Carta aos estudantes de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia


Catiuscia Carvalho Silva Fraga, estudante de Pedagogia, Professora estagiária de Escola Municipal e voluntária no Programa de Apoio à Permanência do Estudante com Deficiência Visual da UFBA

Ao pensar sobre a greve dos professores da UFBA me lembrei do processo escravocrata vivido no Brasil. O processo de abolição, sem nenhum tipo de planejamento ou respeito pelos nossos ancestrais negros, jogou pessoas na sociedade brasileira com poucas condições de levar uma vida digna. Mas o que isso tem a ver com o REUNI? Para mim, tudo! O REUNI é um convite feito a alunos que sofreram com a precarização do ensino público e que são depositados na universidade sem nenhum tipo de planejamento, sem estrutura adequada, sem assistência estudantil e sem a contratação de novos professores. Com esta cara de processo abolicionista da contemporaneidade promete curso superior, mas nega informações e possibilidades de uma formação de qualidade. Tudo bem, você é pobre, mas ao final do curso terá um diploma, caso você consiga sobreviver e mesmo que você saia com a sensação de que não está preparad@. Mas que bobagem, você já vive com esta sensação de não ter sido bem preparad@ pelas escolas públicas em que estudou.  
Que tipo de formação ou DEformação poderemos ter numa universidade que fala de inclusão, mas é cheia de barreiras arquitetônicas e informacionais? Como @s noss@s coleg@s cadeirantes e com deficiência visual se locomovem na UFBA? Vende os seus olhos e tente chegar na sua sala sozinh@.
Como estudante de Pedagogia posso falar sobre esta e demais angústias que vivo na FACED. Por conta das obras vejo meus professores travarem inúmeras disputas contra furadeiras e marteladas. Nós, estudantes, apenas olhamos, pois ouvir já não é mais possível.
As indicações bibliográficas são disputadas numa biblioteca escassa e que faz de tudo para nos expulsar de lá. Voltando para @ noss@ colega que não é vidente, me revolto em saber que não encontrará na biblioteca um simples programinha que pode ser instalado em qualquer computador, e que com um sintetizador de voz torna acessível todas as informações da tela. Já @ noss@ coleg@ que utiliza cadeira de rodas nem poderá chegar à biblioteca, pois não temos rampas nem elevadores. É isso que chamamos de inclusão?
O ambiente físico da FACED é medonho e mais se assemelha a um hospital. Por que não podemos ter um uma universidade que facilite o processo criativo? Quero uma universidade grafitada, que traduza os nossos sentimentos, a nossa ancestralidade, o nosso swing, o nosso dendê misturado com mandioca ... a nossa realidade! Esta universidade cinza não me representa.
O curso de Medicina e Veterinária possuem hospitais que atendem a cidade e que contribuem para o processo formativo dos estudantes. E nós, da FACED, por que não temos uma escola/colégio de aplicação? Que tipo de formação temos se não dialogamos com os espaços públicos de ensino de forma adequada? Visitinhas na escola disfarçadas de pesquisas não são suficientes para uma formação de qualidade. Invadir escolas para culpar os professores sem conhecer a sua prática anual é ser algoz de si mesmo, pois logo mais seremos os novos ratos de pesquisas.
A UFBA tem sido um espaço de exclusão, onde poucos estudantes recebem uma bolsa por participarem de projetos e enriquecem a sua formação. E os alunos que não conseguem se envolver nos programas vão complementar a sua formação decadente de que forma? Já sabemos o resultado dessa prática exclusivista: alunos que se formam cheios de teorias, mas despreparados para realizar suas atividades práticas.
A universidade conta com um Restaurante Universitário com filas exaustivas para atender a todas as unidades. Estudamos a manhã inteira (Pedagogia) e antes de irmos para os nossos estágios precisamos enfrentar uma fila de 1 hora, em pé, com fome e angustiad@s com os horários que precisamos cumprir. Deveria ter um atendimento psicológico no R.U., pois haja habilidade emocional para suportar estas condições.
Sou solidária a greve dos professores. Mas acho que antes deles, nós, estudantes, deveríamos ter nos mobilizado e deflagrado uma GREVE ESTUDANTIL. A universidade é a nossa possibilidade de ingressar no mercado de trabalho com segurança e competência, mas a pedagoga que nunca assumiu uma turma no Ensino Fundamental poderá se formar e se sentir preparada?
Convido minhas colegas e meus colegas para levantarmos a nossa própria pauta de reivindicações. Precisamos solicitar aos nossos professores que incluam as nossas exigências nas suas reivindicações. E o mais importante, que possamos fazer parte desta luta sem recuos por conta de migalhas que possam ser oferecidas. GREVE ESTUDANTIL JÁ!

Catiuscia Carvalho Silva Fraga, estudante de Pedagogia, Professora estagiária de Escola Municipal e voluntária no Programa de Apoio à Permanência do Estudante com Deficiência Visual da UFBA. 

Um comentário:

  1. Essa é a Katy que tive o prazer de conhecer! Salve, Salve! Vamos à luta contra esse sistema hipócrita. Greve estudantil, já!

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