mina de ouro a céu aberto da mineradora canadense em Paracatu
Por Sergio U. Dani, de Heidelberg, Alemanha, 17 de maio de 2012.
Estudo financiado pela Kinross Gold Corporation (NYSE:KGC; TSX: K) e realizado por uma equipe da Universidade de Lavras fornece novas evidências sobre a gravidade da contaminacao ambiental causada pelas atividades da própria empresa em Paracatu (1).
Estudo financiado pela Kinross Gold Corporation (NYSE:KGC; TSX: K) e realizado por uma equipe da Universidade de Lavras fornece novas evidências sobre a gravidade da contaminacao ambiental causada pelas atividades da própria empresa em Paracatu (1).
Os pesquisadores colheram amostras de solos em vários locais da mina de
ouro a céu aberto da mineradora canadense em Paracatu. A quantidade de arsênio
total nessas amostras variou entre menos de 18mg/kg nos solos da Reserva do
Mundeu e 2666mg/kg na barragem de rejeitos.
A concentração de arsênio total na barragem de rejeitos variou entre
1065mg/kg e 2666mg/kg, uma das mais altas concentrações de arsênio em solos
jamais reportadas na literatura científica. Em seguida, os cientistas trataram
as amostras de solo com soluções químicas que reproduzem as condições
prevalentes no trato gastrointestinal de uma pessoa.
A quantidade de arsênio solúvel liberada após esse tratamento
representa, conforme explicam os pesquisadores, a fração bioaccessível, ou
seja, a fração do arsênio total contido na amostra que seria absorvida de fato
por uma pessoa se ela ingerisse a amostra.
Os valores médios de arsênio bioaccessível nas amostras de solo variaram
entre 5mg/kg e 79mg/kg, exceto nos solos intocados da Reserva do Mundeu, cujos
valores estavam abaixo do limite de detecção. Quando esses valores de arsênio
bioaccessível foram lançados em proporção aos respectivos valores de arsênio
total, a porcentagem média de arsênio bioacessível variou entre indetectável na
Reserva do Mundeu e 4,2% na barragem de rejeitos. Os valores de arsênio total e
bioaccessível foram menores na porção mais superficial do solo (0-2cm), quando
comparados aos da porção mais profunda (2-10cm). Os autores do estudo não
explicam a razão deste fenômeno que pode estar relacionado à lixiviação do
arsênio para a profundidade, e também à perda de arsênio para a atmosfera pelos
processos de oxidação, pulverização e gaseificação, não analisados no presente
estudo. Valores de arsênio para a porção mais profunda da barragem de rejeitos não
foram fornecidos pelos autores do estudo. Os autores estimaram o valor de uma
dose de exposição diária num período de 182dias/ano (equivalente a 12
horas/dia) para uma criança pesando 15kg que ingerisse 100mg de solo
contaminado por dia. Os valores variaram entre 0,022 microgramas de arsênio por
kilograma de peso corporal por dia (ug/kg/d) e 0,381 ug/kg/d. Esses resultados
foram comparados com o limite máximo provisório de 0,3ug/kg/d sugerido pela
ATSDR (2) acima do qual efeitos tóxicos são verificados. Para a maioria dos
solos analisados, os autores do estudo concluíram que o risco de intoxicação é
baixo. Para o material depositado na barragem de rejeitos, o risco é alto.
Considerando a massa de rejeitos atual em torno de 300 milhões de
toneladas e a massa final de 1 bilhão de toneladas daqui a 30 anos, os dados
desse estudo revelam perspectivas sombrias. Atualmente, a quantidade de arsênio
total depositada na barragem de rejeitos da Kinross em Paracatu é estimada
entre 319500-799800toneladas, e a fração bioaccessível entre
13419-33591toneladas. Daqui a 30 anos, se a mineração continuar no mesmo ritmo,
a quantidade bioaccessível será da ordem de 44730-111972toneladas. Trocando em
miúdos, o arsênio bioaccessível da Kinross em Paracatu é suficiente para matar
entre 93,9 bilhões e 780bilhoes de pessoas adultas, ou um número certamente
maior de crianças (3). A genocida Kinross vai argumentar que nem todo esse
arsênio bioaccessível está biodisponível, e terá a nossa concordância. Vamos imaginar
então que apenas 0,1% de todo esse veneno esteja biodisponível na forma sólida,
gasosa, ou nos líquidos venenosos que vertem 24 horas por dia da mina da
Kinross para a bacia do Rio São Francisco e desemboca na cadeia alimentar, nos
nossos corpos e no mar. Nesse nível de 0,1%, serão entre 93,9 milhões e
780milhoes de pessoas mortas, direta ou indiretamente, o maior genocídio da
história da humanidade. Mas, nem todas as pessoas contaminadas apresentarão
sinais de intoxicação, dirão os genocidas.
Sou novamente forcado a concordar, e a corrigi-los uma vez mais: como não
existe dose segura para uma substância cancerígena como o arsênio, toda a população
do planeta Terra será, cedo ou tarde, afetada pela arma mortífera da Kinross.
Referências:
(1) Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R,
Bundschuh J. 2011. Arsenic
bioaccessibility in a gold mining area: a health risk assessment for children.
Environ Geochem Health. 2011 Dec 18. [Epub ahead of print]. Source:
Department of Soil Science, Federal University of Lavras, CP 3037, Campus UFLA,
Lavras, MG, 37200-000, Brazil, onofabiob@gmail.com.
(2) Agency
for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR). 2009. Minimal Risk Levels
(MRLs). Accessed September 25, 2010 from http://atsdr.cdc.gov/cercla/07list.html.
(3) Um grama de arsênio accessível é suficiente para matar 7 pessoas
adultas. Quantidades muito menores ao longo do tempo de vida de uma pessoa
causam câncer, diabetes, hipertensão, doença de pele, doença renal e doença de
Alzheimer, entre outras.
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Dr.med. D.Sc. Sergio U. Dani
Heidelberg, Germany
Tel. +49 15-226-453-423
srgdani@gmail.com
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