Por Lorena de Araujo Melo
Em que lugar foram pensadas estratégias pelo
exército para acolher a comunidade frequentadora da Ilha do Fogo?
Enquanto se desenrola as matérias
jornalísticas acerca da ocupação da Ilha do Fogo pelo Exército Brasileiro-72º Batalhão de Infantaria Motorizado sediado em Petrolina, vai se traçando um outro sentimento
distinto daquele que não aparece nas noticias e decisões institucionais.
Este sentimento, é, em particular, uma experiência de pertencimento do lugar vivenciada dentro de uma
trajetória de vida, minha, e de tantos outros Amigos da Ilha do Fogo que ali se
encontram diàriamente, à aproximadamente três décadas. Busca-se nesses encontros além das práticas
desportistas à articulação de uma rede de relações sociais e estratégias pela revitalização
do rio, a defesa de suas águas e do ambiente.
O percurso da nossa existência na Ilha do Fogo pôde
expressar, através de vários encontros os mais profundos sentimentos de bem
estar, cuidados e afetos que foram se intensificando à dinâmica da vida dos Amigos
da Ilha - banhados pelas águas do Rio São Francisco.
Todos esses motivos reúnem-se ao se materializarem as ações
educativas que foram realizadas a aproximadamente 30 anos, o que nos credencia
para ter a ilha do fogo como nossa segunda casa.
O pertencimento da Ilha do Fogo fez-se das inúmeras
práticas desportistas, como natação, peteca e ações de preservação e pôde
traçar os fios de uma relação de cuidado e amizade constituídos pelo amor a
natureza e ao Rio São Francisco.
A explosão da notícia
de ocupação pelo exército e as afirmações
do Comandante James Corlet dos Santos- em que não vai permitir o acesso de civis a nenhum local da ilha
e que a mesma será transformada em Centro de Treinamento Militar, da forma como estão sendo feitas, escapam indagações a propósito da
expulsão das comunidades banhistas de Juazeiro e Petrolina.
Em que as diferenças de
tratamento voltadas para as operações militares, a política das estratégias
militares do exército seriam mais reveladoras na ocupação da “casa dos outros” do que a complexidade
da existência das pessoas que frequentam a ilha? Que intenções surgem nesse processo de
territorialização?
Indagações semelhantes surgem para problematizar
a ocupação já realizada pelo exercito do outro da ilha -base fluvial- remetendo
todavia, ao desenrolar do sentimento de violação que nos arremessam para fora de
um lugar que é nosso para abrigar espaços físicos, administrado sem a presença
de um movimento vivo, sustentados
a base do cadeado.
Vale refletir que
escolha de frequentar Ilha do Fogo surgiu da espontaneidade e do exercício livre
de cidadania. Diferentemente de uma condição imposta institucionalmente, pela
justiça federal de Pernambuco, e que certamente, está desconsiderando a
implicação social e o dissabor que esta apropriação vai causar a população
frequentadora, que tem a ilha como um lugar de fácil acesso ao lazer e intensos
encontros.
Ao lado de todos os
sentimentos elencados vamos nos remeter a Geraldo Azevedo quando canta: “Meu
barco é meu coração que vai sem mágoas, nas águas desta paixão até o cais” ...
Portanto queremos
reafirmar que temos um compromisso histórico com a vida do rio da integração
nacional e que foram construídos ao longo dos anos, numa distribuição equitativa
de afetos e cuidados, e são percorridos pela singularidade dos Amigos que não
pedem nada, a não ser viver a intimidade da Ilha do Fogo com o acesso livre a toda
comunidade, embunitecendo cada vez mais a luxuosa paisagem viva da ilha, sem imposições e operações
militares.
Defendemos o LIVRE ACESSO A ILHA DO FOGO a qualquer pessoa que tenha vontade de lá tomar banho e apreciar a paisagem!
ResponderExcluirExistem vários interesses na ilha, o nosso que frequentamos para uso exclusivo de banho e pratica de esporte é o LIVRE ACESSO A ILHA, não só das pessoas da classe média, como eu, mas principalmente para aqueles que não tem condições de irem ao rodeadouro e vão a pé com suas crianças nos finais de semana usufruir de um lazer gratuito e MARAVILHOSO.
Respeitamos o papel do Exército, mas não gostaríamos de perder o direito a ilha porque o poder público não conseguiu resolver os problemas de segurança pública, de saúde e ambientais.
Não estamos tentando incobrir a realidade, mas também o povo não pode ser punido por algo que não é da sua responsabilidade.