Quando, do espaço, Yuri Gagarin, como num êxtase, exclamou a terra é azul, fez-nos lembrar que a água cobre 70% da terra. Apenas 2,4% é doce, sendo de fácil acesso apenas 1%, suficiente para atender às necessidade de todas as pessoas que habitam esse planeta azul.
Tradicionalmente, fomos nós, mulheres, que providenciamos água para sustento das famílias. O agro-negócio, além de concentrar ainda mais a terra, e portanto dificultar o acesso pela população às fontes de água, tem promovido desperdícios e contaminações por fertilizantes e agrotóxicos. Mulheres são mais penalizadas, condenadas a buscar água cada vez mais escassa e distante. Conheci várias mulheres que não puderam se alfabetizar porque eram obrigadas, desde a infância, a buscar água a largas distâncias.
Para produzir uma tonelada de soja gasta-se mil toneladas de água. Estamos, pois, exportando água em forma de grão. Em 5 ou 6 anos se obtém o retorno dos investimentos no plantio de eucalipto, mas o solo leva 40 anos para se restabelecer. Os acelerados ciclos de plantio, corte e replantio, produzem forte desequilíbrio hídrico que Augusto Ruschi (ambientalista capixaba) chamou "deserto verde”: secam as fontes de água. É originário da Austrália onde, seu cultivo é proibido.
Estamos assistindo, quase impotentes, a secas inusitadas (a maior, na Amazônia, em mais de um século) de um lado e, à inundações igualmente assustadoras, em outras regiões. Não se depreda a natureza impunemente: continua-se poluindo despreocupadamente.
A transposição do Rio São Francisco, cogitada desde a época do império, favorecerá principalmente a indústria de alumínio, a irrigação da fruticultura, e outras monoculturas voltadas à exportação. A população terá cada vez menos acesso à água e já está perdendo suas lavouras de subsistência. Fala-se sobre a escassez de água, para não enfocar a questão central: os interesses do agronegócio exportador (de carne, soja, celulose, etanol, açúcar, laranja, banana, manga, abacaxi, melão ...) que usa 70% da água para irrigação e outras atividades, ameaçando o direito à vida de ampla parcela da população. A mesma Monsanto que controla cerca de 90% das sementes, produtor do "agente laranja” (lançado no Vietnã e, agora, na soja do Mato Grosso do Sul), contamina nossos mananciais e se alia à Blackwater para fazer espionagens e inventar guerras.
De 24 a 29 de janeiro, o mundo se volta para Porto Alegre, para o Fórum Social Temático que tem como tema: Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental. Será como uma preparação para cúpula dos Povos em Defesa dos Bens Comuns (paralela à Rio+20) que ocorrerá de 15 a 23 de junho, no Rio de Janeiro. Lá estaremos.
Para preservar a possibilidade de vida é necessário que o uso prioritário da água seja para o abastecimento das populações. ÁGUA NÃO SE VENDE, NÃO É MERCADORIA!
Iolanda Toshie Ide
Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulheres de Lins (SP) e Professora aposentada da UNESP e Militante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM)
Nenhum comentário:
Postar um comentário