, a par do egoísmo feroz da chamada elite, da ausência de um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social etc. etc. Insisto em um tema recorrente neste espaço, o fato de que os efeitos da revolução burguesa de 1789 não transpuseram a barreira dos Pireneus e não chegaram até nós. E não chegou à percepção de consequências de outros momentos históricos também importantes. Por exemplo. Alastrou-se a crença no irremediável fracasso do dito socialismo real. Ocorre, porém, que a presença do império soviético condicionou o mundo décadas a fio, fortaleceu a esquerda ocidental e gerou mudanças profundas e benéficas, sublinho benéficas, em matéria de inclusão social. No período, muitos anéis desprenderam-se de inúmeros dedos graúdos.
A ampliação da nossa "classe média”, ou seja, a razoável multiplicação dos consumidores, é benfazeja do ponto de vista estritamente econômico, mas cultural não é, pelo menos por enquanto, ao contrário do que se deu nos países europeus e nos Estados Unidos depois da Revolução Francesa. De vários ângulos, ainda estacionamos na Idade Média e não nos faltam os castelões e os servos da gleba, e quem se julga cidadão acredita nos editoriais dos jornalões, nas invenções de Veja, no noticiário do Jornal Nacional. Ah, sim, muitos assistem ao Big Brother.
Estes não sabem da sua própria terra e dos seus patrícios, neste país de uma classe média que não está no meio e passivamente digere versões e encenações midiáticas. Desde as colunas sociais há mais de um século extintas pela imprensa do mundo contemporâneo até programas como Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. Ali as damas protagonistas substituíram a Coca e o Guaraná pelo champanhe Cristal. Quanto ao Big Brother, é de fonte excelente a informação de que a produção queria um "negro bem-sucedido”, crítico das cotas previstas pelas políticas de ação afirmativa contra o racismo. Submetido no ar a uma veloz sabatina no dia da estreia, Daniel Echaniz, o negro desejado, declarou-se contrário às cotas e ganhou as palmas febris dos parceiros brancos e do âncora Pedro Bial.
A Globo, em todas as suas manifestações, condena as cotas e não hesita em estender sua oposição às telenovelas e até ao Big Brother. E não é que este Daniel, talvez negro da alma branca, é expulso do programa do nosso inefável Bial? Por não ter cumprido algum procedimento-padrão, como a emissora comunica, de fato acusado de estuprar supostamente uma colega de aventura global, como a concorrência divulga. Há quem se preocupe com a legislação que no Brasil contempla o específico tema do estupro. Convém, contudo, atentar também para outro aspecto.
A questão das cotas é coisa séria, e quem gostaria de saber mais a respeito, inteire-se com proveito dos trabalhos da GEMAA, coordenados pelo professor João Feres Jr., da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: o site deste Grupo de Estudos oferece conteúdo sobre políticas de ação afirmativa contra o racismo. Seria lamentável se Daniel tivesse cometido o crime hediondo. Ainda assim, o programa é altamente representativo do nível cultural da velha e da nova classe média, e nem se fale dos nababos. Já a organização do nosso colega Roberto Marinho e seu Grande Irmão não são menos representativos de uma mídia a serviço da treva. •

Mino Carta
Diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. [Fonte: Revista Carta Capital].


VOTORANTIM PERDE LICENÇA PARA EXPLORAR ZINCO EM MG


Cid Gomes garante água 50% mais barata para Eike Batista!


Foto de uma das termelétrica do empresário no Ceará.


A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), concederá 50% de desconto na água para as empresas do Eike Batista.

O empresário mais rico do Brasil, possui duas termelétricas no Estado, a Porto do Pecém Geração de Enégia S/A e a MPX Pecém II Geração de Enegia S/A.

Enquanto isso, o povo  trabalhador assiste à intransigência do Cid, que não abre mão do exorbitante preço cobrado pelo saneamento básico, 80% (social) e 50% (condominial) do valor da água consumida, na cara tarifa de esgoto da Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará - CAGECE. Nenhum subsídio para a população de baixa renda, quando sequer o governo aplica a política da tarifa social, que por justiça deveria ser de valor zero.

A realidade do "saneamento" de Juazeiro
O resultado da intransigência de Cid resulta que o saneamento existe só no papel, quando na realidade, entre os municípios no Ceará que é dotado do serviço, poucos funcionam, como por exemplo, o saneamento do município de Juazeiro do Norte e Barbalha.

Você ainda duvida que o Estado é Burguês?

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